Domingo

A semana que vai começar é crucial para o desfecho deste conflito entre os professores e a tutela. Não apenas a manifestação de dia 14, mas toda a semana, no sentido de puxar a opinião pública definitivamente para o lado dos professores, o que se torna mais simples se a mensagem transmitida for objectiva, concentrada nos pontos de pressão e não se dispersar em modo “lista de supermercado”. Percebo que quando se levanta a tampa de uma panela longamente aquecida e a ferver, o vapor tende a sair todo, mas o outro lado da coisa é uma descompressão demasiado rápida. E há que fazer a coisa mais em modo de fogão a lenha, com paciência e concentrando os esforços.

Até porque é necessário compreender que haverá reacção do outro lado, passando a mesma por activar os seus nichos específicos. Por Gaia, já aparecem a dizer que existe uma “revolta muito grande por parte dos pais contra os professores”, o que a partir do terreno dizem-me ser um manifesto exagero. Curiosamente, estes “pais” não dirigem as suas exigências para a autarquia, que é a directa responsável pela gestão do pré e do 1º ciclo. Se querem que as escolas se mantenham abertas, parecia-me mais razoável que certos “pais” se dirigissem à câmara de Gaia, mas como todos acabam por ter os mesmos manda-chuvas, não ficaria bem, pelo que tentam entalar os directores.

Adicionalmente, há que ter em conta que há “penduras”, “adesivos” de ocasião á causa dos professores, que aparecem agora, mas desaparecerão depressa, se a maré der sinais de abrandar. Mesmo se nos Açores houve uma solução de “direita” que fez recuperar todo o tempo de serviço aos docentes e eliminou os travões à progressão, há que perceber que pelo continente essa aliança improvável não existe e, pior, não tem o mesmo tipo de prioridades. Basta ler alguém como o observador Homem Cristo (antigo assessor do grupo parlamentar do CDS, mas que se move bem entre o PSD e a IL), para perceber que já está em marcha a tentativa de fazer confundir a insatisfação dos professores com a acção “errada” dos sindicatos, na manobra costumeira de desinformação, com que alguns (em busca de um artiguito lá no estaminé, pensando que é sinal de “pluralismo”) acabam por colaborar. Ao dizer que os sindicatos “não têm razão”, o alegado “investigador” (as aspas resultam do facto de um investigador sem elas ter obrigação de perceber que a contestação não parte das cúpulas, mas dos professores), mais não faz do que explicar qual a posição da área política que apoia (repito, no cruzamento do PSD, IL e CDS) quando chegar ao poder. Não vale a pena, mesmo, acreditar que se replicaria por cá o que se passou na Madeira e Açores, se este “arco” chegasse à governação. Quanto ao Chega, mais o seu putativo movimento sindical, dificilmente se sentiria atraído por uma contestação que encarará como “esquerdista”.

Por isso, há que estar preparado para a investida de spin do PS/Governo (aquela de 9 em 10 alunos acabarem o Básico sem chumbar, mais não foi do que uma táctica de desviar atenções e tentativa de apresentação de “obra feita”) e para a hipocrisia dos que aparecem, com ar compungido, a dar fortuitas palmadinhas nas costas, só porque se está a moer o Governo (o Marques Mendes não é caso único).

Por tudo isto, é importante não alienar ou confundir a opinião pública, produzindo prosas que só quem está convertido entende, porque para fora ou se tem tempo para explicar a palermice que é a aplicação acrítica do “maia” ou nem vale muito a pena falar nisso. É mais eficaz mostrar o que certas grelhas demonstram de uma evidente retenção @n@l de quem rejubila com a sua criação, adaptação ou aplicação, sem qualquer ganho real para as aprendizagens dos alunos.

A grelha que se segue foi colhida no mural do Ricardo Pereira, mas já vi coisa pior, só que não quero comprometer quem a teve de preencher. Isto simboliza a total desumanização da Educação. E é verdade que é também contra isto que estamos, mas há que estabelecer algumas prioridades.

30 opiniões sobre “Domingo

      1. Depois, chegam à faculdade e é uma catástrofe. Ainda ontem vi uma pauta de um curso do 1.° ano da área da Economia que era catastrófica. No total, era pauta de entre 50 a 60 alunos e mais de metade teve menos de 10, havendo dezenas abaixo de 5 e inúmeras faltas à frequência.

        A talhe de foice, embora seja matéria para outro pasto, o ensino nalguns cursos e nalgumas universidades é outra comédia. Por exemplo, há um corte de eletricidade ou de internet, logo não há PowerPoint, pelo que não há aula.

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  1. 1 – Horários dos professores contratados e sua vinculação.
    2 – Acabar com os travões à progressão na carreira (para mim, o nosso grande grilhão).
    3 – Desburocratização.
    4 – Gestão democrática.

    Quando os jornalistas perguntam sobre municipalização (coisa que caiu sem nunca ter estado de pé), devemos responder que não queremos que as escolas se transformem em feudos atribuídos aos vassalos das câmaras, das direções ou dos partidos (sem perder mais tempo).

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    1. «Quando os jornalistas perguntam sobre municipalização (coisa que caiu sem nunca ter estado de pé), devemos responder que não queremos que as escolas se transformem em feudos atribuídos aos vassalos das câmaras, das direções ou dos partidos (sem perder mais tempo).»
      Gostei da resposta que uma colega deu a essa questão. A la Churchill, disse mais ou menos que a seriação com os critérios atuais tem defeitos mas é a mais imparcial de todas. Os portugueses sabem o que isso quer dizer… conhecem a rapaziada da p’litka que elegem…

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    2. Nessa lista de 4 pontos, eu faria 2 pequenas (mas de grande relevância) alterações:

      1. Horários dos professores. (não só os dos contratados, mas todos… como todos sabem, os nossos horários são completamente desregulados e muito por conta do excesso de burocracia. Portanto, este ponto permitiria eliminar o ponto 3)

      3. Recuperação do tempo de serviço roubado (como a desburocratização facilmente se inclui no ponto 1., tomei a liberdade de introduzir este ponto, que me parece ser de enorme importância também)

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  2. Concordo e também me parece que seria de fazer chegar uma “nota informativa” ao João Miguel Tavares que no último Governo Sombra (que agora se chama Programa cujo nome estamos legalmente impedidos de dizer) falou sobre a contestação dos professores, tecendo grande elogios à municipalização como panaceia para a estabilização do corpo docente nas escolas. Convinha que quem vê o programa tivesse acesso a outro tipo de argumentos. Não sei se a ideologia liberal o deixará escutá-los, mas deveria de chegar algo às pessoas, nem que fosse ao abrigo do direito de resposta.
    Deixo a ideia para alguém com engenho e arte para tal.

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    1. Também vi e não gostei. Ainda por cima fala de um assunto importante como se fosse a conversa com os amigos entre uns gins, sim que não deve beber minis como os zecos.
      Mandei-lhe uma mensagem para o facebook, mas não espero resposta.
      Aparece lá a indicação que o Paulo é “amigo” dele. Talvez consiga ter mais influcência 😀

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  3. Como é possível elaborarem esta grelha? O diretor desta escola é um Pol Pot do ensino. Denunciem esta gente aos jornais. Como é possível haver uma avaliação objetiva com uma grelha destas?
    Parem com o projeto Maia!!!
    O conselho Pedagógico desta escola são colaboradores desta mediocridade.

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    1. ÀS vezes fico estupefacta com a reacção de colegas ao que “anda” por aí, de grelhas e não só. Mas eu trabalho em Gaia, segundo o Paulo já explica metade…. 🙂 Estas grelhas , com 7 9 11 turmas preenchem-se porque se têm de preencher. E, das duas uma, ou pelo norte andámos há muito em alucinações destas ( já houve outras que caíram em desuso) e somos parvos, ou noutras terras ( lembro-me de um concelho para os lados do Entroncamento onde nem as conheciam, não usavam, e eu tinha de ouvir o quanto estavam todos os colegas muito, muito cansados com a difícil tarefa de dar aulas a alunos de excelência que todos os anos vão 7 ou 8 para Medicina, 9ou10 para o Técnico, fora do de Jornalismo, Psicologia, etc. Foi há dez anos e aquela gente não tinha ideia do que era a indisciplina, o trabalhar por metas mínimas, preencher grelhas.. etc. fez-me lembrar quando eu tinha começado no ensino 20 anos antes.
      Hoje já têm grelhas, e têm a sorte de os responsáveis de os avaliarem serem gente honesta, que tenta fazer o seu melhor. A mim, sempre me disseram que eu exagerava. Hoje sei que algumas destas grelhas também já por lá andam, aladas.
      Mas ainda há quem seja virgem nestas coisas e que nem cumpra a parte não lectiva, vai embora, os horários estão feitos assim. e queixam-se do imenso trabalho. Claro que quando eu for grande quero é ter uma escolinha assim… mas é complicado por várias razões.

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  4. “Portugal subiu um lugar no Índice de Perceção da Corrupção de 2021, publicado pela Transparency International, e ocupa agora a 32.ª classificação. Com 62 pontos, volta a igualar a posição registada em 2019 e continua abaixo dos valores médios da União Europeia (64 pontos) e da Europa Ocidental e da União Europeia (66 pontos).”
    Agora imaginem o que será uma autarquia a selecionar professores por perfil?

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  5. Algo que tenho vindo a constatar: o inclusivo rodrigues, a cosmética e o próprio sonso, sempre tão ativos nas suas páginas das redes sociais com postagens a propósito do que está na ordem do dia em termos de educação, estão a fingir que ainda não repararam naquilo que se está a passar pelas escolas. Caladinhos que nem ratos, ou não o fossem, efetivamente.

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    1. Nada estranho. O inclusivo Rodrigues é um PS ferrenho, apoia João Costa em tudo (deve sonhar substitui-lo). Além do mais só engana quem quer. Vaidoso, amante do palco das luzes, seduz com o seu canto de sereia as nossas colegas de educação especial com pinta. Não tem nada sobre a manifestação de docentes, não emitiu qualquer juízo sobre a mesma, porque sempre foi óbvio o lado em que se encontra (não o dos professores, não a promoção do bem comum que é a educação, mas o seu e a ascensão a estrela do sistema mais deformado que já tivemos). Quem não conhecer a peça que o compre!

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  6. Desde a criação do PDM que tudo se prepara para a passagem das competências do ME para as Autarquias, nomeadamente passar os Docentes as mesmas.
    Como o Professor jubilado da Universidade do Minho no programa Sociedade Civil de outubro ou novembro de 2022 comunicou e parafraseando “Os autarcas não mandam nada, apenas têm de se cingir ao que o governo emana”. Como sabemos, os autarcas são meros funcionários públicos ao serviço dos munícipes. Boa reflexão. 💪

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    1. Não me parece que estejam a ser esquecidos.
      Falo em causa própria, mas em 4 minutos (o vídeo não foi colocado online ontem) comecei e acabei com as condições de trabalho dos ditos e esse deve ser uma das 3-4 linhas vermelhas nas negociações.

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  7. É uma ilusão julgar que podemos pôr a opinião pública favorável aos argumentos dos professores. Basta passar por um café, um centro de saúde, um supermercado, ouvir comentários sobre a situação e perceber até que ponto o ressentimento social e o preconceito é pervasivo.

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      1. Gostava de acreditar que é possível, mas o meu pessimismo é total. No entanto, acho que devemos fazer o que o Guinote diz. (De resto, se não defendesse causas perdidas, como poderia continuar a ser professor?)

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