Domingo

Mais uma vez acima das expectativas, incluindo as minhas, a manifestação de professores e comunidades educativas (vamos colocar a coisa assim), que voltou a inundar Lisboa. Um novo protesto, ordeiro, de máximo civismo, contra a mínima seriedade do ministério minúsculo da educação e do governo no qual se integra, que tenta negociar com a opinião pública cedências inexistentes. O desenho novo dos quadros de zona pedagógica não muda as vagas de local, nem os contratados de domicílio; quanto muito aplica-se a uma pequena parte dos docentes colocados nesse modo de vinculação que, pelos vistos, também poderá ser a nova forma de vida dos professores do quadro de escola ou agrupamento. As vagas que se dizem ter aumentado para a transição entre escalões são uma mistificação, por muitos editoriais do Público ou JN que possam dizer o contrário (ou quem já sabemos pelo Expresso), por manifesta ignorância daquilo acerca do que escrevem ou falam com muita aparente convicção, mas escassa sabedoria sobre o assunto. Percebe-se que o assanhamento é especialmente notório com os professores que já se encontram na carreira, para além do 6º escalão, que se apontam como sendo não sei quantos por centro, quando a maioria já lá deveria estar, por idade, tempo de serviço e dedicação aos seus alunos.

A mobilização de ontem, de novo com um enquadramento mínimo em termos de organização formal e um máximo de empenhamento pessoal e de grupo deveria fazer pensar aos políticos de época de saldos que temos e a alguns jornalistas que deveriam assumir o seu lugar e não dos opinadores que contratam (já que em relação a muitos destes, é escusada qualquer esperança que vejam além da sua estreita trincheira), que é muito provável que tanta gente não esteja errada nas suas queixas e nas suas aspirações, que estão longe das de receberem 4500 mensais durante ano e meio depois de esgotada a sua missão ou uma qualquer indeminização ao fim de poucos anos de serviço de qualidade sem verdadeira avaliação de desempenho. Seria tempo de reconsiderarem as suas certezas, nascidas de um qualquer trauma ou preconceito original, em especial quem diz que até deu aulas, lá pelos anos 80 ou 90, quando terão contribuído mais para abandalhar as coisas do que para as moralizar, agora que se tornaram moralistas em causa alheia.

Se o cansaço ainda não chegou, apesar da forma dilatória como a tutela trata estas negociações, como se fosse coisa para estender até aos limites do tempo disponível, é porque a desafeição, o desagrado e mesmo a fúria ultrapassam o eventual desânimo. O que faz pensar que, renascidos alguns e acalmadas as fricções entre outros, no dia 11 as coisas ganhem uma proporção tal, que só mesmo um completo descolamento da realidade do primeiro costa e do presidente marcelo, pode justificar a manutenção de posições irredutíveis em matérias como as quotas na avaliação do desempenho e a não recuperação, faseada, do tempo de serviço efectivamente prestado.

Não chega dizer que as actuais medidas de recrutamento são melhores, porque o que está em causa é o funcionamento diário das escolas, as condições de trabalho que existem para todos, uma carreira sempre vulnerável a portas que se abrem, dizendo que “este governo não fará isso”, quando sabemos pelos últimos 20 anos que, estando a chave na porta, há sempre quem a consiga escancarar.

O ministro Costa confundiu os seus périplos vip pelo país e pelas escolas, as conversas de circunstâncias controladas previamente pelos seus agentes no terreno, com uma verdadeira adesão às suas políticas de alegada inclusão (já repararam que, tal como previ há anos, o doutor rodrigues já foi medalhado pelo PR?) e de mistificadora promoção do sucesso escolar (louvor feito a um e colocado outro no CNE, ainda há tenças disponíveis para a geração mais nova de cortesã(o)s), com uma verdadeira adoração pela maioria da classe docente.

Deveria compreender que ninguém se levanta de noitinha de Trás-os-Montes, para vir de novo para Lisboa, com um sorriso nos lábios, porque é o shôr ministro que está certo e é a “melhor pessoa para negociar”. Não, o ministro Costa esgotou o seu prazo de validade, mas, mais importante, as políticas que desenvolveu ou adaptou do passado estão gastas e desgastam-nos. Ele é – por muitos porfírios que por aí digam o contrário – neste momento quem demonstra piores capacidades de negociação com os professores, porque está mais interessado em colocar a senhora da confap a dizer coisas atabalhoadas, desde que fale em serviços mínimos, ou o pai da abelha a elogiar o seu discípulo.

Por favor, ministro Costa, vá para Paris, coordenar qualquer coisa importante, venha cá recolher a sua medalha daqui por uns anos, mas deixe-nos em paz, sem designar sucessor à sua imagem.

(fotos de Rui Feliciano)

14 opiniões sobre “Domingo

  1. Mário Nogueira na tsf, a fenprof tem atualmente 50 mil associados!!!!!!
    Ou MENTE com quantos dentes tem, ou 50% dos professores estão loucos!!!!
    A conclusão é óbvia.
    Nota final, um presidente que até vai cumprimentar um transeunte aos pastéis de Belém, recusa-se a receber uma Delegação dos 100 000 professores que tem à porta. LAMENTÁVEL, VERGONHOSO.

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  2. Lendo este texto, só continua enganado quem quer, mas quanto a esses, só quando lhes for conveniente verão a luz.
    Entretanto, por Viseu, Costa 1.º foi “recebido” por oficiais de justiça e professores em protesto. Como esse protesto (dos professores) não tinha sido comunicado às forças policiais, teria de ser silencioso ou todos seriam identificados se começassem a manifestar-se ou a gritar, palavra de PSP, repórter dixit.
    Santana Castilho também fez a sua parte a denunciar e deslindar o papel dos que nos governam no estado da educação e a teia de mistificações das propostas que o ME apresentou.

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  3. Importa sublinhar com veemência que no fundo, toda esta guerra seria completamente inútil e desnecessária, não fosse a cegueira lamentável que a tutela insiste em prosseguir (e os alunos que se lixem). Os docentes são pessoas pacíficas e de bem. Apenas querem melhores condições para trabalhar em paz e dedicar-se a um ensino de qualidade. Mas quando o poder declara guerra à classe, aí salta-nos a tampa, pois há limites para tudo e esses limites já foram ultrapassados.

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  4. Claro : )

    As novas dezenas de QZP representam algo de absolutamente extraordinário.
    Os tais professores exilados a 200 quilómetros de casa, colocados em QZP gigantes, vão passar a estar colocados, segura e definitivamente, em mini QZP ou em QE/A, a 200 quilómetros de casa.
    A nova geografia dos QZP vai aumentar substancialmente o número de escolas e de vagas para professores. Não bastasse isso, vai também reduzir imenso a dimensão do país.

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  5. O desprezo que este governo demonstra pelos alunos está bem patente na falta de pressa, digo, na recusa em resolver os problemas. Numa qualquer empresa a sério, enquanto não estivesse tudo resolvido não saía ninguém da sala de negociações.
    Aqui assobiam para o ar.

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  6. Surreal: o diretor Filinto Lima função que exerce em acumulação com a de autarca de Oliveira do Douro é a favor dos serviços mínimos. Os líderes socialistas são fantásticos.

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