Por aqueles dias eram muitas as distrações para os aprendizes. Qualquer esvoaçar de mosca os fazia encetar uma digressão sobre um tema fortuito que era prontamente partilhada com o colega do lado ou divulgada ao público em geral por via eletrónica. A mera insistência, por parte de um professor, na obrigação de concluir uma frase ou prosseguir um raciocínio era considerado como um ato de intimidação. O mundo transformara-se numa permanente distracção.
Nestes pensamentos se espairecia o Coxa quando se ouviram os cascos do Rosmaninho no tabuado da venda.
O burrico entrou no estabelecimento sem que se avistasse a sombra do seu dono. O comerciante fitou-o longamente, como se esperasse que ele lhe explicasse o inusitado da situação. Por fim, reparou no papel dobrado preso no lenço negro que o Rosmaninho, membro honorário do grupo coral Filosofia de Cante, tinha o privilégio de ostentar à volta do pescoço.
Colocou um prato com amendoins em cima do balcão e esperou que o isco atraísse o asninho. Quando o
ícone de Traseiras se abeirou, retirou o papel e leu em voz alta:
— Compadres, os balões são uma tradição chinesa por altura da comemoração do Ano Novo lunar. Se se tratasse de uma ameaça, provavelmente nem a veríamos chegar.
O Rosmanhinho acabou de mastigar o último amendoim e resfolegou mostrando a dentição num sorriso sarcástico. O Coxa dobrou outra vez o papel e voltou a entalar a missiva no lenço. Despediu-se do arauto da boa nova com um “Cumprimentos ao compadre”, quando este já se dirigia para a porta, sem dúvida no fito de se apaparicar com os amendoins do próximo freguês.
O Meu Quintal 
Ó patego olhó balão
Por aqueles dias eram muitas as distrações para os aprendizes. Qualquer esvoaçar de mosca os fazia encetar uma digressão sobre um tema fortuito que era prontamente partilhada com o colega do lado ou divulgada ao público em geral por via eletrónica. A mera insistência, por parte de um professor, na obrigação de concluir uma frase ou prosseguir um raciocínio era considerado como um ato de intimidação. O mundo transformara-se numa permanente distracção.
Nestes pensamentos se espairecia o Coxa quando se ouviram os cascos do Rosmaninho no tabuado da venda.
O burrico entrou no estabelecimento sem que se avistasse a sombra do seu dono. O comerciante fitou-o longamente, como se esperasse que ele lhe explicasse o inusitado da situação. Por fim, reparou no papel dobrado preso no lenço negro que o Rosmaninho, membro honorário do grupo coral Filosofia de Cante, tinha o privilégio de ostentar à volta do pescoço.
Colocou um prato com amendoins em cima do balcão e esperou que o isco atraísse o asninho. Quando o
ícone de Traseiras se abeirou, retirou o papel e leu em voz alta:
— Compadres, os balões são uma tradição chinesa por altura da comemoração do Ano Novo lunar. Se se tratasse de uma ameaça, provavelmente nem a veríamos chegar.
O Rosmanhinho acabou de mastigar o último amendoim e resfolegou mostrando a dentição num sorriso sarcástico. O Coxa dobrou outra vez o papel e voltou a entalar a missiva no lenço. Despediu-se do arauto da boa nova com um “Cumprimentos ao compadre”, quando este já se dirigia para a porta, sem dúvida no fito de se apaparicar com os amendoins do próximo freguês.
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Obrigada por mais um belo bocado de prosa!
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