Sábado

Há coincidências curiosas nas argumentações anti-greves “imprevisíveis” e “atípicas” dos professores, Há coisa de uma semana, um dos vultos (aposentado há uns tempos) do spgl (neste caso, só merece minúsculas) produziu um texto a associar o nascimento e ascensão do S.TO.P. ao movimento COBAS em Itália na segunda metade dos anos 80 do século XX. Para o autor, foi esse movimento basista (COBAS = Comités de Base) que conduziu à degradação das condições da docência naquele país que agora se vivem. Não por acaso, o autor, membro destacado do Partido Socialista, começa o texto com uma espécie de recordação, difusa, mas concreta, indo buscar o título de um programa respeitável de Vitorino Nemésio na RTP da primeira metade dos anos 70.

Em 1988, se bem me lembro, quando me encontrava em Roma a concluir uma investigação, despontou um movimento autodenominado COBAS, iniciais de Comitati di Base (Comités de Base), que lançou uma ofensiva contra os sindicatos de professores italianos

O autor do texto lembra-se mal, porque o COBAS nasceu antes de 1988 (surge, curiosamente, durante o governo do socialista, não muito limpinho, Bettino Craxi) e não tinha como objectivo principal uma ofensiva contra os sindicatos de professores existentes, pois era um movimento de tipo mais global. Ainda no presente, a rede de COBAS abrange sectores muito diferentes, como os transportes, tendo-se fragmentado ao longo das décadas de existência. Mas, para uma retrospectiva sobre o aparecimento do movimento e da sua natureza, nada como recuar a fontes mais rigorosas do que a memória selectiva do autor da prosa acima.

Sim, o movimento COBAS surgiu como movimento de base, com objectivos transversais e mesmo internacionalistas (há COBAS em Espanha, por exemplo, até com um programa bem próximo daquilo que se denuncia na prosa, mas o autor não deve ter passado por Espanha nas suas investigações), mas não restringia a sua acção ao universo da docência e está muito longe de poder ser apontado como principal responsável pela erosão dos direitos dos professores. Aliás, o seu aparecimento surge na sequência de importantes derrotas do movimento sindical italiano, que datam do início da década de 80, para quem não faça uma pesquisa histórica enviesada. O COBAS é uma reacção ao declínio do sindicalismo tradicional, não uma das suas causas. E tem sido este movimento sindical o mais perseguido por parte dos recentes governos italianos, chegando ao extremo de serem presos, com acusações de conspiração devido a greves que nada têm a ver com a Educação.

O que é mais ridículo é que, de forma pouco subtil, este tipo de textos, como o do jornal oficial do spgl, veicula a ideia de que os protestos basistas dos professores representarão uma espécie de aliança com o Chega, quando, na referida Itália, a actual solução governativa é da linhagem ideológica deste partido e manteve a repressão sobre as actividades sindicais menos “previsíveis” dos diferentes sindicatos COBAS.

E é por essa linha de pensamento, se disso se pode falar quando se trata do inefável mstavares, que seguem outros opinadores que diriam mal de qualquer greve de professores, mesmo que ela fosse feita com lançamento de flores (sim, em tempos eu próprio sugeri isso como o J. P. Maia poderá confirmar, quando foi a uma reunião com o pessoal dos movimentos independentes há quase 15 anos) ou com lutas de almofadas. Que mstavares percebe muito pouco de História e conceptualiza ainda pior, já sabemos. Por isso, não é de espantar que na sua sessão semanal de terapia, fala no anarcossindicalismo do STOP, que tanto entusiasma as senhoras professoras. Marialvismo de lado, que o homem está decrépito para mudar de mentalidade tosca, fica a parte do “anarcossindicalismo” que é bastante curiosa na sua ignorância, visto ser André Pestana e mais próximos, confessos marxistas, de tendência trotskista, sendo historicamente complicadas as relações entre marxistas e anarquistas, desde o conflito entre as ideias do próprio Marx e as de Bakunin, com dramáticos efeitos na I Internacional. Claro que não se pode esperar que mstavares consiga, no estado de esclerosamento intelectual a que chegou, perceba que, curiosamente, trotskistas e anarquistas tenham divergências fundas há mais de um século e estejam longe de sanadas. Nem seria preciso referir o episódio da rebelião anti-bolchevique de Kronstadt em que Trostky foi um dos chefes da repressão brutal dos revoltosos “basistas” (o artigo da wikipédia até é bastante razoável) , se não fosse necessário demonstrar que mstavares pode escrever livros de estórias, mas que de História Política percebe pouco. Ou quase nada. E confunde tudo.

(tendo um avô que andou pelas bandas do anarco-sindicalismo, percebe-se para onde irão as minhas simpatias, mesmo sem ser praticante…)

Adenda: há quem perceba a filiação ideológica do André Pestana e queira a solução do problema dos professores, com receio de que apareça por cá um Podemos. Não deixa de ser interessante, embora revele um razoável desconhecimento sobre o carácter transversal do protesto e sobre a sua improvável capitalização em termos de partido político. Mas fica o útil “apelo” ao governo, nem que seja pelas razões erradas.

7 opiniões sobre “Sábado

  1. Já agora, só por mera curiosidade, gostava de saber quem são os tais” próximos” apelidados de marxistas confessos. Para quem está convencido que sabe tudo, a resposta deve ser facilíssima, penso eu, se é que não seja pedir muito.

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    1. Pensava que já tinhas deixado de me chatear o neurónio bom.
      Tu, que dizes saber tudo é que deverias explicar que a origem do S.TO.P. está no MAS, que não me parece formado por liberais.
      Mas acaso consideras ofensiva a expressão “marxistas confessos”.
      O meu pai era.
      E tu?
      És alguma coisa ou apenas um penduricalho?

      Nem és capaz de perceber quando se defende a organização a que pertences?
      Nunca tive grande esperança na tua perspicácia, mas há sempre um novo ponto baixo a alcançar.

      Percebes sequer o que o tipo do spgl está a dar a entender?
      Verdade se diga que há ou houve uma tentação internacionalista, mas ainda bem que a pararam antes de se despistarem no caminho.

      Queres que te faça um desenho ou não foste às aulas de formação política?
      Lê qualquer coisa de útil.
      Amanhã é domingo, experimenta.
      Uma experiência nova faz sempre bem.
      😉

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        1. Náááá… insegurança interna?
          Não.
          Balofa?
          Talvez, sou para o gorducho.

          Eu explico-te: és um bocado chato e revelas ignorância e idiotice.
          E considero um serviço público dizer-te isso.
          E que, de forma evidente, só embaraças quem dizes representar.

          Chega-te ou queres mais tau tau?

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          1. Por aqui continuamos a aprender como uma simples pergunta (não respondida) origina uma verborreia violenta e absurda. Há manifestamente qq coisa a funcionar mal naqueles poucos neurónios ainda activos. O que será?

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