Da Iniquidade

Entre os materiais usado para o texto a incluir no JLetras/Educação da próxima semana reencontrei um dos documentos oficiais produzidos em 2019 para justificar o injustificável com base num alegado “racional” e numa “lógica” [sic] que permitiu que umas carreiras recuperassem TODO o tempo de serviço congelado entre 2011 e 2017 e que outros, que tinham já tido outro congelamento, se ficassem por pouco mais de 33 meses.

A quantificação do tempo a reconhecer aos trabalhadores das carreiras especiais da administração pública foi definida com a seguinte lógica: nas carreiras gerais, um módulo padrão de progressão corresponde a 10 pontos que, em regra, são acumulados ao longo de 10 anos. Como tal, os 7 anos de congelamento correspondem a 70% do módulo de progressão de uma carreira geral. É a este peso relativo do congelamento que se recorre para mitigar o impacto nas carreiras essencialmente fundadas no tempo, às quais deverá, por conseguinte, ser aplicado aos módulos padrão de progressão, o racional de 70%.

De facto, as carreiras dos corpos especiais da administração pública têm diferentes módulos de tempo padrão para progressão. No caso dos professores, por exemplo, o módulo de tempo padrão é de 4 anos, pelo que, aplicando o racional dos 70%, se obtém uma recuperação dos 2 anos, 9 meses e 18 dias.

Perante isto, penso que é razoável o que escrevi sobre o assunto e daqui por uns dias se poderá ler de forma mais extensa, explicadinha e “racional”, que é a minha forma de demonstrar a desonestidade (intelectual, mas não só) alheia.

Ou seja, o tempo não foi recuperado de forma absoluta, mas relativa a um referencial específico de cada carreira, ou seja, trataram-se realidades muito diferentes pela mesma bitola, ao contrário do que ainda recentemente se tem afirmado. Por exemplo, nas carreiras em que os escalões têm 10 anos, os 70% corresponderam à recuperação integral dos 7 anos em que para elas existiu “congelamento”, enquanto que no caso dos professores, cuja carreira se estrutura em módulos quase todos de 4 anos, aqueles 70% ficaram reduzidos a 2 anos, 9 meses e 18 dias. Para além de que o cálculo incidiu, de forma explícita apenas nos anos de 2011-2017 e não em todo o período que realmente durou a paragem da contagem de tempo de serviço para a classe docente. Tudo isto foi apresentado publicamente como fazendo sentido e sendo “justo”.

Amanhã, O Ministro Costa Vai A Faro

Uma descrição do que se passa hoje, numa Secundária da cidade. Será que a comitiva tomará um café na pastelaria Arte Caseira?

Programa às escondidas e com alterações à ultima hora, alunos a apanhar lixo, varrer o chão, a limpar cadeiras e a pôr bonito o que não se consegue pôr durante o ano letivo porque não há assistentes operacionais suficientes, assistentes operacionais  a dar um retoques de pintura nos locais onde a comitiva vai passar… Amanhã as aulas serão interrompidas antes da comitiva ministerial chegar e os convites à comunidade educativa interna foram restringidos ao mínimo…

Só Com Datas E Propostas Concretas Em Cima Da Mesa É Que Se Pode Pensar Em Confiar Em Quem Desconfia De Nós

E em gente que mente, chamando mentirosos aos outros.

O ministro da Educação manifestou-se disponível para trabalhar outras matérias relacionadas com os professores, após estar concluído o modelo do recrutamento, cuja versão final deverá ser enviada para os sindicatos na quarta-feira.

3ª Feira

A forma errada de encarar as negociações, incluindo as que ainda não existem, é a de fragmentar reivindicações e ajustar as linhas vermelhas ao interesse pessoal de cada um@ e criticando tudo o que não seja feita à medida de uma contabilidade individual. Assim sendo, eu estar-me-ia nas tintas para o regime de vinculação e concursos, pois só teria algum “interesse” naquela parte dos quadros de escola/agrupamento estarem a um passo de voltarem a ser quadros de qzp. Da mesma forma, sobre a carreira, não teria qualquer interesse na questão das quotas, por já ter saltado as duas barreiras, apesar do meu peso e fraco currículo em provas de pista. Mas o meu envolvimento em tudo isto – com todas as minhas limitações e desafeições pelas modalidades mais festivaleiras – passa por querer que a carreira onde vou passar quatro ou mais décadas da minha vida (ou não…) não fique pior quando dela sair do que quando eu nela entrei.

A ideia não é se eu ganho pessoalmente mais ou menos, mas se o que está em causa é certo ou errado, verdadeiramente “justo” (na acepção que já foi corrente da palavra e não na sua deturpação actual para uso político e consumo mediático). Não me estou a armar em desapegado das coisas materiais, apenas que quando nos resumimos ao “dá cá o meu”, se calhar é porque somos mais vulneráveis a certas seduções. E podemos ficar tentados por robalos à vara. E quando começamos a usar a lógica salazarista do deve/haver das barras de ouro no cofre familiar, ficamos presos a uma mesquinhez que não é nada rara em sociedades pobres, em especial de espírito, mas que nos impede de “voar”, como agora é comum aparecer nos cartazes e pins de manifestações. Damos a imagem de sermos um pouco poucochinhos 😉 .

Aliás, a larga maioria das pessoas que mais se têm dedicado a esta causa, tem feito isso com uma imensa generosidade, a começar por quem vai a todas (ao contrário de mim) e faz centenas de quilómetros para manifestar o seu protesto e exigir respeito. Até agora vi pouca gente preocupada apenas com o seu rosado porquinho mealheiro. Porque, no fundo, quase todos sabemos que é assim que se vai salamizando a resistência. Só que infelizmente, há quem só tenha espelhos em casa. Já nos chegam os jogos florais entre sindicatos.