As Greves Da Plataforma

Pré-avisos de greves ao serviço extraordinário, serviço imposto fora do horário de trabalho, CNLE e último tempo letivo diário

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Preocupação Nula

Entre as 20 profissões que se dizem ameaçadas pelo fenómeno do ChatGPT e pela Inteligência Artificial estão principalmente os professores, com os de História em 4º lugar. Por acaso espanto-me porque acho que isso só acontecerá em quem leccionar no modelo muito modernaço da obsessão digital. Desde que eu tenha os alunos, numa sala de aula, diante de mim, em diálogo, o ChatGPT irá valer-lhes de pouco mais do que da consulta de sites ou boa bibliografia. Lamento, mas só poderá estar mesmo ameaçado quem não tiver em si aquela pitada de humano anacronismo que mesmo no caso de um fã antigo de boa ficção científica ainda torna discernível a humanidade do automatismo, por muito perfeito que pareça a quem só joga xadrez de acordo com as regras do manuais.

Adicionalmente, tenho tentado não gozar com quem parece ter ficado “apanhadinho” por fazer perguntas ao “coiso” e depois ficar a ler as respostas, para avaliar se sim ou sopas. Há quem se queixe de muito trabalho e falta de tempo, mas olhando daqui, parece que há tempo de sobra para repetidas diletâncias. Se é o futuro? É possível, mas garanto-vos que a imperfeição das minhas aulas será sempre mais divertida do que o saber instantâneo do algoritmo.

Opiniões – Lia Ribeiro

ACUSO

Numa época em que os referenciais sustentam que a «escola tem um papel importante na construção de práticas de cidadania» (Aprendizagens Essenciais da Cidadania e Desenvolvimento), e que a «cidadania e participação» se constitui como um dos valores estruturantes do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória,

Acuso

o Ministério da Educação e as restantes instituições envolvidas no Parlamento do Jovens (Assembleia da República e Instituto Português do Desporto e da Juventude), projeto por excelência que promove os valores da cidadania e da intervenção cívica, de obstar o acesso de alunos e docentes a este projeto. Na verdade, até ao ano transato, inclusive, alunos e professores que voluntariamente participavam nas sessões distritais/regionais e na sessão nacional tinham transporte fornecido pela organização que se deslocava às escolas para levar os participantes aos locais onde as sessões decorriam. No presente ano, o transporte deixou de ser facultado e, ou os municípios benemeritamente proporcionam esse serviço, ou alunos e professores têm de se desenvencilhar por conta própria. É decadente ver filhos a saírem a altas horas da madrugada para apanhar o transporte público em direção às várias sessões distritais que estão a decorrer hoje; é revoltante que pais e professores se viram obrigados a deslocar os jovens a expensas próprias, sem sequer haver cobertura do seguro escolar; é chocante constatar que alunos meus não puderem participar por não terem acesso a qualquer tipo de transporte, depois de meses em que estiveram empenhados num processo prévio que envolveu desde a elaboração de listas e de projetos de intervenção, até debates na escolas e eleições.

Por tudo isto, acuso as instituições públicas de serem as primeiras a dececionar os jovens e de servirem de maus exemplos de cidadania.

Acuso o poder central de hipotecar a formação cívica das futuras gerações – questiono-me se não o fará de forma deliberada – preterindo a aposta na educação a favor de indeminizações milionárias e de investimentos estéreis.

Acuso os opinadores encartados em temática educativa, que ultimamente se mostram tão inquietos com a perda das aprendizagens por parte dos alunos, em virtude das greves dos professores, de não denunciarem estes «crimes educativos», bem ilustrativos do papel despiciendo que o ensino vai assumindo na governação.

Lia Ribeiro