A Ler

Sim… não há que esconder o papel do colaboracionismo interno, quantas vezes na base do “ai… os colegas se não forem avaliados é pior…” ou quando se propunha o 10 a todos,,, “ai, ai, isso não é justo, porque isto e aquilo…”.

Lembro.me sempre daquele antigo aparelhista fenprofiano, que chegou a concorrer à liderança do spgl, que aceitou, em pleno combate com MLR, ser avaliador, declarando ao Expresso algo como “antes eu do que outra pessoa…”. Tão coerente que agora anda a vender casas, pois pôs-se a andar logo que conseguiu.

É inegável que os professores tiveram responsabilidades. (…) Se a máquina diabólica da avaliação do desempenho foi imposta por políticos, foram professores que a desenharam e aplicaram.

Sábado

Depois de se saber que os salários da função pública vão ter, a partir de Abril, o aumento de um por cento inteiro, percebe-se até que ponto esta malta anda mesmo a gozar com quem trabalha. Pompa e circunstância numa versão pindérica do pão e circo dos romanos, só que o pão é escasso e o circo é vegan, por isso não tem animais. Com os professores, as novas negociações são para cumprir o calendário presidencial e revelam o quanto nada tem sido feito ou será feito de relevante para melhorar as condições de carreira e trabalho. No caso da burocracia, desliga-se qualquer tentativa de melhoria dos que trabalham nas escolas, apenas se oferecendo uns lugares de observação aos sindicatos num processo entregue a especialistas externos que desconhecem em absoluto o concreto e apenas sabem analisar fluxos de informação e outras coisas teóricas giras no papel. E é mesmo o papel que impressiona ao chegar ao final de cada período (ou semestre) e impressiona tanto mais nas escolas que se pretendem “inovadoras”.

O Ricardo Pereira publicou mais uns exemplares de grelhas de fim de período e de “monitorização”, que nem sequer são das mais complexas que conheço, pois há aquelas em que cada ficheiro tem separadores e separadores, com dezenas de parâmetros por aluno, numa deriva que na teoria defende uma avaliação integral e holística do desempenho do aluno, mas depois a salamiza em parâmetros de 2-3%. Por isso é que em menos de 48 horas uma petição muito simples para exterminar o projecto MAIA das escolas (ou no mínimo torná-lo uma hipótese de trabalho remota, apropriada em especial para pessoas com a vida desocupada ou uma uma retenção @n@l mal resolvida na infância), vai nas 5500 assinaturas. Pode servir para pouco perante ouvidos moucos, mas é um sinal claro da desafeição que aquilo desperta em quem trabalha com os alunos todos os dias e é submers@ em necessidades redundantes de registos para legitimar as suas decisões.

Uma forma de “luta” efectiva contra o burnout docente seria que as elites pensantes locais, agregadas nos Conselhos Pedagógicos, tivessem a clareza de raciocínio e a coragem de resistir às pressões e seduções feitas para impor esta completa treta, mesmo que com isso se irritem os emissários da tutela e seja necessário colocar no seu lugar as novas “inspecções pedagógicas” formadas por malta formada em muita conversa fiada, mas zero interesse efectivo no trabalho com os alunos. Pede-se aos Conselhos Gerais solidariedade com a luta do pessoal docente, mas seria igualmente interessante que os Conselhos Pedagógicos, mesmo que formados daquela maneira peculiar de eleição controlada pelas direcções, fossem mais do que damas e fidalgos de companhia.

As manifestações, vigílias e outras iniciativas não têm tido o efeito desejado, no tempo esperado? Há outras formas de “lutar”, em cada agrupamento, em cada escola, assim exista a verdadeira vontade de não esperar que os outros façam ou deixem de fazer.