2ª Feira

A noite de muitas surpresas trouxe lições que nem todos gostarão e que quase outros tantos farão por ignorar. Em Lisboa, as bengalas já se alinham para manter uma geringonça qualquer, apesar da estrondosa derrota do delfim, alimentado a análise política semanal televisiva. A “coligação” com o Livre não passou de uma anedota, mas o Livre é uma anedota mantida para que o seu criador se mantenha como alguém relevante na vida política, mesmo se poucos sabem que é fora de Lisboa. Afinal, ainda há alguma justiça eleitoral? Para Carlos Moedas ganhar a capital do reino, algo está mesmo estranho. Pelo país, as tais bengalas afundaram-se porque a percepção geral é que só servem para isso mesmo, aguentar o actual PM no lugar. Podem gritar que foi graças a elas que as coisas não foram piores, mas isso é curto e ninguém se convence muito que não fazem os fretes em busca de migalhas do orçamento e umas colocações de quadros no aparelho dirigente do Estado. O PCP perde 2-3 câmaras por cada Orçamento que aprova “contra a Direita” e o Bloco parece regressar às origens urbanitas sempre que há eleições locais. Uma espécie de irmão mais velho da Iniciativa Liberal que, com o PAN ficam com um redondo zero de vereadores, por muito emproados que se apresentem uns e animadinhas as outras. O Chega também fica curto, mas consegue ser o 4º partido formal com mais vereadores. São apenas 19 mas quase quintuplicam os do Bloco, a quem ganharam por quase 1,5% no campeonato dos pitorrinhos.

Contra muitas expectativas, Santana tem mais vidas do que qualquer gato.

A abstenção aumentou, pelo que os encolhimentos e as expansões se terão devido à deslocação de votos e não tanto à atracção de novos eleitores pelos “novos” partidos.

Não sei se isto foi uma viragem ou apenas um aviso à navegação. Contra a arrogância do costismo e o servilismo dos outrora facínoras convertidos em assinantes de cruz de orçamentos em que se trocam amendoins por caviar.

Domingo

A diferença entre a pré-campanha e a campanha eleitoral, neste caso para as autárquicas, é que no segundo caso já se pode escrever uma variação da palavra “vota” nos cartazes. Ahhh… e há debates que ninguém verdadeiramente vê ou vê com atenção. Por curiosidade, vi na RTP3 as mini-entrevistas finais com pouco mais de metade dos candidatos a Lisboa e se lá vivesse é que ficava mesmo sem votar, tamanha a confusão das “alternativas” a um modelo actual que acho o retrato do país chico-esperto quando tem algum dinheiro para gastar e não sabe bem como, tirando as negociatas com os amigos. Quanto ao resto do país, só posso esperar que a partir de dia 27 comecem a limpar a paisagem da papelada que cansa, pois há meses que vejo aquelas caras e, por azar, nem vivo em nenhum dos concelhos ou freguesias com nomes que se prestam a trocadilhos, nem com candidatos (alguns também nomes do caraças) com um sentido estético-político de bradar aos céus e infernos.

E neste período ainda há aquele clássico que é os incumbentes gostarem de obrar mesmo em cima do acontecimento, sendo que agora as rotundas (a fazer ou embelezar) têm a competição das ciclovias a nascer como cogumelos em qualquer sítio, nem que seja de um modo que quase impede os carros de se cruzarem em segurança, enquantos os profissionais da lycra continuam a andar onde bem entendem.

O Perigo de um PS em Euforia

É termos gente a pensar que se tornou imparável, sem alternativa, capaz de tudo, como eleitorado do seu lado para tudo e mais alguma coisa. E já conhecemos isso do passado. E nem falo de lideranças a derrapar da realidade, falo daquelas 2ªas e 3ªas linhas partidárias, na governança nacional ou local, com assento parlamentar ou autárquico, com uma enorme sensação de impunidade. Se já fizeram uma série de asneiras sem qualquer tipo de responsabilização, o que se pode seguir? Será que o Bloco e o PCP (em particular este, depois das perdas eleitorais em bastiões históricos onde as pessoas ficaram sem perceber se vale a pena votar PCP) perceberam isso?

O caso da municipalização de serviços públicos como a Educação, encoberta com o nome de “descentralização” é um dos exemplos do que pode correr muito mal para o país, mas não necessariamente para algumas clientelas locais e regionais. E há gente de todas as cores, ambiciosa e ansiosa por honrarias, títulos e poder.

cilindro

Autárquicas: Os Perdedores

Claro quer teremos de colocar o PSD em primeiro lugar, não tanto por terem perdido uma imensa massa de votos e percentagem em relação a 2013 ou mesmo de câmaras, mas pelo facto de se terem tornado uma espécie de partido de província, completamente cilindrado nas zonas urbanas e em especial nas grandes cidades, se exceptuarmos em Cascais com o dinheiro do seu casino. O PSD profundo e conservador, sobrevive, já o PSD das zonas mais dinâmicas é quase pulverizado. Se é por causa da liderança nacional ou das más escolhas locais (do género, se é para perder que se queimem est@s), não interessa muito. A verdade é que o PSD deixou de ser uma alternativa ao PS e mesmo à direita vai ter muitos problemas em controlar um CDS acima do esperado. E o seu pessoal político é, em regra, de uma mediocridade confrangedora, mesmo quando está auto-convencido do contrário.

Mas se formos analisar a questão de peso relativo em relação às posições anteriores, é impossível não constatar que o PCP foi o parente pobre da geringonça nestas eleições, perdendo 9 câmaras para o PS, algumas delas emblemáticas na margem sul: o Barreiro que parecia segura e Almada que nunca tinham perdido. No Alentejo, mais perdas. Mais de 60..000 votos perdidos, acredito que muitos de parte de eleitorado que antes era fiel, mas que percebeu que o PCP tem sido o pilar mais útil mas menos relevante da geringonça nacional, até porque não tem conseguido que se notasse a sua influência decisiva na governação. A maioria das reversões passam ao lado do seu eleitorado, por muito que se diga o contrário, Já o Bloco tem as matérias fracturantes a seu favor. Para mim, é pena que a relação de forças na área metropolitana de Lisboa se altere de forma tão radical, pois esta era uma zona onde o PS não tem conseguido fazer avançar a municipalização da Educação e agora corre-se seriamente esse risco. A menos que o PCP/CDU tenha coragem em assumir por completo o que diz serem as suas convicções.