Hoje, uma colega e amiga comunicou-me que não quer voltar mais à escola e ao ensino. Que está esgotada de tudo isto, incapaz de lidar com a máquina trituradora que tem sido colocada em prática no quotidiano docente nos últimos 15 anos e em especial desde o ECD de 2007. Que não se importa com as consequências, nomeadamente as financeiras (está a uma dúzia de anos da idade para a aposentação), desde que isso signifique que a sua saúde (física e mental) possa deixar de estar em risco.
E eu compreendo-a.
Porque a dado momento o “sistema”, como a tantos outros, traiu as suas expectativas com argumentos falseados. Um sistema que não podemos já limitar apenas ao mandato negro da reitora sem avaliação MLR porque ninguém a seguir reverteu algo de minimamente relevante, incluindo o nulo Tiago e o seu bem falante, mas hipócrita, secretário João. Que querem sempre mais, nada dando em troca. Em pouco se distinguindo do demonizado Crato. Mas é aqui que nem tudo é culpa do “sistema” ou da super-estrutura política, havendo muitas outras responsabilidades à escala micro, nomeadamente da parte de quem até gosta de ver partir, em jeito de selecção natural à sua medida, quem acha mais “fraco”. Quando por isso se entende quem tem o seu horário completo a cumprir todos os anos; ou quem sente que assim “sobe um lugar” na escala dos (de)méritos e vê alguém sair-lhe da frente.
Mas também têm responsabilidades aquelas luminárias, como uma que ouvi no sábado, que argumentam que os professores estão demasiado “amargurados” e que as suas “frustrações” não são razão para não serem carne para canhão de mais uma experienciazinha pseudo-pedagógica. Em regra, é gente que enche a boca com “utopias”, mas que não perde ocasião para serem presidentes disto ou directoras daquilo. Porque não há nada como mandar as tropas para a frente de batalha, para serem dizimadas, à maneira das tácticas militares sacrificiais dos generais de rectaguarda da Grande Guerra de 14-18, tão certeira e violentamente caricaturadas na cena final da série Black Adder.
Sim, quem leva a vida em corredores, gabinetes e a debitar a mesma conversa durante décadas ou quem passa parte do seu dia de rabo sentado, bem longe dos alunos, tende a não conseguir entender certas “frustrações” e “amarguras”. Gente que, há que dizê-lo com frontalidade, podem ser excelentes mães e pais de família, mas que como gente da Educação (hesito quanto a “colegas”) são uma lástima.
Provavelmente, amanhã – como em outros dias – alguém que se dedicou décadas à docência irá partir, sem ficar com saudades do que vai deixar. E isso é triste. Para mais, porque é uma das pessoas da “fundação” do que deveria ser a “sua” escola.
É esta a “herança” que deveria ser esfregada na cara de reitoras, conselheiros, articulistas, gestores e demais rabos sentados, fora ou dentro das escolas.
Ao menos que seja o primeiro dia de algo melhor.
You pull back your curtains
And the sun burns into your eyes
You watch a plane flying
Across the clear blue sky
This is the day
Your life will surely change
This is the day
When things fall into place

Gostar disto:
Gosto Carregando...