Não, A Tecnologia Até Pode Tornar O Quotidiano Mais Asfixiante

Quando temos gente que acha que devem descarregar grelhas de monitorização para preencher a qualquer hora, de qualquer dia, que não consegue perceber o que são procedimentos redundantes ou que apenas querem “brilhar” na sua add com malabarismos e piruetas digitais sem grande substância, a tecnologia é apenas mais um factor de pressão sobre a maioria dos docentes.

Stress e burnout nos professores: A tecnologia pode ser a solução?

O que o sonso ministro e muitos dos seus apaniguados não querem perceber (ou acabam por culpabilizar os professores por assim estarem) é isto:

Perto de 90% dos professores admitem sentir stress no trabalho. Esta é a realidade portuguesa no setor da Educação, demonstrada pelo relatório da Comissão Europeia Professores na Europa – Carreiras, Desenvolvimento e Bem-estar, que coloca Portugal como o país da Europa com os níveis mais altos de stress associados à profissão.

Este é o resultado da acção conjugada dos últimos 20 anos de gestão dos recursos humanos docentes na Educação, desde o que não conseguiu fazer, passando pela que fez e pelo que se aproveitou disso, mais o nulo que quase nada reverteu e aquele que se revelou um triste herdeiro da tal que abriu quase todas as portas ao desmando e arbítrio.

Que se lixem os que alinham por trincheiras partidárias na análise. Não há inocentes em todos os arcos da governação nas últimas duas décadas. Por acção ou inacção, todos partilham a responsabilidade e que tenham decoro quando dizem que “não adianta estar agora à procura de culpados”. Adianta, para que não nos apareçam, de repente, de novo, como se soubessem a solução para isto, quando não a praticaram.

E não nos esqueçamos que há quem agora esteja de fora, mas antes tenha estado por dentro do “sistema”. Porque não é por andarem por aí uns transviados do psd e cds em novas agremiações que me faz esquecer por onde andaram em invernos passados.

Se Até Os Liberais Capitalistas Da Gallup E Da Harvard Business Review O Dizem…

Pensava que era só pelos meus lados, mas parece que não. Pelos vistos, @s alegrinh@s e pipilantes (que @s há, mesmo quando encenam cenho franzido) é que devem ter algo para nos explicar.

Stressed, Sad, and Anxious: A Snapshot of the Global Workforce

While some leaders may feel like things are beginning to return to normal, data from Gallup’s new State of the Global Workplace report suggests that the emotional side of work has not healed from the pressures of the last two years. Under the surface, people around the world are stressed and anxious: 44% of employees say they experienced stress a lot during the previous day.

These negative emotions are at a new high. In 2020, the world’s employees saw an increase in stress, worry, anger, and sadness. In 2021, worry, anger, and sadness remained above pre-pandemic levels, and stress continued to climb to a new high.

Mas O Que Interessa, Por Cá, É Que Já Nomearam Mais Uma Comissão Ou Grupo De Trabalho Para Estudar Qualquer Coisa Quase Tão Urgente Como Levantar O Moral A Quem (Ainda) Está

A Profession in Crisis: Findings From a National Teacher Survey

(…) The survey results suggest a deep disillusionment of many teachers who feel overworked, underpaid, and under-appreciated, with potential implications for a once-in-a-generation shift in the teaching profession. For example, just 12 percent of teachers, the survey found, are very satisfied with their jobs, with more than four in ten teachers saying they were very or fairly likely to leave the profession in the next two years.

Quanto Terá Custado O Estudo…

… que conseguiu demonstrar que “Pelo menos metade dos docentes acusa sinal de sofrimento psicológico em pelo menos uma das medidas consideradas” com uma amostra inferior a 1500 docentes?

A coordenadora do estudo parece sensata:

“Os professores estão muitos doentes. A minha preocupação é muito com os professores, porque um professor perturbado com 30 alunos à frente não vai conseguir fazer um bom serviço nem para ele nem para os alunos”, disse a coordenadora do estudo, Margarida Gaspar de Matos.

Já o ministro quando mete “científic@s” numa frase, ficamos sem perceber exactamente o que significa. É uma “resposta a evidências científicas”? Não será antes uma demonstração de qualquer coisa?

“É uma resposta a evidências [provas] científicas que nos dizem que o bem-estar se correlaciona muito positivamente com os resultados escolares dos alunos, com o seu desempenho académico e, por isso, não podemos deixar isto de foram da atividade da escola”, explicou João Costa.

4ª Feira

Ainda antes da pandemia, os níveis globais de burnout profissional estavam elevadíssimos. Um estudo, mais na perspectiva das perdas para as próprias empresas dessa situação, contribuiu para perceber até que ponto a forma de gerir os recursos humanos está na origem do desgaste sentido por muitos trabalhadores no local de trabalho e fora dele. Falta de comunicação ou comunicação adequada, excessiva pressão em termos de massa de trabalho e horários, em vez de aumentar a produtividade, pode reduzi-la, mas há quem não entenda isso. Por cá, basta ver como se acha que é somando dias de aulas que as aprendizagens alegadamente perdidas, se recuperam. Curiosamente, essa lógica não é aplicada quando se trata de analisar a carga horária de algumas disciplinas, em que não se acha que mais tempo ajude. Mas… são as contradições do costume. Um outro estudo, de uma empresa mais ligada ao negócio do sono, fez um ranking das cidades com maior índice de burnout. Lisboa surge em 33º lugar, um pouco acima de meio da tabela, mas o que é mais preocupante é que os factores que mais contribuem para o desgaste são a falta de motivação no local de trabalho e as desordens no âmbito da aúde mental e o consumo excessivo de fármacos.

Também antes da pandemia, o índice Better Life da OCDE colocava Portugal no 31º lugar (entre 41 países analisados) quanto aos níveis de satisfação da população com a sua vida. Já em período de pandemia (2020), um novo inquérito da Gallup mostra resultados profundamente preocupantes. E acredito que se fosse feito só entre professores seria bem pior. Fica aqui apenas uma amostra desses resultados.

A Ler

Why We Need to Talk About Teacher Trauma

(…) Educators and school-based staff are often so focused on student and family needs that it comes at the expense of neglecting their own, and schools are not set up to prioritize the health and well-being of teachers and staff while students and families are struggling.

“There’s absolutely no support system in our school right now for us [educators]…But I have colleagues that are going through cancer treatment right now. I have colleagues who lost family members and they were sick two or three times last year with COVID,” Avila explains. “We’re not able to process and grieve together and to be able to help each other go through these life-changing experiences. We’re still very much isolated…there’s literally no time for us to come together and support each other.”

O Facto De Não Ser Apenas Por Cá…

… apenas serve para demonstrar que o modo de “governança” dos recursos humanos na Educação se globalizou e transversalizou, de acordo com a lógica da erosão do investimento nos serviços públicos. E que é comum a governos de Direita e de Esquerda, ou que ainda passa por isso. Por cá, a culpa não nasceu com a troika. embora queiram fazer acreditar isso a quem perdeu a memória ou não a chegou a ter.

Teachers all over the country describe problems that touch every aspect of our culture and society, from technology dependence to stats-obsessed bureaucracy to a post-COVID behavior crisis.

Apesar disso:

Why Most Teachers Who Say They Plan To Leave the Profession Probably Won’t Do So Anytime Soon

(…) Based on our research, we think it unlikely that most teachers who say they plan to leave teaching as soon as possible will actually leave this school year.

However, if even one-third of teachers who say they’re leaving the profession do so, that would be significantly more than the 8% of teachers who leave in an average year.

Teachers are clearly sounding the alarm about stress, burnout, dissatisfaction with school and district leadership, and other working conditions – even if they do stay in their jobs.