Há ocasiões normais em que é totalmente admirável ser-se firme, resoluto, desprovido de conflitos, e portanto em que a integridade é inequivocamente uma virtude. A pessoa de integridade sabe o que fazer e fá-lo. Mas, como temos vindo a explorar, também há ocasiões em que a certeza e a obstinação indicam algo menos admirável: uma surdez a vozes que deveriam ser ouvidas ou uma cegueira a aspetos de uma situação que têm de ser considerados.
(Simon Blackburn, Vaidade e ganância no século XXI, p. 216)
Categoria: Citando
Sempre À Volta Do Mesmo
Subscrevo
Ao escrever, falo sempre do que está à minha frente, do que me irrita. Infelizmente, mais do que me irrita e menos do que eu gosto, é temperamento. É a única forma de ser generoso para com os outros, o mundo, o meu país, a minha língua. Porque se tentar fazer coisa à maneira dos outros o tiro vai sair curto.
(Rui Zink, Jornal de Letras, 8 de Setembro de 2021, p. 15)
Ex(Citações)
Acredito na reencarnação dos políticos e das suas ideias e ambições. As semelhanças são espectaculares!
(…)
Como todos os governos gozam connosco nós gozamos do direito à ironia, que é essencialmente a arte de sofrer.
(Dimíter Ánguelov, Fuga idearum- Aforismos e outros inclassificáveis. Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2021)
A Liberdade De Expressão Incomoda?
A liberdade de expressão é para os sectários tanto quanto para os intelectuais liberais polidos. Não é claro por que um princípio seria digno no nome «liberdade de expressão» se só protegesse as perspectivas daqueles com quem simpatizamos.
Além disso, dar-se à autocensura para evitar ofender seria ceder ao que se poderia chamar «o veto do desordeiro», a ideia de que não lhe devia ser permitido falar, ou pelo menos deveria ter a decência de não o fazer. no caso de ser provável um elemento da sua potencial audiência se sentir ofendido pelo que o leitor teria para dizer. Quão plausível é esta ideia?
(Nigel Warburton, Liberdade de Expressão – Uma breve introdução. Lisboa: Gradiva, 2015, pp. 53-54)
Escrito A 8 de Janeiro
Não adianta escrever nova prosa, a auto-citação neste caso justifica-se.
Público Online, 8 de Janeiro
4ª Feira
Última saída do ano para as sempre esperadas auto-prendas que, como seria de esperar, recaíram quase em exclusivo em livros. Uma delas foi um dos “evangelhos” da clique ideológica no poder na área da Educação. Para ler o original e não as réplicas e perífrases que abundam por aí, nem sempre com a citação do autor: Edgar Morin. De quem li, em tempo das edições da Europa-América, com especial prazer O Homem e a Morte e O Paradigma Perdido. De quem fui lendo as divagações, de forma pouco sistemática, sobre o espírito dos tempos e a Educação desde o início dos anos 90, quando se tornou aquilo que os seguidores consideram ser uma espécie de guru do “pensamento complexo”. Muito do que Morin escreveu nas últimas décadas é atractivo, intelectualmente interessante e em alguns momentos estimulante, mesmo se não propriamente inovador. Digamos que ele faz confluir contributos de áreas que outros autores desenvolveram e que ele conseguiu sintetizar de um modo razoavelmente acessível.
Na área da Educação, por cá, o seu legado (que ele explicitamente faz remontar às concepções de Rousseau) tem sido pilhado de um modo equivalente ao que aconteceu a Paulo Freire, mas nem sempre com a honestidade da citação da inspiração para prosas que vão de introduções a diplomas legais a powerpoints de formações recicladas. Só que em alguns casos, aproveitando de Morin o mais superficial dos conceitos e deixando de parte a coerência com a prática correspondente, em particular aquela que nos previne contra as certezas. Aquelas que os autores de Perfis e 54s e 55s apresentam como absolutas e não passíveis de crítica. Pessoalmente, partilho algumas das concepções de Morin, em particular aquela da complexidade e da necessidade de não dividirmos tudo entre bons e maus, nós e os outros, virtuosos e “cornudos”, para usar a terminologia patusca do ministro Tiago.
Estamos ameaçados, sem cessar, de nos enganar sem o saber: Estamos condenados à interpretação, e temos necessidade de métodos para que as nossas percepções, ideias, visões do mundo sejam o mas fiáveis possível.
De resto, quando consideramos as certezas, compreendendo as científicas, dos séculos passados e consideramos as certezas do século XX, vemos erros e ilusões de que cremos estar curados. Mas nada nos diz que somos imunes a novas certezas vãs, a novos erros e ilusões não detectadas.
Edgar Morin, Enseigner à Vivre. Manifeste pour Changer l’Éducation. Paris: Babel 2020 (original de 2014), pp. 14-15.
A Escola Do Futuro (Isaac Asimov)
(…) Margie went to the schoolroom. It was right next to her bedroom, and the mechanical teacher was on and waiting for her. It was always on at the same time every day except for Saturday and Sunday, because her mother said little girls learned better if they learned at regular hours.
The screen was lit up, and it said: Today’s arithmetical lesson is on the addition of proper fractions. Please insert yesterday’s homework in the proper slot.
Margie did so with a sigh. She was thinking about the old schools they had when her grandfather’s grandfather was a boy. All the kids from the whole neighborhood came, laughing and shouting in the school yard, sitting together in the schoolroom, going home together at the end of the day. They learned the same things so they could help one another on the homework and talk about it.
And the teachers were people…
The mechanical teacher was flashing on the screen. When we add the fractions ½ and ¼ …
Margie was thinking about how the kids must have loved it in the old days.
She was thinking about the fun they had.
Não Compliquem!
Pós-Realismo
Os tempos são outros. A ditadura hoje é muito mais maquiavélica porque não se apresenta como tal. Vivemos todos convencidos de que somos livres, e todos os dias nos impõem mais uma coisa contra nós, que não sabemos como rejeitar. Não é contra ti nem contra o teu vizinho: é contra todos, e todos são objecto de um roubo que vem de fora, mas que é executado como se fosse uma coisa natural, explicada com argumentos que até parecem lógicos, e que deixam um sabor amargo na vida que não sabes de onde vem.
E pensei: estas mudanças deixam-me melancólico. Dantes, a revolução fazia-se com metralhadoras, com bombas, hoje de nada serviria. Os exércitos que nos ocupam são invisíveis, não têm quartéis.
(…) A diferença é que a morte já não é imediata nem violenta, mas as assinaturas que eles põem nos seus decretos continuam a ter o mesmo efeito, pode ser ainda a mais longo termo, pode não ter o efeito doloroso que o outro método tinha, mas é da extinção dos povos que se trata, reduzi-los à miséria, à mendicidade. E é mais difícil reagir contra funcionários, contra burocratas, sobretudo quando se ficou sem nada, quando tudo o que conta é a salvação individual, e a vida perdeu todo o sentido. É isso que torna a revolução impossível, quando os pobres não têm a capacidade das antigas massas para derrubarem os governos.
Nuno Júdice, Implosão, 2013, pp. 33, 35.