Continua em alta aquela coisa do “espírito de missão” dos professores. Há uns dias recebi de um colega o documento da Sociedade Portuguesa de Matemática que deu origem a uma notícia do JN para a criação de uma bolsa de professores voluntários. O curioso é que na notícia não se identifica o grupo de Matemática como sendo um dos especialmente carenciados (Inglês, Informática, Física e Química ou Geografia, são os nomeados, mas eu acrescentaria ainda o Francês pela experiência de anos anteriores, embora em menor escala).
No site da SPM a coisa é apresentada em termos que me fazem lembrar um part-time para qualquer pessoa que ache que pode dar aulas (ou já deu e tem saudades).
Eu posso?
É ou foi professor? Do ensino básico? Do secundário? Da universidade? Aposentado ou no ativo? É mesmo de si que precisam!
Quanto tempo?
No ensino básico, 90 minutos por semana.
No ensino secundário, 120 minutos por semana.
Esse tempo será suficiente?
Todo o tempo será importante. E em complemento com este programa de professores voluntários SPM há um programa de mentores da Gulbenkian.
Entretanto, algo fica por perceber… o “voluntariado” será puro e duro sem remuneração? E os mentores da Gulbenkian? Recebem, certo? Pelo menos os recrutados pela Teach for Portugal serão por seis meses. E se olharmos para as parcerias, tudo isto parece-me algo anómalo, mas posso ser eu a desconfiar de recrutamentos em modelo praticamente ad hoc para dar aulas no ensino público, até com a chancela final da República Portuguesa, aquela que nos últimos 15 anos pouco ou nada fez para contrariar um processo de precarização das condições de trabalho da docência que, ao que parece, agora poderá servir como uma espécie de estágio para a ” Possibilidade de seres elegível para o Programa de Desenvolvimento de Liderança da Teach For Portugal .”
Ou seja, a miudagem como cobaia para, por exemplo, “jovens profissionais provenientes de várias áreas do conhecimento e com forte motivação para o impacto social”, enquanto quem fez a sua formação e mesmo profissionalização anda aos caídos por aí, com horários contados ao minuto e remuneração ao cêntimo.
E ainda querem que os “velhos” voltem como “voluntários”?