E As Governações Incompetentes E Corruptas Não Têm Qualquer Responsabilidade?

Há análises que parecem atractivas mas estão truncadas por um enviesamento original. Por exemplo, é ridículo ouvir António Costa, que governa com uma maioria absoluta que lhe permite manter galambas no executivo, acusar outros de “populismo”.

Giuliano da Empoli: “O novo tipo de políticos populistas é o resultado da raiva mais o algoritmo”

A menos que a subtileza analítica esteja no uso do termo “novos”.

Porque o que distingue um ventura de muitos daqueles que agora criticam Cavaco por fazer menos do que Soares fez, (entre os signatários originais de um conhecido “manifesto” encontravam-se nomes ainda hoje bem conhecidos) a começar pelo auto-proclamado “estadista” que chegou à presidência do Parlamento?

O Que Talvez Corra Bem Nas Provas De Aferição

Há provas em “certas disciplinas” que serão feitas pelos alunos sob observação dos docentes “aferidores”, que assim atribuirão códigos aos desempenhos, sendo as provas “digitais”, no sentido em que serão os ditos docentes a “digitar” o que interessa. Nesse caso, quiçá, talvez, porventura e provavelmente, as provas decorrerão menos mal. Só não sei se haverá professores “especialistas” em cada grupo de itens, que apenas classifiquem, desculpem, corrijam, raios, não, avaliem, bolas, também não, afiram (sim, sim) aquilo em que são special ones.

Mas só se fizeram formação em capacitação digital, no mínimo de nível 2,5.

Para Belém (Da Galileia)?

Um texto interessante ao nível descritivo e mesmo interpretativo mas que em termos prospectivos esbarra onde quase todos esbarramos: a impossibilidade de garantir que existe uma “solução mágica” que agrade a todos.

Para onde vai a presente Luta?

De pouco adianta afirmar que “esta luta só se tornará realmente séria e consequente quando cada um for capaz de assumir a sua quota-parte de responsabilidade pelas soluções dos problemas e os necessários sacrifícios pessoais e se acabarem com as “desculpas” para não desobedecer…” se mais adiante se admite que “cada Professor parece continuar a defender, primordialmente, os seus próprios interesses e só depois, muito depois, o bem comum… [e que] enquanto a visão for sectarista, assente no individualismo de pensar apenas em si próprio, não se chegará a lado nenhum…” ou que “no momento, dos últimos anos, em que a Classe Docente mais precisava de Sindicatos consentâneos com acções competentes e impávidas, as principais estruturas sindicais têm tido uma prestação lastimável, mostrando-se incapazes de corresponder às expectativas daqueles que representam…”

A autora (Paula Dias) afirma que há sindicatos que continuam a achar que a Terra é plana, numa metáfora como qualquer outra. O meu problema é que também há quem ache a Terra é oca e lá dentro é que brilha o verdadeiro Sol. E nunca ficará satisfeit@ por não encontrar o caminho para lá e continuará sempre a clamar que este Sol é falso e que só aquele em que acredita é que é o legítimo. E o diálogo torna-se impossível, porque não há sequer um terreno ou vocabulário comum.

A Minha Definição De “Recuo”

Os quados de escola passaram a quadros de agrupamento e, agora, a porta fica escancarada para serem quadros de zona pedagógica.

Se isto é “aproximação” às posições dos professores, estamos falados.

Isto é um recuo objectivo da situação laboral dos professores, com precarização no final da carreira. No meu caso, é potencialmente o regresso a 1998 ou pior, porque nessa altura a colocação era numa escola de qzp e não em “horário composto” em dois agrupamentos ou escolas que podem ser de concelhos diferentes e nem sequer limítrofes.

3ª Feira

O tema começa a chegar ao mainstream comunicacional, parecendo que, pela primeira vez, se percebe que o ministro Costa é, no mínimo, “ambíguo” para aproveitar a caracterização feita por Andreia Sanches no Público. Eu percebo que não dê para ir mais longe, mas já todos percebemos que esta “ambiguidade” é voluntária e estrutural na forma de estar do ex-secretário Costa. Gosto sempre quando mais pessoas percebem o que, em tempos, tentei explicar, sendo com frequência mal entendido e mesmo visto como alguém com uma especial malapata pessoal contra João Costa. Nada disso. Apenas dava para perceber as coisas nas entrelinhas. Não se envelhece impunemente, para o mal e o bem.

Quanto à peça sobre a natureza da presente contestação, por entre as declarações de responsáveis sindicais, temos a do sociólogo António Casimiro Ferreira que opta por associar as estratégias do S.TO.P. a um “populismo sindical”, comparando-o por antecipação ao do anunciado sindicato do Chega. Quanto à “atomização”, o que se passou no dia 17 é a demonstração, pelo exemplo concreto, do oposto.

E o que é o populismo sindical? Passa por uma contestação que “vai sendo cada vez mais inorgânica e atomizada”, pela “apropriação do desconforto individual existente” que é “facilmente capturado por estas organizações”, descreve Casimiro Ferreira. Segundo ele, é o que tem acontecido com as acções desenvolvidas pelo Stop, que é um “sindicato de esquerda”, e que poderá acontecer com o “novo” movimento sindical já prometido pelo Chega.

E a parada analítica sobe quando caracteriza as presentes movimentações sindicais num domínio de quase conflito com as regras democráticas.

A estratégia reivindicativa deste tipo de movimentos passa por se afirmaram “sempre em oposição a outros”, numa espécie de “euforia reivindicativa”, expressa em afirmações do tipo “Agora é que vai ser”.

Refere ainda Casimiro Ferreira que, embora a agenda reivindicativa seja comum a todos os sindicatos de professores, o Stop tem tentado também “acelerar o processo reivindicativo quando os outros estão a negociar”, numa espécie de “dumping sindical” que faz como que “a regulação democrática do conflito se vá perdendo”.

O que não entendo deste tipo de análise – e repare-se que eu nem fui adepto da “greve por tempo indeterminado” – é o modo como se salta logo para expressões como “dumping sindical” e a perda de “regulação democrática do conflito”.

Por analogia ao dumping laboral ou dumping social, o dumping sindical significaria o abaixamento do nível das exigências feitas pelos sindicatos, quando se trata exactamente do contrário.

Social dumping (…) The practice whereby workers are given pay and / or working and living conditions which are sub-standard compared to those specified by law or collective agreements in the relevant labour market, or otherwise prevalent there.

Aliás, a expressão dumping sindical nem sequer tem sido adoptada , parecendo que o sociólogo em causa a aplica de forma muito pouco rigorosa, mais como crítica do que como categoria analítica. Por outro lado, percebe-se melhor porque as suas ideias já são, há algum tempo, apreciadas pelo “velho sindicalismo”, porque criticam o maior individualismo do “novo sindicalismo”.

Quando à “regulação democrática do conflito” estar em causa, seria interessante perceber porquê, pois se existe um sindicato legalmente constituído, que também está envolvido nas negociações, o qual convoca uma greve e uma manifestação com elevada participação da classe profissional envolvida, onde estão em causa os mecanismos democráticos de tudo isto? a sensação que fica é que o sociólogo está mais preocupado com as consequências política de um sindicalismo mais próximo das suas origens do que propriamente com a utilização de um vocabulário adequado para descrever a situação.

Em boa verdade, esta presente análise até parece contrariar um diagnóstico recente, do mesmo autor, sobre a regulação dos conflitos laborais em Portugal, que considera ser “débil” e pouco eficaz. E isso é que me parece ser “anti-democrático”.

No entanto, o sistema de resolução dos conflitos laborais português é um sistema débil e bloqueado que evidencia uma forte discrepância entre as possibilidades legais e as práticas sociais. Sendo débil, está mais aberto às pressões exógenas, ao papel desempenhado pelo Estado, à situação da economia nacional e aos poderes de facto. Estando bloqueado, impede a organização e coordenação interna, promove a inefectividade dos direitos laborais e permite os comportamentos «free ride». Esta é uma questão perturbante, tanto mais que as formas de resolução dos conflitos laborais fazem parte do núcleo duro dos sistemas de relações laborais e são peças fundamentais para tornar mais democráticas e mais cívicas as relações laborais.

Que surja um sindicato – repito, ao qual não pertenço ou penso vir a pertencer – que corporize a insatisfação de boa parte da classe que representa, merece um outro tipo de caracterização que não o demagógico e muito gasto epíteto do “populismo” ou mesmo de “anti-democrático”, em especial à luz do conteúdo de declarações, como as da recente entrevista do actual primeiro-ministro.

Fiquem, ao menos, as declarações de dois professores em exercício, que sempre podem dar a visão das coias a partir da “base”, até porque ficam expressamente declaradas as suas simpatias.

O professor de História Ricardo Silva, que tem participado nas acções do Stop, tem outro ponto de vista: “os professores estão muitíssimo desiludidos com a inércia, ineficácia, e duvidosa estratégia de luta dos sindicatos “mainstream”, que parecem não conseguir ler os reais motivos do cansaço, exaustão e revolta da classe docente que deviam representar, com muito mais assertividade, constância, acutilância e ligação às bases”.

Também Anabela Magalhães, que se filiou no novo sindicato depois de pertencer a uma das estruturas da Fenprof, critica a “obscena apatia dos sindicatos do sistema”. “Sentimos que se encontram enquadrados em forças partidárias, manietados por forças partidárias e que não sabem, não podem ou não querem capitalizar este descontentamento e revolta”, refere.

A “Fabricação Das Notas” Ou… A Inspiração Das Abelhinhas Distópicas…

… que parecem não perceber que “rubricas”, “domínios” ou “competências” são igualmente conceitos “fabricados” e altamente contestáveis, pois correspondem a uma convenção definida de modo restritivo e subjectivo. O texto seguinte é de 2014 (e recupera teses muito anteriores do autor), pelo que não se admirem se leram mais recentemente coisas por cá a dizer o mesmo.

La notation des élèves est de plus en plus contestée, notamment par les chercheurs. Pierre Merle fait une synthèse des conclusions de ces travaux au moment où les institutions s’emparent de la question et propose des pistes pour renouveler les pratiques d’évaluation des élèves.