A Ler

Um texto muito interessante de João Marôco sobre a forma de fazer bem provas em suporte digital e o spin que tem estado a ser feito sobre os resultados (pela primeira vez menos bons) dos alunos portugueses no PIRLS.

Como o texto está em acesso reservado, transcrevo uns nacos interessantes, até porque duvido que a prosa tenha sido paga, não estando direitos autorais em causa.

No estudo PIRLS de 2021, os países participantes tiveram a opção de realizar o teste em formato digital ou em papel. Portugal foi um dos 25 países, dos 57 participantes, que escolheram o formato digital. Aos países que adotaram o digital, foi solicitado que aplicassem um teste em papel contendo apenas textos trend, a fim de estabelecer a equivalência entre os resultados obtidos no formato digital e nos testes em papel das edições anteriores. Essa análise de invariância de modo é conduzida numa subamostra de alunos que corresponde à amostra do estudo principal, com o único objetivo de garantir a validade das comparações ao longo do tempo. Só este procedimento estatístico especializado permite a comparação válida dos resultados de diferentes edições dos estudos (PIRLS, TIMSS, PISA, etc.). O estudo de invariância de modo não tem como objetivo estimar os resultados que o país teria obtido se o teste fosse realizado em formato papel em vez de digital.

(…)

O presidente do Iave, responsável pela tradução e aplicação do PIRLS — e que brevemente irá certamente disponibilizar o vídeo deste texto, com tradução portuguesa devidamente validada pelos especialistas nacionais do Iave e confirmada pelos revisores da IEA — afirma, segundo o que o ministro disse, que os alunos não conseguiam navegar no texto quando apareciam as perguntas, que a janela das perguntas tapava o texto impedindo a sua leitura, que não seria possível andar para a frente e para trás no teste digital como acontece num teste em papel. E isto — uma prova em formato digital, mal feita; não um confinamento; ou políticas educativas erradas; ou flexibilidade e metodologias obsoletas; ou a pouca valorização da leitura em ambiente familiar; ou outra coisa qualquer — explica a pioria dos resultados de 2016 (em papel) para 2021 (em digital).

Se o leitor ainda não foi a pirls2021.org, pare aqui! Esta é uma boa altura para ir ver o vídeo do texto The Empty Pot (ative a legendagem automática do YouTube) e verificar como é que o teste foi apresentado aos alunos portugueses e aos seus colegas dos 25 países participantes em formato digital.

O leitor poderá confirmar — como não poderia deixar de ser — que os alunos podem navegar nos blocos de texto, para trás e para a frente, como com as páginas de um livro; marcar passagens do texto, com um marcador amarelo, exatamente como se estivessem a fazer um teste em papel; podem ver ou esconder as perguntas para reler o texto, ou as partes marcadas a cor, antes de responder; rever as respostas e alterá-las. A IEA faz testes de avaliação educacional há mais de 60 anos. Todos os seus testes são pré-testados e validados pelos países participantes.

Falta O Resto Do Caminho

Desagrada-me repetir ladaínhas e argumentações, mas há essa necessidade, mais vezes do que as que gostaria. As provas de aferição, nesta versão costista para iludir pategos, é um dos temas que há anos me leva a tentar explicar que, a partir da dada altura, só engole a propaganda quem quer ou quem faz por acreditar quem as critica só o faz por má língua. Estas provas, (re)criadas para dar a ilusão que há uma avaliação externa ao longo do Ensino Básico, servem para muito pouco, muito menos para “aferir aprendizagens” a nível nacional. Desde logo porque ninguém as leva muito a sério, por não terem qualquer peso na avaliação e apenas produzirem uns relatórios que grande parte das famílias e a larga maioria dos alunos não entende. e até me podem dizer que são muito levadas a sério pelos processos de auto-avaliação de algumas escolas, mas eu gostaria de “monitorizar” esse processo. Se não se limita a uma análise epidérmica e recomendações chapa-5 na lógica da promoção do “sucesso”. Por outro lado, pedir provas deste tipo a alunos do 2.º ano – para quem criticava as feitas no 4º ano – é algo que só lembra mesmo a mentes iluminadas a petromax.

Mas vamos acreditar, por piedade e para bem das consciências, que são levadas a sério por quem as faz e por quem analisa os resultados. Nesse caso, haveria que as fazer com alguma consistência ao longo do tempo, em termos de critérios e de condições de realização. É verdade que a pandemia se meteu de permeio, mas talvez por isso mesmo, uma “aferição” consistente seria de considerar, antes de se partir para uma mudança significativa das tais condições de realização. O que acontece com a universalização apressada das provas em suporte digital. Porque estas provas, nas condições em que se vão realizar, como já escrevi há semanas, não irão fazer qualquer “aferição” do que os alunos sabem (ou não) nas disciplinas “aferidas”.

Não estou contra provas de aferição para levar a sério (com algum peso na avaliação, não meramente simbólico como propôs Marçal Grilo há poucos meses), nem contra o recurso à digitalização de parte das provas, desde que tudo seja devidamente preparado e não apenas implementado para cumprir calendários políticos. Ora, o que se está a passar este ano é um completo disparate. Com a conivência de muita gente que tem a obrigação de saber mais e melhor disto do que eu, até porque há quem tenha acesso privilegiado a informações que o vulgo zeco só consegue graças a gente simpática que ainda partilha o que vai sabendo.

Na semana que finda, veio apenas uma das muitas cerejas estragadas que vão cair em cima de bolo torto. O manual para aplicação de provas que começam no dia 16, chegou dois dias úteis antes da sua aplicação, implicando um trabalho de muitos milhares de horas. O Arlindo foi dando conta das dificuldades na instalação do aplicativo e eu publiquei o dito manual no final de 5ª feira, mas a larguíssima maioria dos docentes (e das direcções que que fechem o expediente às 17.00) só o terá sabido na 6ª feira. O que é absolutamente impensável.

Se as provas de aferição neste modelo já servem para pouco, neste modelo digital, mal preparado a vários níveis, só poderão servir como diagnóstico do que é necessário fazer nos próximos anos. O colapso só não será total, porque há demasiada gente com síndrome de Estocolmo nas escolas. Mas acreditem que o que correr mal será atirado, pela tutela, para cima das escolas e professores, até batendo palmas à greve em decurso, pois servirá para encobrir muitas falhas do ministério.

Ontem à noite, Andreia Sanches escrevia no Público que “as provas de aferição mereciam melhor tratamento” e eu só posso concordar, mesmo se acho que esta percepção peca por tardia. Só espero que, daqui para diante se vá em busca das razões para esse mau tratamento e se tente saber o que foi efectivamente feito em relação ao equipamento das escolas e alunos, se há um diagnóstico dos meios operacionais e se houve o cuidado de fazer mais do que registar entregas para anunciar o valor de 86% que fez o ministro Costas. Entre outros malabarismos.

E também espero que não adiram, sem a devida crítica, à “narrativa” que por aí vem em relação ao que começa a tornar-se infelizmente irremediável: semanas de perturbação no trabalho das escolas em troca de um experimentalismo “modernizador” com pouco ou nada de vantajoso para os alunos. Pior… de um experimentalismo incompetente.

Sei que pareço um disco riscado, mas é porque não gosto que ande por aí gente a armar-se em desentendida ou a queixar-se apenas quando o fogo lhes chega ao dito cujo. Ou que depois apareçam a dizer que era imprevisível. Ou que correu assim ou assado por causa dos professores.

Por isso, falta a alguma comunicação social fazer o tal resto do caminho, para além das conveniências, da propaganda e das queixinhas em off do ministro calimero.

4ª Feira

A primeira intervenção do dia (eram cerca de 00.30, já conta como hoje), pela SICN, já com a mente cansada de repetir o mesmo, foi mais no sentido de tentar explicar que é mentira que o concurso tivesse de ser lançado esta semana ou não seria possível vincular mais do que o pessoal da norma-travão. É mentira. Antes da norma-travão sempre foi possível fazer concursos externos e vincular professores, só que teria de ser em agrupamentos/escolas como deveria ser a regra. Esta legislação apenas introduziu a tal “vinculação dinâmica”, de acordo com a qual agora vinculas aqui, mas para o ano logo se vê. Sempre houve concursos sem este decreto, este apenas consolida a precariedade, pois não garante um lugar de quadro de escola/agrupamento, que isso fica para depois. E também legitima o que agora se chamam “horários compostos”, que os docentes não definem, mas sim o tal conselho de directores com nome a disfarçar. E a graduação profissional não é, de modo algum, o “único critério” quando se criam critérios que excluem todos aqueles que tenham falhado 120 dias de tempo de serviço num dos últimos 2 anos ou o total de 365 no conjunto desses anos.

Combinada ou não, a narrativa do PR seguiu a do ministro Costa. Não acredito que fosse por ignorância. Foi por mútua conveniência. O ministro Costa levou o que queria e o PR desculpabilizou-se. Um pouco como parece combinada a narrativa do decreto “muito diferente”, que o ministro e a Fenprof repetiram ontem, quase em coro. Sendo míope, vejo poucas diferenças entre o ponto de partida e o de chegada, apesar dos “20 pontos de aproximação” contabilizados pelo governante, qual vendedor de carros em segunda mão, que garante ter inspeccionado 90 pontos essenciais do carro, a começar pelos de confirmar a existência de quatro rodas e um volante. A única potencial diferença com algum significado terá sido a retirada da consideração pelos directores do “currículo” dos candidatos à vinculação. Pelo menos num primeiro momento, porque num segundo momento isso poderá ser tido em conta quando existirem as tais reuniões para definir quem terá “horário composto”.

Já sei que muita gente me dirá que não irão fazer isso e que respeitarão a graduação profissional e serão muito éticos na sua acção. Mas basta uma minoria, mais ou menos significativa, não o fazer e começará a alastrar a iniquidade. Basta ver o teipeiro que arranjou maneira de recontratar a caríssima metade, apenas mudando uma assinatura na coisa ou do outro que usa as instalações escolares para eventos partidários. Nem falando do tal outro que escreve umas cenas sobre a burocracia, mas adora reuniões e formações em catadupa, se possível bem rodeado para difusão nas redes sociais. E isto é num só qzp dos novos 63 e é só o que se sabe olhando sem esforço. Tudo gente com o ministro entre as “amizades” e contactos rápidos. Tudo “legal”, claro. São excepções? Sim, mas não são poucas.

Por isso, não prevejo nenhum fim de ano tranquilo, mesmo se me parece que uma greve às avaliações teria e ter mais preparação e, principalmente, maior solidez em termos de apoio, do que anúncios públicos de quem salta para comboios em andamento e depois diz que vai consultar qual é o comboio melhor. Admito que é “inovador”, mas como muitas outras “inovações”, nem sempre são grande coisa ou confiáveis.

Disse o ministro que 2ª feira vai existir negociação suplementar sobre a recuperação do tempo de serviço, mas ficou claro que só deve mudar uma vírgulas de lugar, que o dinheiro é necessário para pagar indemnizações da tap e estudos para decidir qual a autarquia ou grupo de autarquias que mais receitas poderá arrecadar com o novo aeroporto. Até porque a cada anúncio, que depois se revela apressado, há quem ganhe logo uns negócios e venda uns terrenos.

Tudo isto está minado e muito passa pela “comunicação” que é feita sem o devido escrutínio. Embora até fosse bem pressionado ontem, o ministro Costa manteve-se no seu registo de realidade alternativa, fabricada com base em truncagens e distorções dos factos. Mandou-nos ler o decreto, o que só serviu para perceber que por lá deve ser como aqui no blogue… só que eu ainda consigo corrigir erros de concordância quando me avisam. Mandou-nos ler o decreto, como se fossemos imbecis, permeáveis à desinformação. Só se for à que ele produz a cada visita ao Parlamento, a cada ida às televisões, a cada conferência de imprensa que dá, a cada termómetro que inaugura.

Take 3

Deu-se hoje uma vergonhosa manobra de intoxicação mediática, por parte do ME e beneficiando de leituras apressadas e convenientes da maior parte da comunicação social, em torno do parecer da PGR sobre as greves de professores. os telejornais abriram ou tiveram em grande destaque uma notícia falsa, fazendo-se afirmações que são desmentidas pelo documento que não se cita, preferindo usar apenas a páginazinha de resumo que o ME fez sair com a reunião negocial a arrancar e sem que praticamente existisse capacidade de leitura e resposta. Só tenho de agradecer a sorte de ainda me fazerem perguntas e eu conseguir responder no tempo que tenho, mesmo quando sob a minha cara aparece um oráculo com uma “inverdade”. No caso do noticiário da CNN das 20.00, depois dos abusos da Igreja e com um intervalo para o Nogueira, lá tentei que nem tudo fique abandonado à “pós-verdade” de gente sem vergonha. Hoje até, algures, desenterraram o “oficial” rodrigues para falar de “refundar” a Educação, ele que a ajudou activamente a afundar desde 2015.

A Propaganda Do Mé Costa (Em Directo)

Muita conversa fiada a abrir. Com números. A culpa é da troika.

Ele diz que conhece bem os professores. Quais?

O respeito é subjectivo?

Continua com números, em forma de relatório de autoavaliação.

Confiança? Com os sindicatos, talvez. Com os professores, não.

As reuniões foram em ambiente amigável? Todos os sindicatos reconheceram o “grande passo”? A sério?

Boa fé?

O entrevistador dá a mão para a questão das aprendizagens dos alunos.

Vem aí demagogia… o “ano da recuperação”… o jornalista volta a dar mão para dizer que os alunos estão a ser prejudicados.

O 2º período é muito importante? E os outros? Que conversa da treta.

A pressa em meter a cassete, faz com que salte para a “vinculação dinâmica” e para os escalões para os contratados, algo que é imposição europeia.

“Trabalho digno”?

Mas o entrevistador volta meter uma “bucha” sobre o tempo para vincular, só depois dizendo que só se vai fazer o que já existe na administração pública.

Os professores são colocados a 15 de Setembro, porquê? Quem criou as regras, como aconteceu este ano?

Só fala nos 1095 dias… o entrevistador lá lhe diz que a mudança não é assim muito grande. O ministro Costa anuncia muita novidade, como se não estivesse no governo há mais de 7 anos. Estas medidas surgem só agora porque…?

Ahhhh… vai-se fazer o que já existe na administração pública? Ganda novidade.

O entrevistador lá lhe atira com os 7 anos! E lá vem ele com a resposta da treta, descongelamento, recuperação parcial do tempo de serviço e lá vem com aqueles números que repete há não sei quanto tempo e a “responsabilidade orçamental”.

“Solução estrutural de combate à precariedade” que “vai ficar para todo o sempre”. A sério?

Apesar de uma ou outra impertinência suave, o entrevistador parece o de um canal clubístico a entrevistar o treinador do momento. Com pequenas excepções, é tempo de antena gratuito.

Já anuncia acordo com os sindicatos sobre os novos qzp.

Mediram as distâncias… o problema é que, por exemplo, aqui na minha zona, de Almada a Alcochete e Sesimbra vai um mundo de escolas… quantos membros vai ter este Conselho “Local” de Directores?

A “casa às costas” começa a parecer um slogan da Decathlon.

A carreira dos professores nunca esteve descongelada tanto tempo? Passou-se!!!

Esta carreira já existe há algum tempo? Mas o homem desvinculou?

Os congelamentos começaram em Agosto de 2005, homem!

Nova mão estendida do entrevistador para o tema da “municipalização”? Vamos lá a ver se ele volta a falar em mentiras de whatsapp.

Afinal, é contra a contrataçao de professores pelas autarquias?

“O ministério da educação ouve”?

“Não se governa contra as pessoas”?

O entrevistador fez leituras. Ainda bem.

Não conhece os modelos actuais da França e Itália? O shôr ministro não fez leituras?

Sobre a recuperação de tempo de serviço, o entrevistador não se vai lembrar de falar nos Açores e Madeira? Vai engolir a “comparabilidade” e as “contas”? ” ainda a “transversabilidade”?

Engoliu.

“Assunto encerrado”? Mas quem iniciou os descongelamentos?

“Reescrever a História”? Voltámos a esse chavão parvo? “A História não volta atrás”? Só nas regiões autónomas?

Os números da proposta até final da legislatura, já sabemos que não alteram grande coisa. É mentira que as quotas sejam algo transversal a todas as carreiras, pois não acontecem na Madeira e Açores.

Um pacote de 100 milhões de euros? Cacahuètes, diria a madame da tap.

A forma de desenvolvimento das greves suscita dúvidas quanto à previsibilidade. Aguarda o parecer com expectativa.

Tem respeito por “todos” os sindicatos e os seus representantes? Mesmo aos que chama mentirosos?

Lá está ele a elogiar as greves da Fenprof… as outras são “desproporcionais”. Então as da FNE são as melhores.

É giro como ele tenta dizer que a greve é “desproporcional”, mas ao mesmo tempo tem baixa adesão.

Lá veio a alfinetada sobre o crescimento do ensino privado.

Que confusão… diz que o ensino profissional aumentou no público, mas o peso dos privados aumentou?

“Malditos rankings”? Ó homem, cresce!

Ui… PIP’s em 100 agrupamentos… e pipis fritos em quantos?

Três minutos para falar de exames? Quase me ia embora, mas ainda lhe perguntam se sente condições para continuar. Que sim, claro, porque Paris não foge… ou outra cidade jeitosa.

Phosga-se… finalmente, acabou!

2ª Feira

Estava o domingo a findar e o ministério da Educação fez saber à RTP e confirmou ao Público as propostas (parte delas? a totalidade?) que pretende apresentar a partir de 4ª feira às organizações sindicais. Isto depois de (como bem se sublinhou pelas 8 na TSF) ter garantido na 6ª feira que só as apresentaria aos sindicatos, pelo “respeito” que lhes tem. Isto foi dito pelo ministro que, depois, autorizou a “fuga” dessas propostas para o canal que o manteve no ar, durante toda a conferência de imprensa e convidou um director de jornal, claramente instável do ponto de vista jornalístico. Não sei se terá sido obrigado a ficar com alguma criança em casa por causa da greve dos professores, pois não o conheço, nem sinto vontade. Já no caso do Público, cujo director também produziu editorial em tempo recorde na 6ª feira até tem a notícia das “novidades” em raro acesso aberto.

A horas do início de uma nova semana, na qual vão confluir greves de praticamente todos os sindicatos, o ministro falta à sua palavra e desrespeita objectivamente aqueles que há poucos dias parecer querer seduzir ao enviar para a comunicação social, para abrir noticiários da manhã, algo que só pode ser um “palpite”, visto que os documentos escritos que apresentou formalmente em reuniões não passavam de uma “opinião”, nas suas próprias palavras.

Atingimos um grau muito baixo de seriedade em todo este processo. O governante que acusou interlocutores de mentirem, desdiz em pouco mais de 48 horas a garantia que tinha dado, com as câmaras e microfones a registar tudo. É por atitudes como esta que o ministro Costa não pode ser encarado como um parceiro negociável credível e digno de confiança. Assim como pelo apoio que tem dado a narrativas sobre a ilegalidade das greves em decurso, até confundindo que convocou o quê e fornecendo uma “cartilha” a comentadores, com talking points a ser martelados (ontem à noite foi a vez de ver um Baldaia a regressar aos seus tempos áureos de 2008) de forma incessante, sem aquele benefício da dúvida que reclamam para tanta outra coisa. e chamam “populistas” aos outros, como aquela doutora Pimentel que, com a idade, se esqueceu de mais de metade da sua vida ao serviço de ideários muito além do populismo.

Mas é assim que andam tempos em que o pessoal político parece recrutado entre os mais estridentes ou manhosos elementos de uma associação de estudantes jotista, numa qualquer secundária do país, a partir do qual se recrutam as jovens promessas como aquele ex-ministro de quem tanto gosta uma ex-secretária de Estado e ex-ministra que agora, em programa de televisão com muita história, garante defender o que nunca praticou quando podia.

Mas de volta às manobras em torno da Educação.

Penso que existe um consenso entre quase todos: o ministro está farto disto e parece mais interessado em migrar para outras paragens, para coordenar a tempo inteiro qualquer coisa transnacional, e os professores estão, numa larga maioria, fartos de o ter por cá. E seria tempo de se ter outro rosto a negociar, até porque assim seria mais fácil justificar uma mudança de políticas que trouxesse a acalmia ao sector. Uma acalmia que, a cada intervenção do ministro, fica mais difícil. Porque ele confundiu o seu contacto afável com os suseranos das cortes locais, durante as regulares digressões pelo seu reino, com o sentir da vassalagem, do “povo” desses feudos, daqueles que, no fundo, fazem o dia a dia das escolas para além da produção de grelhas ou ordens de marcha para submersão em burocracia (onde está o tal grupo de trabalho prometido para a rever? falta algum papel selado? uma lambidela no selo para mandar o meile?). Claro que a saída do ministro Costa, sem sucessão em forma de clone, está a assustar @s mais fiéis cortesã(o)s como se vai percebendo por alguns chiliques em forma de prosa.

Já afirmei que não adianta mudar o ministro Costa, se é para colocar lá uma réplica. Porque o que está esgotado é este modelo de política, herdade da 3ª via dos anos 90, mais seduzido pelas práticas liberais nestas matérias do que pelos pergaminhos de “esquerda” que alguns muito enunciam com estridência, mas sem convicção.

A manobra de ontem à noite foi mais uma cabal demonstração, excepto para baldaias, barbosas, carvalhos e mais umas quantas figurinhas decorativas), de que o ministro Costa faz parte do problema e que não é alguém em que possa confiar para nos ir buscar meia dúzia de ovos à vizinha do lado.

É uma tristeza ter de sentir, ainda mais apodrecido, o que que de pior cheirava em 2008. Afinal, a culpa não era só do “engenheiro”.

(entretanto, esta manhã, o Paulo Prudêncio deve passar pela SICN, para tentar explicar algumas destas coisas, com a devida ponderação, porque no sábado o velho soviete voltou a reunir-se e está bem de saúde analítica)