A Realidade Supera Qualquer Ficção Fantástica

Numa coisa concordo… isto só pode ser mesmo inteligência artificial, porque natural não é.

Na Escola Básica Integrada Dr Anastácio Gonçalves, em Alcanena, incentiva-se os alunos a falar sobre as suas emoções e a querer saber como é que o outro se sente. Através de inteligência artificial medem-se os picos de emoção e os professores têm essa informação em conta ao escolherem a forma de leccionar a matéria.

Todos os dias cada aluno da Escola Básica Integrada Dr Anastácio Gonçalves, em Alcanena, passa pelo termómetro da felicidade ao entrar na sala de aula. Num processo de autorregulação avalia os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, e define as emoções que está a sentir. 

Confesso que, mesmo sem termómetro, esta notícia deu-me momentos de uma felicidade marcante, a qual se expressou numa emoção transbordante de gargalhadas, as quais fazem bem à circulação e à respiração.

Melhor que este termómetro só aquele outro aparelhómetro que aparecia num filme do Woody Allen de inícios dos anos 70 do século passado.

(ondiestáotérmómetre?)

Há Que Começar A Semana Com Um Toque De Humor

Avaliadores de exames serão especialistas em alguns itens em vez de corrigirem provas completas

Em primeiro lugar, estas provas “aferem”, não “avaliam”, nem “classificam”, que são conceitos arcaicos. Por outro lado, a designação de “especialistas” remete-nos para uma mundividência positivista de saberes estanques e não para o mundo pós-moderno da flexibilidade e porosidade dos saberes. O Santo Iavé anda a deixar-se contaminar por conceitos obsoletos.

Portanto, não há “avaliadores” nestas provas, que é coisa feia. E não se “corrige” nada..

Mas vejamos a continuação:

Os exames em formato digital vão reduzir o trabalho burocrático dos professores, que deixarão de classificar provas completas para passarem a ser “especialistas” em apenas alguns itens, aumentando a fiabilidade das classificações.

O trabalho burocrático que me queixo é o dos outros meses de registos redundantes e exigências disparatadas, tudo misturado com tarefas administrativas que nunca deveriam ser feitas pelo pessoal docente, se não fossem as poupanças com as mega-secretarias.

Por outro lado, não sei se avaliar alguns itens de 150 provas será melhor do que 40 provas completas. Depende… não sei ainda quantas provas ou itens calham a cada vítima

Para além disso, e já me vou alegando no sarcasmo, a “fiabilidade” da AFERIÇÃO (que coisa, esta de chamarem “classificação”!), não é assim que se determina, mas por métodos de cruzamento da codificação (outrora “classificação”) feita pelos aferidores/codificadores do desempenho dos alunos.

Por fim, gostaria de destacar mais esta parte que merece um destaque especial e não apenas pela gralhice inclusa:

“esta mudança permitirá também alterar a forma de corrigir os testes, assim sendo os professores deixarão de se preocupar com os itens de seleção, que constituem em certas disciplinas “quase metade” da prova, porque estes serão corrigidos automaticamente pelo sistema [sic] informática.

Vamos lá… ninguém “corrige testes”, isso é bué demodé, muito centúria de oitocentos ou três quartos de novecentos, até porque não se trata de “testes”, que são anacronismos pedagógicos, como já sabemos. Quanto ao “quase metade” da prova em “certas disciplinas”, é assim a modos que uma forma de expressão vaga, indefinida e porventura com carência de utilidade como informação.

As Modernas Parentalidades

Ajudar um filho a fazer algumas tarefas é “microgerir”. O texto é todo um desfiar de coisas que me fazem ter pena d@ petiz@ que possa ser “microgerida”. A senhora parece que é americana e até escreve para o The Washington Post, onde é a expert na matéria da parentalidade, o que me faz pensar que não é só cá que as colunas de opinião se ocupam com muita platitude.

Um pai odeia microgerir a situação dos trabalhos de casa do filho. Mas, de outra forma, o rapaz não os faz.

Como lidar com um rapaz de 12 anos que precisa de supervisão constante para completar os seus trabalhos de casa? Se eu não o microgerir, ele distrai-se e não completa as suas tarefas.

Recomendo a leitura, para que se perceba o quão pouco é preciso para se ser uma parenting coach e até que ponto estamos reduzidos a uma parentalidade desorientada, que precisa de apoio para as coisas mais básicas.

Valham-nos Estas Pessoas Com Pós-Doc Em Moral E Bons Costumes

É óbvio que não vale a pena perguntar se os professores já se lembraram do que está a acontecer às aprendizagens dos alunos, os quais levaram com dois anos de pandemia, tal como todos nós, e este ano com greves e instabilidade sucessiva nas escolas. Claro que já se lembraram, mas aparentemente a sua prioridade não são os alunos, mas a luta pela sua carreira e colocação. Há aprendizagens que só se fazem em determinadas idades, para muitos alunos, o comboio já passou e não os leva lá dentro.

Os professores são pessoas inteligentes, responsáveis e idealistas por natureza. Sabem desde sempre que abraçaram uma profissão que não é igual às outras, onde o exemplo ensina mais do que muitas palavras que se possam dizer dentro das quatro paredes de uma sala de aula. Onde se ensina mais do que conteúdos e competências, onde se educa e se forma em valores como a liberdade, o respeito e a dignidade.

Concordamos num ponto: o exemplo é a melhor lição. Os professores lutam por defender direitos cívicos, laborais e democráticos. Outras pessoas tratam da sua vidinha e produzem postas de pescada e chavões à discrição, com uma postura de autoridade moral que me revolve as entranhas.

Já agora… nestes casos o Público não acrescenta a ocupação ou filiação da autora? Talvez explique algumas coisas… por exemplo, que não tem, no presente, qualquer papel relacionado com as “aprendizagens dos alunos”. Mas é de only one na sua especialidade.

Actually working as a professional Coach (ACC-ICF), and Mentor (Practitioner EMCC). IPMA Accreditation (Practitioner EMCC), the only one in Portugal with this accreditation. Implementing mentoring and coaching programs in organizations; and training in specific areas of human development with a focus on leadership and soft skills.

Vai-te Mitigar!

O homem parece que arranja uma palavrita ou expressão nova para usar nas conferências de imprensa. A seguir a “efeitos assimétricos”, veio “mitigação”. E usa-as com ar de que se acha assim a modos que inteligente.

Falta “vergonha na cara”. Muita.

Ministro afasta recuperação de tempo congelado dos professores. A palavra agora é “mitigação”

Um Total Alheamento Da Realidade

Ver e ouvir o ministro Costa a falar da dádiva que alega estar a dar a “mais de 60.000 professores”, que lhes permitirá “acelerar a progressão” é deprimente. Não sei se é do ar condicionado do ME, mas nem a mudança da 5 de Outubro para as Laranjeiras e agora para a 24 de Julho conseguiu evitar que uma variante de solipsismo e descolamento da realidade atinja quem lá entra e ocupa o lugar. O ar de sonso, assim com as sobrancelhas e pálpebras meio repuxadas para cima, indicia que não é propriamente ignorância que está em causa, mas desonestidade intelectual.

Entretanto, no número 455, de Abril, da revista Proteste da DECO, vem uma inusitada entrevista a Domingos Fernandes, o mentor mais directo do ministro Costa e papá da abelha distópica, recompensado com a presidência do CNE, cargo de forte inutilidade na maior parte do tempo, mas que permite a algumas figuras perorarem sobre os dogmas que fizeram a sua formação há coisa de meio século. Se não fosse ter mais do que fazer, comentaria de forma alongada a entrevista, onde DF se repete e revela até que ponto não pratica o que enuncia, a começar pela tolerância e empatia, que lhe escasseiam de um modo evidente. E a coerência também não é o seu forte, porque se afirma crítico dos rankings, mas depois recorre de forma abundante aos do PISA Para legitimar algumas das suas opiniões. Acontece, muito em especial em mentalidades algo fanáticas, para as quais todo o argumento é bom se der jeito, mas mau se for em forma de contraditório.

Reparem nesta passagem:

O sistema português é muito bom em termos internacionais. Temos é dois problemas: um de qualidade das aprendizagens e outro das desigualdades.

`É muito bom, mas tem problemas gravíssimos.

Um deles é o das aprendizagens, diz ele numa parte, enquanto na outra considera que, afinal, está tudo fantástico. Quando lhe perguntam o que acha das críticas sobre a perda de qualidade do ensino, responde assim:

Tenho dificuldade em perceber isso. Ou damos alguma credibilidade aos dados internacionais, ou não. Os dados do PISA, por exemplo, que avalia as competências de alunos com 15 anos em literacia da matemática, da leitura e científica, indicam que Portugal agora está acima da média da OCDE. Quando começou, em 2000, tinha uma posição bastante modesta, para não dizer medíocre. Se isto significa alguma coisa, e significa, do meu ponto de vista, há uma evolução positiva nas aprendizagens dos alunos.

Eu não tenho problemas em perceber isto. É assim: se for para justificar planos e formações da treta, temos um problema; se for para fazer auto-elogio… estamos fantásticos. Depende da brisa.

Mas a parte melhor é quando lhe é dito que os professores se queixam da burocracia e aí não há qualquer dúvida: entra em cena o “especialista” com uma visão muito peculiar do que “pedagogia”. Pelos vistos, não se manifesta no trabalho em sala de aula, com os alunos, mas nos registos papelentos. Os professores é que se confundem, na sua douta opinião, ao não perceberem o que “se exige a um pedagogo”. A avaliar por ele, muita conversa fiada.

É capaz de haver um excesso de burocracia, mas também penso que haja uma certa confusão com aquilo que se exige a um pedagogo: trabalhar de forma diferente. E isso não é burocracia, é pedagogia.

Já agora… a petição anti-MAIA já conseguiu o apoio de 12.100 pessoas que, claramente, não percebem nada de pedagogia.

E Nem Me Calhou Uma Em Cinco?

Não é por falta de “dificuldades”, garanto. Ou de alunos com RTP ou PEI. Ainda hoje saí com a cabeça espapaçada de uma daquelas aulas integradas no PADDE, em que há quem nem sequer perceba o que é um router, como se liga, que deve vir o caregador com o resto do equipamento, que os cabos não são todos iguais, que online não se fazem apenas cruzinhas, que também se usam maiúsculas quando escrevemos no computador, etc, etc, etc. Azar o meu que tenho entre 22 (porque 2 almas nunca apareceram) e 28 alunos por turma, mas certamente que os amigos inclusivos do senhor ministro terá 16 ou 17, apenas.

A “inclusão” do ministro Costa e do seu mentor, o doutor Rodrigues de Inclusión Y Salamanca, não passa de uma ficção, que nem sequer é piedosa, não por falta de formação dos professores, mas de seriedade de quem legisla e distribui os meios.

João Costa faz balanço da “educação inclusiva” no Parlamento. Turmas menores são uma das medidas fixadas para a maioria dos alunos com necessidades.

“Efeitos Assimétricos”?

Será que o ministro Costa (ou que nem nele manda) não consegue esconder a acrimónia contra o pessoal que teve a coragem de levantar a voz em 2008, já estando na carreira? Porque é contra esses que é bem perceptível a vontade de fazer uma discriminação. Mas, afinal, não trabalharam todos? Não foram esses que levaram com as quotas em cima e os novos escalões da treta (como o 5º do índice 235 e o 7º do índice 272). Quem estava mais no início nem aí ainda chegou. Se todos trabalharam, que m€rdd@ de conversa é esta? Mesmo quem está no 10º merece ser compensado, nem que seja para efeitos de aposentação ou então termos uma carreira a várias velocidades, em que a tutela promove activamente ultrapassagens e um tratamento discriminatório dos mais “velhos” com base em “racionais” de vão de escada.

“Efeitos assimétricos” é exactamente o que o ministro Costa pretende provocar com estas suas “opiniões” asininas e de uma desonestidade intelectual que confrange.

O tempo de serviço vai ser um dos temas do novo período negocial entre Ministério da Educação e sindicatos de professores, que deverá iniciar-se no próximo dia 20. A informação foi dada pelo coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), André Pestana, à saída da última ronda negocial sobre um novo modelo de recrutamento e de gestão de docentes, que terminou sem acordo.

Como já tinha avançado anteriormente, João Costa terá precisado que as novas negociações não incidirão sobre a recuperação do tempo de serviço congelado para todos os professores, mas sim sobre compensações a atribuir a docentes que tenham sido mais prejudicados durante o congelamento das carreiras. Mais concretamente, confirmou o ministro da Educação no final da reunião, “a correcção dos efeitos assimétricos” gerados durante o descongelamento e que se prendem, essencialmente, com a posição na carreira em que os professores foram apanhados durante a suspensão das progressões.

Um Comunicado Em Forma De Coiso

Da Fedapagia, claro. Que nem isto, nem aquilo, não se quer meter, metendo-se. Não quer tomar partido, tomando. Pena é que não se preocupem com a qualidade do ensino costista que vai deixar a Escola Pública a várias velocidades, mas nenhuma delas vagamente desejável.

Porque @s professores tão têm filh@s, nem net@s, claro.

Muito Estuda Esta Gente

04 agosto 2022

Identificamos também uma necessidade que é sentida pelos professores, que é a disponibilidade de começarmos um trabalho para a redução do trabalho administrativo e burocrático dos docentes, com o foco principal na figura dos diretores de turma”, que será com quem “primeiro vamos trabalhar para tentar reduzir a carga administrativa inerente à sua função”, revelou o ministro.

Em primeiro lugarvamos fazer um levantamento junto dos professores do que são estas tarefas, a identificação de redundâncias e tudo aquilo que, no fundo, não tem utilidade. Ou seja, quais são as tarefas administrativas que não se transformam na melhoria do trabalho junto dos alunos, para serem dispensadas”, concretizou.

14 outubro 2022

Questionado também, pela Iniciativa Liberal, João Costa afirmou que o ministério da Educação vai começar a fazer o levantamento, nas escolas, das redundâncias para reduzir a burocracia e para eliminar tarefas desnecessárias que ocupam tempo aos professores.

02 fevereiro 2023

Sobre o excesso de burocracia, o ministério terá dito que estava a estudar mudanças.

27 fevereiro 2023

O ministro avançou que, “fechada a questão do recrutamento”, há outras matérias para trabalhar, como as questões relacionadas com a burocracia