Confesso, não li os detalhes da proposta de OE para 2018. A par da leitura do relatório sobre Pedrógão e da acusação a Sócrates é um dos elementos da trilogia mais deprimente das últimas décadas da vil e apagada tristeza nacional. Ao que percebo, este descongelamento vai tentar legitimar o desaparecimento de uma série de anos da carreira docente para quase 100.000 educadores e professores. De certa forma, até acho coerente que quem começou este estratagema em 2005 (muito antes da troika) acabe por querer consolidar a supressão de quase uma década da vida de toda uma classe profissional. Mas, como é natural, isso não será feito sem que diversos sentimentos surjam e que seja muito difícil não pensar numa forma de retaliação (que não passa por entregar-lhes mais dinheiro, entrando nas coreografias sindicais internas da geringonça). E, como também penso ser natural, a fúria não se dirigirá apenas contra o tripé político da geringonça, por muito que apostem num spin para consumo rápido (o Bloco anuncia 3500 novas contratações, o PCP que a reposição das migalhas será mais rápida) na ausência de uma alternativa credível.
Isto é demasiado deprimente. E ainda mais quando se observa gente a colaborar de forma entusiasmada e activa na palhaçada, no circo, das formações do sucesso, da propaganda da “mudança” e da “inovação”. Há mesmo gente que ou é irremediavelmente estúpida ou estruturalmente invertebrada. E continuem a dar a patinha a quem a pisa ou a alistar-se para kapos dos colegas.
Se apagarem todos estes anos será mais de 20% da nossa vida profissional que desaparecerá de vez. Não há qualquer retórica da “reversão” ou “reposição” que resista a isso. E, como devem calcular, ainda há gente com energia – não confundir com os parceiros das pizzas e dos entendimentos, fénes, fnés ou os outros liliputianos, para os quais nada se apagar, por nenhuma aula deram, só andarem a passear-se por negociações de soma zero – para que a coisa não passe em claro. Eu sei que o desejo é que o pessoal fuja, desapareça, se satisfaça com “ter trabalho” ou então se vá para “dar lugar aos novos”, em especial aos lobos esfaimados de algumas redes sociais.
Mas as coisas poderão não ser assim tão simples.

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