3ª Feira

O exemplo de Passos Coelho é sintomático daqueles casos em que uma pessoa adulta, aparentemente lúcida durante décadas, subitamente se transfigura e transforma em algo parecido a não sei quê. Se da maioria dos outros autores do livro que está a dar polémica eu não esperaria grande coisa (ontem ouvi na SICN um – Paulo Otero – a ser o que sempre foi e outro – Ribeiro e Castro – a ser uma sombra de si mesmo), de Passos Coelho não esperava que a espiral descendente em direcção a uma fé irracional e pré-científica fosse tão acentuada. Caramba, o tipo é uns meses mais velho do que eu, mas parece arrancado à geração dos meus bisavós. E o pior é que o antigo líder de uma jsd outrora não anquilosada, parece acreditar naquilo que agora diz.

Domingo

Antes de mais, é aproveitar o último dia da pausa, antes do regresso. Já sei que o pessoal dos semestres, não sei quê e tal, não pararam ou qualquer coisa assim, mas isso ainda não me interessa. Pelo menos, por agora.

Quanto ao mais, tudo na mesma… primeiro há reunião do novo suserano com os vassalos mais directos. Ou seja, com os seus representantes, não com a maralha toda.

Fica a faltar a criação dos grupos de whatsapp, nos quais se espera maior civilidade no trato do que a usada pelo anterior titlar da pasta sempre que alguma coisa fugia ao seu guião. Acreditem… só lido, para se perceber que para fora era só verniz, mas por dentro era caruncho do pior.

O convite foi feito pelo ministro da Educação, Ciência e Inovação: Fernando Alexandre vai reunir-se na segunda-feira com as associações de diretores e o Conselho das Escolas. Na pasta, os dirigentes levam o pedido de que as provas do 9.º ano sejam feitas em papel este ano e o alerta quanto à falta de professores.

Sábado

É muito concurso.

Entretanto, percebe-se a deriva pretensamente objectivista da avaliação, baseada em grelhas com todos e mais alguns parâmetros, quando, para sub-director-geral da DGAE (3.309,14 € de vencimento base + 608,68 € de despesas de representação), se apresentam como critérios de selecção:

7.1 – A avaliação curricular e a avaliação de competências de gestão enquadram o perfil definido pelo membro do Governo que solicitou a abertura do procedimento concursal, tendo necessariamente em consideração o definido no Regulamento de Tramitação dos Procedimentos de Recrutamento e Seleção dos Cargos de Direção Superior na Administração Pública, designadamente em termos da avaliação de competências ao nível de experiência profissional, formação académica, formação profissional, liderança, colaboração, motivação, orientação estratégica, orientação para resultados, gestão da mudança e inovação, orientação para o cidadão e serviço público, sensibilidade social e aptidão.

7.2 – No perfil homologado pelo membro do Governo para o exercício do cargo a concurso, das 12 competências de gestão enunciadas no número anterior foram identificadas como competências determinantes:

  • Experiência profissional;
  • Colaboração;
  • Orientação para resultados;
  • Aptidão.

Foram ainda identificadas como competências comportamentais determinantes:

  • Determinação;
  • Empatia;
  • Adaptabilidade.

7.3 – Na avaliação curricular são obrigatoriamente considerados e ponderados os critérios de avaliação referentes às 12 competências de gestão enunciadas em 7.1, sendo que, considerando o referido em 7.2 no que respeita às competências identificadas como determinantes, são atribuídos os seguintes fatores de ponderação:

  • Experiência profissional: 10%
  • Formação académica: 8%
  • Formação profissional: 8%
  • Liderança: 8%
  • Colaboração: 10%
  • Motivação: 5%
  • Orientação estratégica: 8%
  • Orientação para resultados: 10%
  • Gestão da mudança e inovação: 8%
  • Orientação para o cidadão e serviço público: 8%
  • Sensibilidade social: 7%
  • Aptidão: 10%

Estou fascinado com a capacidade do júri para avaliar a motivação (5%), a orientação para o cidadão e o serviço público (8%) ou a sensibilidade social (7%).

Mas depois confirmei que é mais ou menos chapa 5, porque para Director Geral da Direção-Geral de Estatística da Educação e Ciência do que antes eram os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Educação (3.778,97 € de vencimento base + 787,38 € de despesas de representação)., os critérios são os mesmos. O mesmo para Inspector-Geral da  Inspeção-Geral da Educação e Ciência. Quase 4600 brutos… não vai mal, não senhor@.

6ª Feira

A equipa de secretários de Estado do Mega-Ministério da Educação foi uma espécie de anti-clímax para quem esperasse algum tipo de fôlego de renovação no sector, para além da parte dos interesses. Se deixarmos de lado a secretária de Estado da Ciência que, com todo o respeito que me deve o seu trajecto como cientista, deve ter sido a 11ª escolha ou, em alternativa, a 14ª para o cargo, ficamos com dois secretários de Estado que são meros representantes da Economia ou do Aparelho Burocrático. Temos o Homem dos Negócios, que tão pacientemente teceu a sua ascensão e imagem de “especialista” (só se for em reformas educativas falhadas ou em “como sacar dinheiro ao Orçamento para as escolas privadas”), e um Burocrata que fez uma carreira atípica, atendendo à sua promissora formação inicial na área da Psicologia.

È um grupo fraco que vai ter de suportar um ministério imenso, conduzido por um ministro estranho à pasta e que, ao contrário do Nulo, não tem uma geringonça aguerrida a defedê-lo. Ministro e secretário de Estado (adjunto) têm produção assimétrica na área da Educação, mas – mesmo tendo em conta que do Homem parece ter desaparecido a sua produção mais juvenil no Insurgente (assim como se apressou a mandar-se apagar do projecto QIPP – o que escreveram ou (não) fizeram já em idade adulta deve ser passível de escrutínio, sem começarem com queixinhas, como o sonso bestial, que sempre deu a entender que críticas às políticas eram ataques pessoais. Aposto que o Homem vai fazer parecido, quando for confrontado com os disparates que escreveu ou com as propostas erradas que apresentou, quando já se sabia que não funcionavam. Numa situação normal, em especial ao nível do “secretariado”, é um grupo demasiado tenrinho, a que não deve chegar a cobertura feita a partir do Observador, por muito óleo financeiro que seja investido nisso.

O que fica escrito, não significa que sejam fáceis os tempos próximos, porque bem sabemos ao que o Homem vem, em matéria de erosão da Escola Pública; quanto ao outro secretário, basta ver o percurso e o tempo passado no interior do aparelho do ME para se perceber que é apenas um elo na engrenagem do modelo de gestão escolar hierárquico e da lógica hiper-burocrática de funcionamento das escolas. Quanto ao Ensino Superior, sim, parece-me que vai padecer de uma certa orfandade. Talvez possam, perante isso, ganhar a tal “autonomia” que tanto reclamam. Assim as Finanças o permitam.

Mas, nada como recuperar o pensamento do ministro em relação à responsabilidade pelos problemas económico-financeiros nacionais, que nunca é imputada à lastimosa classe de gestores e empreendedores nacionais, mas à arraia-miúda. Faz lembrar aqueles que querem que eu feche bem a torneira para poupar água, enquanto os campos de golfe mantêm as suas regas em nome da “estabilidade” do negócio.

Estávamos em Novembro de 2011 e o contexto não explica todo este, na verdadeira acepção da palavra, “radicalismo”, pretensamente refundador da Nação. Porque não podemos todos viver dos muitos milhares ganhos em consultorias, que dispensam meses adicionais de saçário.

O corte do 13.º e 14.º mês para os funcionários públicos deve ser temporário?

Um dos salários deveria ser cortado de forma definitiva. Quando houver condições, os aumentos na função pública deveriam ser feitos com base no mérito. No entanto, o corte de dois meses, para muitas famílias, vai ser brutal.

O corte do 14.º mês ajudava a quebrar as expectativas de que o rendimento na reforma está garantido?

Fazia as pessoas aterrar. Ajudava-as a perceberem que, de facto, muita coisa mudou. Mas ninguém gosta de dar más notícias. A democracia é assim. É curioso verificar que dois terços do aumento da despesa pública foram decididos pouco antes de eleições. O último exemplo foi o aumento dos funcionários públicos em 2009. Nas últimas décadas, a política orçamental portuguesa tem sido uma aberração, e por isso chegamos à situação actual. Agora é preciso dizer às pessoas que o Estado social está a diminuir. Em relação à educação e à saúde tenho muito receio do impacto que esse corte pode ter na vida das pessoas e no bem-estar da sociedade em geral. Um modelo de saúde como o americano é assustador.

Se, entretanto, novo ministro mudou de opinião e perspectiva? Esperamos para ver, mas eu nem me sento… nem me peçam para ter paciência, porque isso tenho há muitos anos, pois faleceu ainda nates da prima esperança.

4ª Feira

É certo que Portugal não ficou rico por ter superavit orçamental (como não tinha ficado quando Afonso Costa conseguiu isso há mais de 100 anos ou Salazar conseguiu de forma continuada), mas é verdade que muitos portugueses ficram mais pobres por causa disso. E a questão é se as contas públicas são uma entidade com vida própria que mereça o sacrifício de milhões. Essa é a questão. Quanto à “teoria dos cofres cheios” , que nem é de agora e que alguns (que há 20-15-10 anos criticavam a obsessão com o défice) agora desenvolvem, para dizer que não é bem assim, nada como recordar o campeão nacional das contas certas.

Debalde porém se esperaria que milagrosamente, por efeito de varinha mágica, mudassem as circunstâncias da vida portuguesa. Pouco mesmo se conseguiria se o País não estivesse disposto a todos os sacrifícios necessários e a acompanhar-me com confiança na minha inteligência e na minha honestidade – confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos. Eu o elucidarei sobre o caminho que penso trilhar, sobre os motivos e a significação de tudo que não seja claro de si próprio; ele terá sempre ao seu dispor todos os elementos necessários ao juízo da situação.
Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o País estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.

0 problema financeiro é redutível aos seguintes dados fundamentais: déficit crónico, que tomou foros de instituição nacional, de venerando monumento nacional, déficit cuja repetição provocou uma dívida relativamente avultada, nem sempre compensada por contrapartida equivalente no activo do Estado; uma dívida flutuante muito elevada, de taxas de juro altas, onerosa portanto e com perigo de reembolso imediato; e uma dívida fundada constituída por tão diversos tipos de empréstimos e juros tão afastados da taxa do mercado que as cotações parecem acusar o nosso descrédito, quando de facto traduzem apenas os baixos rendimentos. Acrescentemos ainda a má arrecadação das receitas e a desigual distribuição dos rendimentos públicos pelos serviços do Estado. (Discursos e Notas Políticas, 1928 a 1966, p. 42)

0 problema financeiro não abrangia apenas o que em sentido estrito se poderia compreender, mas, além do equilíbrio das contas, tudo quanto nele se apoia ou dele pode derivar. Ele abraçaria a repartição dos impostos, a regularização da dívida pública, as taxas de juro, as reservas monetárias, a estabilidade e solidez do valor da moeda, a distribuição e mobilidade do crédito, a dotação eficiente dos serviços públicos, a própria ordem da Administração.
Nesse vasto conceito entravam pois, não apenas a manutenção do equilíbrio orçamental ou a acumulação de saldos no Tesouro, mas a equitativa repartição dos gastos públicos e privados e até as relações da economia nacional com as economias estrangeiras. 0 equilíbrio representaria sobretudo a imagem de um Estado «pessoa de bem», que satisfaz pontualmente os seus compromissos, só gasta na medida das suas possibilidades e sabe organizar a vida colectiva com modéstia e com decência. (Prefácio, p. 10)

2ª Feira

Semestres

(…) Tomando posse amanhã, dia 2 de abril, nada nos garante que ainda esteja em plenas funções no dia 2 de dezembro. O que significa que, com este horizonte temporal, é muito difícil governar sem ser à pressa e em sobressalto, de forma a tentar que, caindo na votação do Orçamento, consiga chegar a eventuais novas eleições ainda num qualquer estado de pouca desgraça. (…)