Como em tantos outros “escândalos” por cá, nascem montes de indignados e especialistas do dia seguinte. Alguns que, pelas funções ou posições ocupadas, dificilmente poderiam ignorar o que se passava, até por causa das denúncias que foram sendo abafadas ao longo de décadas. No mínimo, pecaram por omissão.
Categoria: Especialistas à la Minute
Mais Do Que Uma Enorme Confusão, A Receita Para O Desastre
A nova esperança do PSD para a Educação made in Oeiras vai fazendo o seu trajecto de já duas décadas, aparentemente após uma muito breve incursão pelo Ensino Básico. Agora é autarca e professor do ensino superior e escreve sobre matérias diversas, ali pelo centro do que é consensual para os que andam pelo meio do caminho, mas tropeça em si mesmo quando argumento e opta pelo que parece, mas não é óbvio. Pedro Patacho junta-se à fila dos que querem renovar o acesso ao Ensino Superior, alegadamente para libertar o Secundário da responsabilidade de contar para o ingresso na Universidade e para dar a esta autonomia para escolher os seus alunos, porque, é o que ele escreve, o actual sistema leva a “desperdiçar imenso talento, que fica pelo caminho neste processo altamente seletivo e segregador”.
Esta passagem surge um pouco depois da seguinte passagem:
Portanto, o modelo é segregador, mas o contexto atual já não é de elevada procura/reduzida oferta. Serei só eu a achar que a lógica levou aqui com um nó dos grandes, que até faria o Aristóteles saltar da tumba?
Ok, pronto, o autor está mesmo é preocupado com as “assimetrias regionais”, leia-se muita gente quer fazer os cursos numas universidades e não em outras. As razões para tal parecem escapar à análise e apenas se recomenda que se criem “incentivos à escolha de determinadas instituições, por forma a corrigir as assimetrias regionais, bem como de certas formações, face às necessidades estratégicas do país”, leia-se, tente-se que muitos alunos deixem de procurar as instituições mais valorizadas pelo “mercado” do prestígio (digo eu, que sou “liberal”) e empurrem-nas para as instituições que andam à rasquinha para arranjar alunos e receita.
Complementarmente, defende-se que as instituições do ensino superior “poderiam ter um papel bem mais relevante na seleção dos seus alunos, adequando os critérios de acesso ao perfil do aluno que pretendem captar para cada formação”, num modelo que ainda estou para ver como seria mais inclusivo ou permitiria captar alunos com maior “diversidade” (como se afirma em outra passagem do texto). Só quem for muito ingénuo, acha que um modelo de acesso centrado nas Universidades é menos segregador do que um que resulta da combinação da média do Secundário com a classificação dos exames nacionais.
E é aqui que, para fim de conversa, o autor revela a sua total ignorância (ou uma estratégica amnésia selectiva) quando afirma que temos “um modelo de acesso exclusivamente dependente de classificações em exames”. Como se sabe, o modelo não depende exclusivamente de classificações em exames e este “facto alternativo” parece tanto mais estranho quanto o autor se apresenta nos últimos tempos como “especialista” nestas matérias educativas e até escreveu um livro com abundante revisão da literatura. Em regra, quando ocorrem estes equívocos é porque existe uma razão subjacente. Qual é a de Pedro Patacho, apenas podemos especular, mas não será propriamente a preocupação com a tirania exercida pelo modelo sobre o Ensino Secundário.
Sortido Pobre De Coisas Em Forma De Não Sei Quê
Será que esta senhora sabe que em muitos concelhos há “caixotes escolares” a mais de 10 km da casa da petizada da pré e do 1º ciclo?
A professora catedrática Beatriz Pereira, da Universidade do Minho, que é especialista na área da educação das crianças, deu nota da importância do desenvolvimento motor e intelectual dos mais pequenos, para que estes sejam autónomos nas suas deslocações para a escola, foi hoje divulgado.
Nem sabia que este senhor ainda se metia nestas coisas. Pensando bem, acho que nem ele sabe exactamente do que está a falar.
Educação: “O Estado é monopolista descarado”, diz antigo presidente do Conselho Nacional de Educação
Mário Pinto lamenta que o ensino em Portugal não cumpra “com escrúpulo” a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O antigo presidente do Conselho Nacional de Educação participa, em Viana do Castelo, de 10 a 12 de junho, no Congresso Popular sobre Diretos e Liberdades Fundamentais.
Será que o ex-secretário Casanova se lembra do que fez quando foi governante ou a desculpa da troika lava tudo mais branco? Ou será que pensou tanto que não conseguiu fazer nada de jeito?
Sendo por todos reconhecido que a Educação é a maior alavanca para o desenvolvimento sustentável de um país, é necessário que haja coragem para a colocar na linha da frente das nossas prioridades.
Este, pelo menos, não escreveu sobre a Ucrânia. Mas este tipo de prosa não ficaria melhor no jornal do partido?
Já agora… mas não andam a dizer que os professores são quase todos anciãos?
No mundo há as experiências mais diversas de escolas, sabemos bem. Escolas sem edifícios, sem bares ou cantinas, sem funcionários de apoio, sem livros e, mesmo quando não há professor, no limite, aparece um ancião, alguém que substitui as suas funções. Sem estudantes é que a escola não existe. Gonçalo Francisco, da Juventude Comunista, na rubrica Lugar aos Novos
O Culto Especializado Em Especialistas
Todos juntos, devem ter dado umas zero aulas o Básico ou Secundário desde a viragem do milénio, incluindo o elemento do Conselho de Escolas, que é director desde 1998 (em dois locais), salvo erro. Quanto ao resto… nem me lembro se chegaram a ver uma sala de aula por dentro desde que lá entrei como professor.
Não é só a classe docente que envelhece. Há quem acrisole.
O Culto Sindical Dos “Especialistas”
4ª Feira – Dia 52
Desculpem-me, mas cansa estar sempre a ouvir, por exemplo, críticas à formação de professores por parte de quem fez toda uma carreira a formá-los. Se algo está mal e falhou, grande parte da culpa é mesmo vossa. Tenham a coragem de o admitir.
A Sério?
Que pena que quando se disse exactamente isto há meses (o problema não era o vírus estar debaixo das mesas, fecho e abertura de escolas deveria ser faseado), tivesse sido sem o selo de “especialista”, mas apenas de pessoas com dois dedos de testa.
Mas já sei que o PM viu “divergências” entre os especialistas, porque um maduro qualquer disse o que ele queria ouvir e que ele não governa com base em “previsões”, a menos que sejam as do centeno, descendentes e colaterais. Que tendem a falhar e não é pouco, mas sáo sempre respeitadas.
Trump Viral
A reacção epidérmica é considerar que há uma certa “justiça” em Trump ter sido contagiado pelo vírus. Pensando um pouco mais, talvez se perceba que, se estiver cá fora daqui a uma ou duas semanas com aparência revigorada, ainda ganha as eleições porque, afinal, enfrentou a doença e venceu e quem tem medo ou morre só pode ser fraco. Por isso, guardem lá o fogo de artifício porque o Bolsonaro e o Boris também foram contagiados e estão aí a governar a seu belo prazer, mesmo se o primeiro continua burro todos os dias. E não é por cá fazerem posts inflamados ou abaixo assinados que ele deixa de ter a popularidade em alta.

Todos Os Anos É O Mesmo
Aparece sempre um destaque oportuno do estudo anual da OCDE a dizer que os professores portugueses isto e aquilo, são uns privilegiados que ganham que se fartam e tem montes de regalias. É mais do que evidente que um professor ganha mesmo mais do que outros profissionais com qualificações idênticas… até porque os professores, na sua larga maioria, tiveram de fazer formações pós-licenciatura. Estou mesmo a ver um médico com 30 anos ou mais anos de carreira a levar 1500 euros limpos para casa. Ou um advogado. Ou um engenheiro. Ou um economista, mesmo no mais falido dos bancos.
Mas mesmo que assim fosse, garanto que o mereceria e só tenho pena que estes estudos do Education at a Glance deixem muito a desejar em algumas comparações que fazem sempre com base numa tabela salarial e estrutura de carreira que são uma ficção. Adoro quando eles fazem aquela de colocar um professor com 15 anos de serviço a ganhar pelo 4º escalão, quando quase todos estão no 2º. Mas é o que fazem passar para a opinião pública.
E depois há coisas incompreensíveis, quando a tabela salarial é única para todos os níveis do Ensino Não-Superior. O que quer isto dizer?
Flexibilidade Comercial
Depois de uma mentora do pafismo educacional publicar um manual para as flexibilizações e autonomias num grande grupo editorial, é a vez de me chegar a publicidade a um outro manual (mais virado para as “práticas”) do seu colega mentor da coisa no grupo editorial concorrente. Fizeram bem, dividiram-se e assim conseguem o melhor de dois mundos a duplicar. Chamem-me puritano, qualquer coisa assim, mas há anos e anos que critico esta forma de estar por dentro de tudo e ainda fazer a festa cá fora. Quando se criticam tanto os professores por questões menores, fica todo o campo aberto para os especialistas serem consultores do poder político, neste caso do ME, e delinearem os traços de políticas que depois aparecem a explicar em publicações de tipo comercial e não emanadas do próprio ministério com quem colaboraram. Sim, eu sei que os tempos estão para organizar a vidinha como se pode e para serem arquivadas todas as questões de tipo “ético” (ouvi uma advogada de um recente arguido que beneficiou de arquivamento da queixa contra si a dizer claramente que as questões éticas não são da competência dos tribunais e a verdade é que tem razão), mas isto começa a causar um certo incómodo, porque se repete uma e outra vez e tem quase sempre o mesmo “círculo” a desenvolver estas belas práticas. A sério, quase consigo ver já os nomes no frontispício dos manuais sobre Educação “Inclusiva” que devem estar por aí a aparecer, a ver se apanham a boleia das vendas natalícias de fim de ano.