Para A Maioria Dos Que Estão Na Carreira Há 20 Anos Ou Mais, É Mentira

E nem sequer vale a pena dizer que 39 anos completos de serviço, para quem teve anos incompletos no início da carreira, podem ser 45.

Os professores precisam de trabalhar, em média, 39 anos e ter 62 anos de idade para chegar ao último escalão da carreira, segundo o relatório “Estado da Educação”.

Olhó Estudo Da Treta Fresquinho!

Desta vez pela mão da Leya. È bom sublinhar que em nenhuma passagem do inquérito existe qualquer tipo de mecanismo de verificação da fiabilidade dos dados inseridos, pelo que qualquer pessoa pode preencher aquilo como professor@ ou alun@. Apesar disso, haverá especialistas sorridentes a analisar e comentar os resultados.

A “felicidade” tornou-se um negócio tão atractivo que até desviou do caminho quem tinha aparecido a defender uma ordem dos professores e agora mal fala nisso, de tão feliz com o novo rumo.

Caro/a professor/a,

O presente questionário inscreve-se no estudo sobre a felicidade nas escolas portuguesas, sendo realizado pela Escola Amiga da Criança.

Pretendemos conhecer a sua perceção sobre a sua felicidade no contexto da escola e na relação com os seus alunos, c olegas e família.

Solicitamos a sua colaboração no preenchimento deste questionário. Estimamos que o seu preenchimento demore cerca de 8 minutos.

As respostas são facultativas, anónimas e confidenciais, servindo apenas para efeitos de investigação.

Caso esteja a lecionar em várias escolas, deve ter como referência a escola na qual tem mais tempo letivo atribuído.

A sua colaboração é muito importante.

Para qualquer dúvida ou esclarecimento adicional, pode p.f. contactar o seguinte email: escolaamigadacrianca@gmail.com

 Agradecemos, desde já, a sua colaboração. 

5ª Feira

A deriva para o digital nas provas de aferição não me levanta problemas por ser o “digital”, ao qual recorro há muito tempo, em termos de investigação desde o início dos anos 90 quando o grupo de trabalho em que me inseria informatizou os dados das viagens e naufrágios da Carreira da Índia e mais tarde o movimento do porto de Lisboa no fim do século XVIII-início do século XIX. Em sala de aula uso-o há tempo suficiente para ter ouvido, durante anos, algumas críticas em surdina por andar sempre a mudar as minhas turmas de sala, para terem a possibilidade de mexer semanalmente nos computadores desde o 5º ano.

O “digital” não me incomoda em si mesmo, apenas me incomodando quando é apresentado como praticamente a única via para o futuro, desde tenra idade, sem que exista o cuidado de não se perderem competências ao nível da motricidade fina, da capacidade de escrever e compreender textos em letra cursiva ou elaborar parágrafos e textos com lógica e sequência sem “muletas”.

Por isso e não só, porque há muito tempo que defendo que, a existirem provas de avaliação externa, devem ter uma estrutura que torne comparáveis os resultados ao longo do tempo, em séries longas, sem “cortes” resultantes de mudanças significativas dos programas, das “aprendizagens” tidas como “essenciais” ou da própria estrutura das provas, só posso estar de acordo com o grupo de “peritos” (embora esteja lá a minha “adorada economista Peralta que de perita em Educação tem muito pouco, para além das ligações académicas) que Os instrumentos de avaliação devem ser melhorados e as provas de aferição ou exames (elaborados pelo Instituto de Avaliação Educativa, IAVE) devem ter um grupo de “perguntas âncora” que permita comparar a evolução dos alunos de ano para ano. Porque só assim poderão ter alguma utilidade, para além de oportunismos políticos ou para legitimar necessidades de formação ou alteração de programas, a cada triénio.

Sim, há que evoluir, há que mudar, mas essa “evolução” e a consequente “mudança” não devem estar apenas ao serviço de umas ideias vagas e pseudo.modernaçãs sobre a “Educação no século XXI”, expressão que ouço com crescente conteúdo demagógico, há mais de 30 anos, quase 25 deles já dentro do século em causa.

Entretanto, também surge, na mesma página do JN de ontem uma referência a um estudo sobre o “bem estar” e a “saúde psicológica” de alunos e professores. Três notas breves sobre um assunto bem mais importante do que o espaço que tem merecido.

  1. A proporção de professores em sofrimento nas escolas é muito superior à dos alunos.
  2. Esse sofrimento não se resolve com “formações” que apenas pretendem que as pessoas lidem com o que as faz sofrer, em vez de combater o que as faz sofrer.
  3. As causas desse sofrimento são por demais conhecidas e só muita má fé ou estupidez dos decisores políticos pode justificar que aleguem desconhecê-las e quais as soluções, muito claras, para as reduzir.

5ª Feira

Vejo muita gente a partilhar as notícias sobre um estudo cujas conclusões eu podia ter escrito antes da investigação que foi feita. E interrogo-me sobre a razão da excitação. Já no meu tempo as aulas eram, em muitos casos, chatas. Mas, verdade se diga, muitas delas necessitam mesmo de ser chatas e, como eu já disse a muitos alunos meus, também são chatas para os professores. O trabalho nem sempre é alegre, ao contrário de slogans de outrora. Por vezes, há necessidade de fazer esforço para compreender, praticar, repetir, apropriar-se de saberes que podemos considerar inúteis em dado momento. São as chamadas conclusões da treta, em cima do óbvio. Afirmar que as aulas e a escola devem ser apenas diversão e lazer é que é demagogia e, quiçá, “populismo”. Quanto aos “professores” referidos em algumas notícias, limitam-se a dois directores que não sei quando deram a última aula ou a última aula interessante a quem quer que seja. Há aulas minhas que são terrivelmente chatas, porque eu nem sempre faço malabarismos com copos ou equilibro moedas na ponta do nariz. É a vida, tantas vezes chata. Se lhes perguntassem, os petizes também diriam que a chuva é chata. Até muitos adultos Mas faz falta. Em excesso pode ser prejudicial, mas faz falta. As aulas, também e não me venham com o “podem ser diferentes”. Claro que podem. Até podemos acompanhar a lógica do ministro Costa (sim, ele é chamado para isto) até ao seu desfecho final e considerar que nem deveriam existir aulas, apenas abluções matinais em honra daquela música dos Pink Floyd. E acabar de vez com os professores (chatos e não só), deixando apenas monitores a tomar conta da criançada. Monitores humanos e digitais, como é evidente.

Sabem O Que É Mesmo Uma Injustiça?

Os meus colegas de curso fizeram uma licenciatura de 4 anos e, para darem aulas, fizeram o ramo de formação educacional de 2 anos, um de disciplinas teóricas e um de estágio, com horário e turmas atribuídas, num total de 6 anos de formação científica e pedagógica. Não são reconhecidos como “mestres”.

(eu não fiz esse percurso, pois só me profissionalizei muito mais tarde, já com tempo de serviço suficiente para só fazer as disciplinas teóricas onde tive professores que tinham menos habilitações académicas que eu. Lamento, eram boas pessoas, bons profissionais, mas que me lembre só um tinha mestrado completo como eu, na altura)

Mas, agora, com cinco anos, já temos “mestres de aviário”, profissionalizados e com direito a peças jornalísticas que consideram que são eles os mais qualificados, pois aos “envelhecidos” nem lhes é reconhecida a equiparação ao mestrado, embora tenham estudado mais e tenham uma formação científica de longe muito maior, garanto-vos eu, por muito que me apareçam aí a dizer que até fizeram 6 créditos em sociologia do carapau alimado e mais outros 6 em metodologia do projecto transversal, mail’a formação em avaliação cósmica e rubricas pedagógicas.

Não me gozem, por favor, que estou mesmo velho para parvoíces. Mas com especialistas made in isczé da “reitora” (o tema e conclusões do recente doutoramento não enganam acerca de uma “agenda” que passa pela promoção das PPP na Educação), havemos de esperar o quê? Mesmo que depois digam que há falta de “estímulo” e tal, a verdade é que apenas aparecem para enterrar mais quem não anda por cá a fazer fretes e consultorias.

E basta lembrar o que andou a dizer sobre a falta de professores, tanto uma coisa como quase o seu contrário em menos anos do que os dedos de uma mão que foi à guerra e voltou com necessidades de saúde específicas..

Mas Estão A Falar De Que Professores?

Dos novos ou dos envelhecidos? Se é dos novos, calma, que têm tempo. para aprender.. porque se os velhotes não faltarem (como afirma o ministro), nem sequer têm vaga.

Cursos que formam professores têm base “sólida” de linguística, mas inconsistências no ensino da leitura e escrita

Há uns bons anos, quando disse que havia insuficiências evidentes nos cursos de formação de professores, uma figura inoxidável (mas discreta) do sistema disse-me logo que estava tudo certificado pela A3ES. Pouco tempo depois, é ver quem fez (ou faz) carreira na formação de professores, quando se transforma em “investigador@” ou “perito” (no caso da Edulog), a encontrar todas essas e muito mais falhas. Tudo depende da situação ou posição relativa em cada momento

Falta experiência de sala de aula na formação de professores do 1.º ciclo

Para quem estiver distraíd@, gostaria de chamar a atenção para o facto da divulgação deste tipo de estudos acontecer de forma curiosamente articulada com as conclusões de outro estudo, do IAVE, sobre as provas de aferição do 2º ano.

Coincidências…

Há Estudos Que Descobrem Coisas Fantásticas!

O ambiente da escola e a qualidade da gestão dos agrupamentos escolares aparecem associados ao sofrimento psicológico dos docentes, com algumas variações e agravamento com a idade e o tempo de serviço, afetando principalmente as mulheres e registando variações regionais.

Isto vem na página V. Na página VI surgem as recomendações a que daqui a pouco já me dedicarei com natural interesse 😉 Mesmo se acho a amostra muito curta (menos de 1500 docentes), para tanta instituição que aparece associada ao estudo.

As Inspecções Da “Inclusão” Já Andam Por Aí

Mas quer-me parecer que andam mais numa de ver as monitorizações em grelhas aprumadas. Embora ameacem que podem entrar pelas salas dentro, algo que sem a devida identificação, no momento oportuno, me parece uma prática algo irregular. Entretanto, já se ouve o esfregar de mãos dos “formadores inclusivos” da corte do agora ministro Costa. Há powerpoints que andam numa roda viva.

Público, 14 de Abril de 2022, artigo de Clara Viana

O curioso é que a equipa da OCDE diz que onde foi tudo é maravilhoso. No entanto, devem ter-lhes dito outras coisas e eles acreditaram. E ficamos sem perceber no que as recomendações agora publicitadas se baseiam. Na observação directa não foi, portanto… será na base do interesse do “encomendador” que se concluiu existir “segregação dos alunos imigrantes” para agora justificar medidas a preceito?

Lamento, mas conhecendo até de perto a realidade de um dos seis (6!) agrupamentos de escolas que foram visitados em 2021 e leccionando em um (a 5 minutos de carros) onde a proporção de alunos oriundos de fora de Portugal andará pelos mesmos valores, acho que estas conclusões não passam daquilo que já se sabe. Se o “cliente” pediu e pagou uma mesa com três pernas, quem são os carpinteiros para lhe dar uma com quatro?

Parece Que Finalmente Estão A Aproximar-se Do Principal

Sou um crítico muito, muito antigo, da formação de professores em aviário por gente que do ofício percebe muito pouco. Tive demasiadas experiências em tempos passados de gente que dava formação sobre Pedagogia que era uma nódoa em termos pedagógicos. Relembro sempre um emissário do ME a uma sessão na minha profissionalização em que já falava de flexibilidade, mas só aceitava que o questionassem depois das duas horas de descarga de chavões e propaganda. Conheço directamente gente que forma professores porque fez tudo para escapar a ser professor do Básico e Secundário e poder colocar “Ensino Superior” na chancela ou oráculo. Na maior parte das vezes, fingem que não ouvem, clamam que fazem o melhor que sabem, mas a verdade é que sabem pouco e nem isso, tantas vezes, conseguem ensinar. Recomendam sebentas, apresentam powerpoints e é tudo. Leram, com sorte, um punhado de livros de fio a pavio sobre a matéria em dado momento da vida e encalharam.

Há gente boa, de qualidade, dedicada, actualizada?

Há. Mas há também muita tralha pelas Universidades e Politécnicos deste país, de onde saem boas professoras e bons professores à própria custa, do seu interesse, do seu esforço, da dignidade. Desde meados dos anos 80, com as naturais excepções em termos de instituições ou de departamentos em algumas instituições, enquistaram-se mini-feudos com origem nos Ramos de Formação Educacional, onde se alapou muita gente que nem ensinar sabe. Apenas sabe produzir a papelada necessária para a certificação do curso. Até porque são inspeccionados, em muitas situações, por outros como el@s.

Estou a ser injusto? não, por acaso até acho que estou a ser meiguinho com a complacência que marcou as últimas décadas na formação inicial de professores, em que não é raro que a maior preocupação seja arranjar as cadeiras necessárias para ter os créditos indispensáveis para assegurar o lugar. Em muitos casos, para não ser recambiado para aquele inferno de onde se livraram e para o qual mandam (quando lá conseguem chegar) professores certificados por quem chegou ao lugar na base de um ou mais dos três C’s (a cunha, a cama ou o cartão).

A Universidade é assim mesmo, não apenas na formação de professores? Quiçá… mas que tal irmos tratando de uma coisa de cada vez, sendo que é esta que agora parece afligir tantas almas omissas durante tanto tempo? O que fez, por exemplo, o agora omnipresente em todos os think tanks fundaciuonais, ex-ministro David Justino quando esteve na 5 de Outubro, no CNE e arredores?

Só um terço dos docentes que formam professores tem experiência na área

Seria Muito Demorado Fazer Uma Nota Técnica?

Foi divulgado um relatório sobre O Estado da Tecnologia na Educação – 2020/21. Eu percebo que o documento que se manda para a comunicação social aposte muito nos grafismos atractivos e nos valores redondos para simplificar a mensagem. Mas existem algumas exigências “técnicas” que deveriam ser respeitadas mesmo em casos destes. Por exemplo… o número de inquiridos e a sua caracterização de forma clara. Não é que isso signifique uma alteração nas conclusões, mas um tipo fica todo baralhado quando tenta saber quem (ou quantos de cada parcela da amostra) respondeu exactamente o quê. Porque não se percebe o que são “outros representantes educativos” ou quantos deles foram inquiridos. E se esses estão incluídos nas “mais de 2580 respostas”, os números depois não batem muito certo, porque se somarmos as parcelas para os ciclos de escolaridade identificados, chegamos a um valor de 2690 respostas, teoricamente só de professores, muito acima dos 2137 referidos mesmo acima na mesma página. E incluem os directores nos professores ou não?

Isto para não falar na ausência de respostas do 1º ciclo e pré-escolar. Ou do que foi exactamente perguntado. E como foram as respostas por ciclo de escolaridade e “estatuto” (professor, director ou “outro representante educativo”).

Acredito que exista o “estudo” base onde todos esses dados estejam, mas nesta espécie de brochura, algo ficou claramente por fazer. e a “tecnologia” até podia ter ajudado.