6ª Feira – Dia 68

Este vai ter poucos gostos.

Sei que é um tema estranhamente pouco consensual. Um assunto que levanta reservas, com muita gente a torcer o nariz, porque entrevê em quem o defende intenções segundas, aspirações ocultas, todo um programa que vai além do que fica explícito. A ligação à defesa de uma Ordem dos Professores é quase imediata. Mas não é necessário que assim seja. Uma profissão como a docência é das que de forma mais natural deveria exigir a existência de um código deontológico para regular o seu exercício.

Agora No Público

O texto aqui divulgado em primeira mão do João Paulo Maia, mas sem a foto que o faz parece um novo Infante.

Será eticamente aceitável retomar aulas como parece estar previsto? – Uma alternativa

Este regresso às aulas presenciais, nestas circunstâncias, parece ser de enorme leviandade e, consequentemente, um erro ético que não deve passar em claro.

Thumbs

Flexibilidade Comercial

Depois de uma mentora do pafismo educacional publicar um manual para as flexibilizações e autonomias num grande grupo editorial, é a vez de me chegar a publicidade a um outro manual (mais virado para as “práticas”) do seu colega mentor da coisa no grupo editorial concorrente. Fizeram bem, dividiram-se e assim conseguem o melhor de dois mundos a duplicar. Chamem-me puritano, qualquer coisa assim, mas há anos e anos que critico esta forma de estar por dentro de tudo e ainda fazer a festa cá fora. Quando se criticam tanto os professores por questões menores, fica todo o campo aberto para os especialistas serem consultores do poder político, neste caso do ME, e delinearem os traços de políticas que depois aparecem a explicar em publicações de tipo comercial e não emanadas do próprio ministério com quem colaboraram. Sim, eu sei que os tempos estão para organizar a vidinha como se pode e para serem arquivadas todas as questões de tipo “ético” (ouvi uma advogada de um recente arguido que beneficiou de arquivamento da queixa contra si a dizer claramente que as questões éticas não são da competência dos tribunais e a verdade é que tem razão), mas isto começa a causar um certo incómodo, porque se repete uma e outra vez e tem quase sempre o mesmo “círculo” a desenvolver estas belas práticas. A sério, quase consigo ver já os nomes no frontispício dos manuais sobre Educação “Inclusiva” que devem estar por aí a aparecer, a ver se apanham a boleia das vendas natalícias de fim de ano.

smart-ass

 

O Jornalismo (Quase) Redescoberto

Ontem dei-me ao trabalho de acompanhar mais de meia hora o Expresso da Meia Noite, coisa que não fazia há muito, desde que comecei a achar que as notícias que interessavam conhecer morriam no Expresso, quando comprava o exclusivo de diversos papers. Ou quando se truncava informação, omitindo nomes, com a desculpa de “o que interessa é mudar os procedimentos”.

Eu discordo. Discordava. Discordarei. Precisamos de saber, com nome e cara estampada, quem foram aqueles que acentuaram os velhos traços de Portugal como um recanto amigável para redes de corrupção, nepotismo e caciquismo. Tabloidização? Transparência? Não sei… o que sei é que há muito que é sabido e não publicado, não por falta de provas equivalentes ao que é divulgado, mas porque não convém em dado momento.

(quem seguiu o programa, terá ouvido uma jornalista dizer que sabe quem é um “Pluto” na lista de pagamentos do GES, mas que não é “relevante”… será mesmo?)

O painel, com moderadores incluídos, tinha 6 jornalistas que, talvez por serem mais novos do que eu, pareciam estar a descobrir naquele momento o país em que têm vivido. Num lapso, um deles lá afirmou que desde 2004, quando Sócrates se candidatou a líder do PS, se sabia que alguma coisa de menos bom o rodeava. Mas que todos se tinham calado. Pois… mas se até eu sabia que Sócrates era “má moeda” e vivo no desterro aldeão, sem acesso a tertúlias da grande urbe, como é que eles podem dizer que eram apenas “rumores” que acabaram por não ser notícia.

Raios, desde 1987 que eu não votava para as legislativas e mexi-me em 2005 para votar contra o que aí vinha. Não sabiam? Não eram nascidos? Não queriam saber? Não os deixaram noticiair? A culpa foi da inépcia do Santana?

Não. As razões foram outras que um dia talvez alguém tenha coragem para admitir, quiçá depois de prescrever o que fizeram, omitiram, receberam, etc.

Outra coisa gira foi dizer que nada disto se sabia durante o mandato de Sócrates. Que o Ministério Público agarrou em coisas posteriores, de 2013 e foi recuando até dar com as outras. Phosga-se, que grande treta.

Em 2008 e 2009 já não se sabia que aquilo estava “podre”? São capazes de dizer que não sabiam de nada mesmo? Ainda houve quem dissesse, durante o programa, que o silêncio da classe política é enorme e que pouco se diz sobre o que se vai sabendo “agora”. O Santos Silva é assim tão ingénuo? O próprio António Costa? E o que dizer do Grupo Lena facturar à grande com a Parque Escolar, mas ninguém tocar na MLR, mesmo depois do caso João Pedroso (sim foi ilibada à 2ª, mas alguém tem dúvidas do que se estava a passar?).  Não se tinha apercebido de nada? Porque eu bem vi quem eram os governantes no lançamento do livro dela… o jamé e o campos da testa alta, que depois apareceu em fotos nos copos a ver tv com o engenheiro. Tudo bons rapazes e rapariga. De nada souberam. A muralha d’aço vai proteger esta gente até quando?

Pois… o silêncio é da classe política, mas não só.

Perguntem a alguns dos senadores do jornalismo de sofá, alguns deles dos vossos grupos editoriais, que subiram – não apenas no actual Global Media – a posições de muito poder e acesso a informação há uma década, e depois digam-me onde e porque começou a omertá. Perguntem a muitos colegas que andaram por esse mundo a fazer a “cobertura de eventos” com muita coisa paga, às claras ou às escuras. A sério que não sabem mesmo como apareciam certas notícias? Durante segundos, no programa, falou-se mesmo em “publicidade”, mas o programa estava quase a acabar.

A sério que não sabem mesmo de nada?

Ou é apenas para se limparem de não terem dado ouvidos a quem vos avisou que o barco estava cheio de ratos a dar cabo de tudo?

Surdez

 

Isaltinismo

Acerca do post sobre o facto de se ter já percebido que as decisões sobre o currículo do 1º ciclo estão tomadas há muito tempo e tudo isto que se vai observando – incluindo as provas de aferição do 2º ano – ser uma enorme encenação para encobrir acordos estabelecidos entre amigos para alargar o poder de um determinado grupo de influência, algumas pessoas que muito estimo pessoal e intelectualmente, deixaram-me comentários “numa rede social” (comentar aqui é mais complicado, dá a sensação de ser mais visível, pelo que respeitarei e não direi de quem são) que se podem resumir da seguinte forma “é pá, a medida é boa, para quê estar a questionar o processo de a tomar?”

Podem ler por vós mesmos:

Faz todo o sentido haver pelo menos 5 horas no 1.º ciclo (e até noutros ciclos!) para “expressões físico-motoras e artísticas. Não vejo qual é o problema. (VT)

Se a medida é boa???? É excelente! Isto é preso por ter cão e preso por não ter… (DR)

Esta lógica do “é bom, então avance-se e não nos preocupemos” tem para mim um par de problemas.

  • Em primeiro lugar, até pode ser “bom” ou “excelente”, mas não sei se foram consideradas outras hipóteses igualmente boas ou excelentes. Ou… se o foram, se foram descartadas porque na entourage ministerial não existe ninguém ligado a este ou aquele lobby capaz de pressionar o desenho do currículo em determinado sentido. Há declarações acerca do que é certo ou errado nisto tudo que a mim mais não parecem do que proclamações pessoais de fé sem fundamentação inquestionável.
  • Em segundo lugar, e mais importante, para mim os procedimentos podem dizer muito sobre a natureza de algumas políticas, por virtuosas que se anunciem. Se umas determinadas provas são apresentadas como ferramenta para definir uma política e se percebe, no primeiro dia em que estão a decorrer, que já existe todo um aparato de propaganda destinado a legitimar conclusões já adquiridas e medidas já decididas, algo para mim está errado. Ignoremos que me tenho informado sobre alguns dos meandros deste processo. Fiquemo-nos pelo que é público, para evitar problemas. Como é possível que no dia 2 de Maio se apresentem já medidas a tomar no próximo ano para o 1º ciclo em termos de alteração da matriz curricular e distribuição de horas, antes de se conhecerem os resultados das provas aplicadas a partir desse dia? É porque as “impressões” que se recolheram não precisam de outro diagnóstico ou “fotografia” e tudo não passou de um (quase) hábil estratagema.

Há pessoas para quem a alegada bondade das medidas (algo haveria a debater nesta matéria, mas esqueçamos isso para não complicar mais as coisas) justifica que se retorçam os procedimentos ou que se desrespeite aquilo que as próprias pessoas envolvidas declararam publicamente. Claro que em privado eu sei há muito tempo que o objectivo é aplicar o que está na apresentação do secretário de Estado João Costa. Claro que as pessoas que tiveram acesso privilegiado (não foi o meu caso, eu cheguei lá em recipiente requentado) à definição e, mais tarde, à forma de divulgar estas medidas, sabem há muitos meses que é isto que é para implementar. E há muito que há nomes para ocupar e formar o “terreno”, se é que me consigo fazer entender. O que me choca – e nem devia, porque eu já sei como isto se faz, mas ainda espero, a cada novo turno, que as pessoas façam diferente dos antecessores – é que se façam declarações públicas mistificadoras.

E não é a primeira (ou segunda vez).

Sobre a flexibilização curricular foi a mesma coisa. Publicamente desdizia-se o que era afirmado com toda a certeza em ambientes mais restritos. A coisa acabou por ficar adiada, mas só o foi porque houve bom senso a outro nível.

Sobre o Perfil dos Alunos passa-se o mesmo. Ainda não conhecemos o resultado da “consulta pública”, mas já é apresentado como final o que foi divulgado como proposta.

Claro que quem acha que isto é o supra-sumo da Pedagogia e da Educação no século XXI considera que é importante forçar a coisa e implementá-la seja de que maneira for e lá me aparecem com a tal coisa do “phosga-se, Paulo, não nos chateies se foi feito assim ou assado, se isto é tão bom”.

Não, meus amigos, as coisas não devem ser assim. A minha filha poderia adorar astrologia e cartomancia (por um acaso dos távoras é mesmo de educação física e desporto, apesar dos contratempos) mas não seria por isso (ou por causa dos gostos, inclinações ou interesses de conhecidos, amigos ou apoiantes) que eu defenderia esta ou aquela medida como boa e que se lixe todo o resto. Ninguém me leu ou ouviu ainda defender o reforço do ensino da História no 1º ciclo e essa é a minha área de formação e estudo. Por acaso, acho muito mais interessante que se alargue o tempo para as Ciências Naturais, mas essa é toda uma outra conversa. Como nos tempos em que critiquei o Crato por misturar-se no programa e ensino da Matemática, critico estes por se meterem da forma errada nesta matéria e por o fazerem na base da dissimulação.

Pensava que pelo menos uma parte do PS já tivesse aprendido com os erros da outra senhora, mas não.  E pensava que o Bloco e o PCP servissem para alguma coisa, mas… não.

Os fins justificam os meios. E quem se meter no caminho, leva. Conhecemos o método. Infelizmente.

Moralismo?

Não… acho é que por maus que os tempos estejam, a ética não pode ser um luxo.

Isaltino

O Costume?

Comecei a receber e a pré-analisar os manuais de Português para o 6º ano, o que significa ver quem o aspecto geral do “projecto”, @s autor@s, como se encaixam nos materiais que temos usado, perfil de alunos, etc. Agora, de há uns bons anos para cá, pelo menos uns 15, temos direito aos “consultores científicos” aos “revisores pedagógicos” e títulos equivalentes. Em 3 dos 4 primeiros que agarrei dei com 3 autoras (ou coautoras quando há mais humildade) das Metas Curriculares e do Programa de Português do Ensino Básico.

Eu sei que não é ilegal, claro, mas continua a não me cair muito bem no goto que as pessoas que são pagas pelos dinheiros públicos para elaborarem um programa disciplinar depois apareçam associadas a projectos comerciais privados ligados a esse mesmo programa. As “formações”, enfim… Mas andar a apoiar a venda, desculpem, revisão de manuais? Pode ser esquisitice minha. Mas acho que é algo que navega nas águas das explicações na área de exercício da docência. E acho muito menos transparente do que o que motivou enorme alarido mediático acerca da oferta dos manuais aos professores.

Aquela coisa da ética e da deontologia continua sem código de estrada, portanto os condutores continuam a poder fazer as manobras que entendem. As editoras seduzem, a carteira anda fraca, o mundo pulo e avança como se fosse um tablet nas mãos de uma criança *.

pluto-scratching

* – Piada em camadas… não sei se repararam… com aquilo dos e-manuais… espectáculo… isto não é todos os dias, nem em todo o lado…