Podia ter-se prevenido em vez de andar a remendar, mas isso agora não interessa nada. Mais vale tarde…
Categoria: Excitações
Por Acaso, Lembro-me De Alguns Dos Qualificativos Que Me Dedicaram Quando, Há Uns Bons Meses, Avisei Que Isto Era O Mais Certo
“Foi o principal problema, durante a prova os computadores bloquearam e foram reiniciados e desligados à força várias vezes. Não era ficar lentos, era bloquear tudo. Os alunos não conseguiram resolver a prova em 90 minutos e aí vêm os procedimentos que nós dizemos que não foram acautelados”, assinala a presidente da associação Fernanda Ledesma à TSF, referindo que houve alunos que submeteram a prova incompleta e outros que ficaram mais tempo a completar o que não conseguiram no tempo definido.
Só?
Não Gostam De Apontar A Suécia Como Exemplo?
Via António Rodrigues.
Já com a municipalização, tinham invertido a marcha quando ainda os homenscristos (por quem o ministro Costa nutre natural “consideração (…) enquanto analista e comentador”) andavam por cá a vender a teoria. E por “vender”, quero dizer literalmente.
S’appuyant sur l’avis de médecins, le gouvernement de centre-droit veut réduire le temps passé par les élèves devant les écrans et faire revenir les manuels scolaires dans les classes.
Mais Vale Tarde Do Que Nunca
Não foram el@s que denunciaram, mas isso agora não interessa nada. Mas é sempre interessante que cheguem a uma conclusão que deveria ser óbvia há algum tempo… porque ainda há poucos meses pareciam estar tod@s preparad@s para a coisa. E ainda me lembro da forma como eram tratados os que duvidavam.
A ANPRI diz ser a favor da desmaterialização “mas não desta maneira”, uma vez que na maioria das escolas não existem técnicos informáticos para instalar e testar as aplicações e, por isso, terão de ser os professores a fazê-lo
O manual de instruções, que chegou hoje de manhã às escolas, define que “a realização de provas em formato eletrónico implica, por razões de segurança e equidade entre todos os alunos, a necessidade de instalação de uma aplicação em todos os equipamentos que vão ser utilizados pelos alunos, seja na modalidade ‘online’ ou na modalidade ‘offline’”.
Além disso, o manual diz ser “fundamental” que a decisão entre realizar as provas ‘online’ ou ‘offline’ seja baseada em “testes reais com o número máximo de alunos previsto” e não “numa mera opinião, ainda que informada”.
Os professores de informática garantem que “nunca, durante o ano letivo, nas diversas reuniões e sessões” se falou na necessidade de instalar uma aplicação e, como a maioria das escolas continua sem técnicos de informática, serão eles e “alguns colegas com apetência para o digital” a realizar o trabalho.
Este ano, mais de 250 mil alunos do 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade vão realizar as provas em formato digital, o que significa instalar a aplicação em 250 mil equipamentos, “sendo que a maioria dos computadores estão em casa dos respetivos alunos”, lembra a associação.
“Quando é suposto instalar a aplicação? Em que tempo? Os professores foram dispensados das aulas para o fazer? Isto é uma falta de respeito, por favor deixem-nos lecionar as nossas disciplinas”, pede a associação, sublinhando que os docentes não são contra o processo de desmaterialização da avaliação externa.
Para a Associação Nacional de Professores de Informática, “deveria ter sido ponderado o adiamento por um ano letivo” da universalização das provas de aferição em formato digital.
Já agora, só um ano porquê? Não acham que deveria ser mesmo um processo gradual?
Assimetrias (Mas A Sério)
Como sou um tipo capacitado apenas qb para as excitações digitais, estou desde o 1.º período a tentar uma avaliação de tipo híbrido, sendo que no 2º período todas as fichas formativas foram em formato digital, com prazo alargado e possibilidade de consulta à vontade do utente, freguês ou cliente. Em posts passado já fiz alguns relatos relativos aos níveis de retorno das tarefas e respectivo desempenho.
Vou-me agora ao 3º período, no início do qual (20 de Abril) deixei uma tarefa online para ser concluída até ao final do mês, conforme imagens anexas. Deixo os relatórios das minhas 5 turmas de HGP (sobre CD um dia falaremos), 48 horas passadas sobre o prazo bastante alargado (10 dias) para as fazer. Aviso desde já que as turmas com maior taxa de conclusão da tarefa conseguiram isso, porque as levei para uma sala com computadores ou quando trouxeram o seu “kit tecnológico”.





Como rapidamente somarão, tenho 115 alunos inscritos (3 ainda nem se deram ao trabalho de aceitar o convite e mais uns 4 andam em paradeiro incerto, não sabendo se entrarão nas estatísticas do abandono escolar, se isso é chato), de quem recebi 56 respostas (48,7% do total, sendo que 34 são das tais duas turmas). As razões para a não realização são das mais variadas, mas raramente muito criativas. Em alguns casos, é mesmo porque não têm meios em casa, sem ser para jogar, e na escola sentem aquela falta de não sei quê para trabalhar.
Quem fez no prazo (incluindo as 48 horas de tolerância… que no 2º período eram mais) são @s alun@s que normalmente fazem tudo. E percebe-se pela distribuição dos resultados que, em média, até são ali a rondar o Bom, ao ponto da maior frequência de resultados ser os 100%. Como se percebe, não se trata de uma curva tradicional em forma de campânula invertida (a do Gauss, prontosss…), mas sim de uma espécie de rampa em aceleração.
O que é que isto demonstra?
A tal coisa da “assimetria” que alguém usa de forma disparatada em outros contextos.
Existe uma evidente assimetria entre quem faz (e em regra bem ou de forma satisfatória) e quem não faz, porque não pode, não quer ou nem sequer se interessa. O que só se resolve com um trabalho continuado, não apenas de motivação, mas da tal “capacitação” que não é só digital. Mas também de equipamento, acesso, apoio familiar, etc, etc. Que não se consegue em poucos meses, com portátéles de saldo e banda tão pouco larga que nem dá para música com bombos e tuba.
Por isso é que acho que, globalmente, as minhas turmas não estão em condições de fazer uma prova de aferição de HGP em suporte digital, online, offline ou outline. Deveria ser possível um sistema de realização de tipo “voluntário”. seja ao nível das escola, seja das turmas, em articulação entre o DT, o CT e os EE (pimba, e lá vão três siglas), mais ou menos PEA, PAA, PADDE (tungas, mais três) ou o diabo a sete teclas. Independentemente de haver RTP, PEI ou apenas PAPI (mais três, ripa na rapaqueca, que isto é só para “especialistas”).
Não sei se ficaria melhor com um desenho, mas eu sou canhoto dos 10 cotos que me servem de dedos.
E As de 5.º Também Não Fazem Sentido
Sobre as do 8.º não falo, porque gosto mesmo de falar mais do que conheço directamente.
Provas de aferição em suporte digital no 2.º ano: sou contra
Seria bem mais relevante dar prioridade à recuperação das aprendizagens comprometidas durante a pandemia do que despender uma quantidade expressiva de horas letivas em treinos para as provas.
(…) Poderia argumentar-se que todo este trabalho de preparação para as provas não será realizado em vão, na medida em que promove um maior domínio das tecnologias. Apesar de não deixar de ser verdade, a questão é que é prematuro. Há tempo para o fazer, mais à frente. Não será demais salientar que esta obrigatoriedade de introduzir as tecnologias precocemente se enquadra num afã mais geral de encher os currículos, como se estes fossem elásticos, e de hiperestimular as crianças, como se não houvesse um amanhã.
O Problema É Mesmo Só De Quem Paga?
Não será de quem fica sem equipamento? E se as escolas fizessem um rastreio a sério dos kits que (ainda) estão a funcionar em pleno? Rato, router/sim, incluídos? Em vez de fingirem que está tudo bem? Ou a alinhar na fantasia de que tudo foi entregue? Claro que há quem não aceitou e quem nem sequer apareça na escola, mas agora isso não interessa nada, certo? O problema é quem paga os arranjos… que tal pedirem à câmara, que agora gere a parte dos equipamentos das escolas?
Quando será que vão admitir que em muitas zonas do país não estão reunidas as condições, nem os alunos devidamente preparados para provas, em suporte digital, feitas com equidade, de “Português”, “Matemática”, ” Estudo do Meio” ou “H.G.P.”?
Enfim…
Portáteis distribuídos aos alunos já estão a ficar sem garantia
Já, Sim Senhor@s!
Seria uma boa oportunidade para algumas pessoas fazerem alguma coisa de coerente. Não adianta concordarem, saberem que as coisas não estão prontas para ser generalizadas, mas sentirem o embaraço, a vergonha de dizer não. A fundamentação passa, desde logo, pelos próprios direitos dos alunos que irão ser espezinhados por aqueles que dizem defender os seus interesses, mas parece que por “seus” se deverá entender os da clique que continua a desgovernar a Educação.
A miudagem não pode ser carne para canhão deste tipo de experiências.
Confesso que gostava de ver quem está mesmo preocupado com as aprendizagens da petizada – com destaque para as “famílias” e para os órgãos de gestão pedagógica e executiva – assumir que isto só servirá para perder tempo e provocar semanas de confusão nas escolas.
Provas de aferição do ensino básico serão todas em formato digital, mesmo as destinadas a alunos de sete anos. Directores podem decidir pela sua não realização, desde que com razões fundamentadas.
5ª Feira
Com demasiado atraso – mas antes vale tarde, do que depois da asneira feita – há quem comece a perceber que fazer provas de aferição em suporte digital é um disparate. Neste caso, fala-se do 2º ano, mas eu acrescento o 5º ano, pois estes são alunos que passaram metade do 1º ciclo que, na sua larga parte, aprenderam a fingir que a escola à distância estava a ser mesmo a sério. A verdade é que, tirando o uso da câmara e mais uns rudimentos, a sua literacia digital é globalmente baixa (não falo em coreografias para o tiktok ou em jogos) e qualquer prova, por exemplo, de H.G.P., irá testar tudo, menos conhecimentos e competências nessa disciplina. Sendo as actuais provas de aferição uma excrescência com significado apenas para a estrutura que as coloca a funcionar a partir do IAVÉ e do JNE e algumas luminárias da corte educacional costista, no actual contexto ainda se justifica menos a sua realização global em siporte digital. Ontem, ao testar a realização de duas provas modelo enviadas por uma editora, nunca consegui passar da 10ª questão sem ir tudo abaixo e ter de recomeçar. E, calma… eu estava apenas a usar o pc do professor… as turmas apenas observavam.
Pelo que acho que a realização destas provas, desta forma, não passará de uma grande experiência sobre o estado precário da transição digital boas escolas e de uma perda de tempo, em especial para os alunos.
Eu sei que há escolas e colegas que se acham mais do que preparad@s para implementar a coisa, mas eu não tenho vergonha própria ou medo de declarar que a maioria dos meus alunos está em condições de fazer uma prova de H.G.P., mas nem por isso quanto a um teste de literacia digital, com meios ali do 2,5 mundo. E também não sentirei culpa se os “resultados” que chegarão em Setembro não forem os melhores, até porque como todas as ripas sem utilidade, o mais certo é irem repousar para o armazém das coisas inúteis.
Se isso acho para as de 5º ano, por maioria de razão acho especialmente desajustadas as do 2º. Mas acredito que a vergonha de uns e o medo de outras produzirão inércia suficiente para que o voluntarismo da maioria pareça a regra.