Portanto… uns não sabiam e outros sabiam, uns estudaram e outros não, a uns correu bem, a outros não e a outros nem por isso. Lá por isso, eu poderia ter escrito isto em qualquer dia, de qualquer semana, de qualquer mês, em que se tivesse realizado um qualquer exame.
Decorreu esta manhã o exame nacional de Biologia e Geologia que “não correu bem, mas também não correu propriamente mal”.
Isto é o chamar “encher chouriços” ou, parafraseando uma outra expressão, é uma “salsicha jornalística”. Se não há nada para dizer/escrever, nada como descrever o óbvio, nas suas diversas facetas.
Logo na primeira página? É que o assunto nem sequer era de escassa delicadeza. Algo que no pedido de desculpas não é devidamente especificado. Em outras paragens, isto dava direito a um processo de milhões. Por cá, ainda se descobre que a culpa foi do computador. Ou de algum estagiário, pago à hora, se tiver sorte.
For a decade, ICIJ has revealed the financial secrets of Russia’s most powerful people. Our team is mining millions of leaked files for new revelations.
Excelente jornalismo é descobrir como um foragido escapou à Justiça e para onde foi, divulgando essa informação. Jornalismo de sofá é conseguir mandar-lhe uma qualquer mensagem e acordar um exclusivo onde o dito foragido apresenta as suas exigências para voltar ao país, sem especial contraditório. A CNN Portugal escolheu um destes caminhos.
Entre tantos momentos inesquecíveis em 15-20 minutos de programa eu destacaria a senhora a quem a bruxa “limpou a casa” e o senhor que, apontando para a cabeça, disse algo como “eu tinha uns problemas”. Já quanto à Maria Gorrete, ficou a faltar uma consulta em ortografia funcional.
Parece que o Expresso precisa de cumprir uma quota trimestral ou semestral de primeiras páginas com “alarmes” relacionados com os professores. A verdade é que nada mudou, absolutamente nada, excepto a possibilidade de negociar qualquer coisa, que nem se sabe bem o quê ou como.
Grande parte destas “entidades”, criadas com nome forsomethig fazem-me lembrar os vendedores de banha da cobra de outrora. São capazes de diagnosticar inundações no deserto e hiper-pilosidade em bolas de bilhar para justificarem o seu ansiado “nicho de mercado”. O pior é que há “jornalismo” que acha que isto merece títulos como se fossem a sério. A culpa da disseminação da estupidez é só das redes sociais?
Clementina Almeida, fundadora do ForBabiesBrain, primeiro spa clínico para bebés da Europa, diz que “no pré-escolar, a criança já pode trazer um gap com repercussão direta no seu sucesso escolar pelo menos até aos 10 anos.”
Um das vítimas maiores da pandemia corre o risco de ser a informação de qualidade e rigor, já de si escassa, quando fica dependente de subsídios destes (públicos) ou aqueles (privados). Claro que pode ser tudo um acaso, mas o actual PM multiplicou-se nas últimas semanas em entrevistas a jornais e televisões, sempre em contextos controlados e com as perguntas tidas por adequadas e raramente inesperadas ou com follow up de respostas ao lado, exigindo esclarecimentos. Por exemplo, na mais do que amena cavaqueira de compinchas tida há uns dias com o “entrevistador” MST na TVI, António Costa foi muito detalhado a explicar como o Estado pode aceder aos rendimentos de toda a gente, lucros, etc, etc. Se fosse outro alguém a dizer parecido sobre limites de peças de caça, lucros de empresas promotoras de touradas ou de importação de charutos, aposto que o “entrevistador” esmifraria quem de forma tão “cândida” expôs a que ponto a máquina político-fiscal vai no controlo dos cidadãos. E a verdade é que mais ninguém pegou sequer no assunto. Que é grave na forma como foi apresentado. Porque se é possível à máquina fiscal detalhar a facturação de bicas e pastéis de bacalhau no boteco da esquina, porque deixa escapar coisas bem maiores? E tanta outra coisa que aquelas afirmações poderiam suscitar e nem sequer parecem ter ocorrido a estoutro “animal feroz” que é de amoques e de amigâncias, mas que como “entrevistador” se resume ao tipo que faz as perguntas acordadas de antemão com a mão que dá o milhão.
OJN faz primeira página com uma não-notícia, que dará jeito não sei a quem, mas certamente pouco a quem queira ser bem informado, para além das parangonas. As turmas de EMR (Educação Moral e Religiosa) são, em muitas escolas, formadas por alunos de diferentes turmas-base, pois é disciplina opcional em que nem todos se inscrevem. Este ano, por causa das novas “regras” e das “bo(rbu)lhas”, ou o ME aceitava a formação de turmas mais pequenas ou a disciplina não funcionaria, a menos que se mantivesse a “mistura”. O ME não autorizou. Em algumas escolas, a disciplina acabou por não funcionar, em outras funciona “subvertendo” as regras gerais. No corpo da notícia percebe-se um pouco da situação. A primeira página não passa de sensacionalismo tabloidista em quem, depois, critica isso nas redes sociais.