Pela manhã, antes de ver parte do Inter-Roma, ouvi numa peça de um canal noticioso confirmar que António Costa quer um confinamento com as escolas abertas. Mas também ouvi que parte dos ministros do Governo discorda dessa decisão de não fechar as escolas, o que significa que há gente que não está completamente arrebanhada atrás do líder do “interesse geral” do país.
Não pensem que não percebo a que ponto a situação é complexa, mas convém não ocultar as razões.
- Ficou demonstrado que a opção pelo regime não presencial, E@D, etc, com ou sem #EstudoEmCasa, falhou no final do ano lectivo passado, agravando de forma evidente as desigualdades que só não foram maiores porque a maior parte dos docentes deu um banho de água benta às pautas do 3º período.
- Vai-se começando a perceber que, por muito que o neguem, o encerramento das escolas esteve na base da redução do movimento de pessoas e foi muito importante para a contenção dos contágios na 1ª vaga. Cada vez mais, os estudos internacionais, não-paroquiais ou baseados no “acho que” ou no “está provado [onde?] que há ‘contágio zero’ nas escolas”, revelam que, apesar de assintomáticos, crianças e jovens são agentes de contágio, mesmo que tenha origem no exterior das escolas.
- Percebe-se que a decisão acertada, para conter a pandemia, seria passar as aulas para não-presenciais, mesmo que os professores continuem nas escolas a assegurar as actividades lectivas. Não é com mais de um milhão de crianças e jovens em trânsito para/das escolas, em transportes públicos ou privados que se reduzem significativamente as interacções (basta olhar para os espaços envolventes das entradas dos espaços escolares). Um confinamento com escolas abertas é como uma refeição sem prato principal.
- Mas… percebe-se também que muito pouco mudou entre Março de 2020 e Janeiro de 2021 nas condições para um regime de E@D em condições. O atraso no equipamento das escolas, as opções erradas no que deveria ser o início deste ano lectivo quanto à prioridade das aprendizagens a realizar, a evidente crença no “tudo vai acabar bem” por parte de uma tutela que insistiu num calendário escolar que só fugiu à norma no alongamento das semanas de aulas, tornam a opção pelo não-presencial uma porta para novo agravar do que correu mal há menos de um ano.
- E também se percebe que o teletrabalho não é possível em muitas actividades e em outras não foi sequer previamente preparado para o caso de um reconfinamento. O nosso mercado de trabalho continua a apostar no precariado e, sempre que se pode, que o “investimento” adicional seja feito pelo trabalhador. E nem estou a falar apenas dos professores.
- Portanto… a situação é complicada. Claro que é. Poderia ser diferente? Poderia, mesmo que não completamente. Na área da Educação, ficou à vista que muito do que se tem andado por aí a falar não passa de cosmética. A pandemia revelou as “rugas” profundas do sistema. Tem-se optado, de modo quase sistemático, por intervir no superficial, no decreto para a satisfação de clientelas, de medidas para a produção de estatísticas (internas, que já se viu pelo TIMMS que as coisas estão longe de ser o que se quer dar a entender). A “inclusão” é um conceito com uma prática muito limitada, a “flexibilidade” faz com que eu tenha alunos sem TIC por causa dos semestres e a “autonomia” tem arreata curta.
- Quem se candidata a cargos políticos ou aceita nomeações não está propriamente em situação de se queixar da sorte quando as coisas se tornam difíceis. Foi para isso que concorreram, certo? Não foi apenas para a parte das prebendas e “acesso” aos “círculos do poder”, para posterior enriquecimento curricular. É porque acham que têm competência para isso. Mesmo que sejam incompetentes, há muitos que acreditam que “se não fosse eu… seria tudo pior”. Já sabem que discordo. Mas o que interessa que eu ache que são mais competentes na desresponsabilização do que na coragem de agir em devido tempo, sem andar a ver se escapam ao inevitável? Sou apenas um zeco a quem a pimenta não pica no teclado.
- O que faria eu se me achasse com “perfil” ou “competência” para tal? Parece-me evidente, pelo que escrevi nos últimos meses. E até parece que sou capaz de ter razão, a avaliar pelos “factos”. Mas claro que nem tenho o “perfil”, nem a “competência” e muito menos a vontade de fazer parte de falsas “soluções” com base em “bolhas”. Ou de anunciar “desconfinamentos” com a mais absoluta irresponsabilidade.
- Para terminar: as coisas estão como estão porque há quem acredite no “pensamento mágico” e agora se queixe de se ter metido numa enrascada, São os mesmos que acreditara ter sido responsáveis pelo 4º “milagre” de Fátima.