Há projectos de “investigação” que são todo um programa ideológico à espera da evidente confirmação das suas teses de partida. Que, mesmo quando dizem que não resposta certas ou erradas, trazem questões onde está mais do implícito o que se pretende.
Recebi há pouco um questionário, reenviado por uma colega que abandonou o preenchimento, e muito bem, optou por questionar as autoras acerca do “método” de construção e encadeamento do questionário.
É sobre “Crenças sobre a retenção escolar” e tem perguntas para graduarmos a nossa posição (de “discordo” a “concordo totalmente”) sobre certas atitudes como “É oferecendo a todos os alunos – dotados e pouco dotados [mas sem definir estes conceitos] – as mesmas oportunidades de aprendizagem que se constrói uma escola justa” ou “A instrução deve ser alicerçada em torno de problemas com respostas corretas e claras em torno de ideias que a maior parte dos alunos possam assimilar rapidamente”. Ou “quanto maios [sic] o professor demonstrar confiança na capacidade da criança mais ela desenvolverá a inteligência”.
Claro que são questões com respostas encavalitadas e, já agora, quando eu consultei literatura sobre a elaboração de questionários deste tipo, aprendi que se deve ser conciso e claro no que se pergunta, em vez de fazer uma espécie de “manifestos”. A maioria das “perguntas” estão formuladas de um modo que dá claramente a entender o que se pretende concluir, ou melhor, o que se considera ser a atitude “certa”. Dificilmente se descobre algo novo, quando se expõem de forma tão óbvia os pressupostos ideológicos da “pesquisa”.
Se as autoras quiserem, eu posso elaborar já introdução e a conclusão do estudo, mesmo sem acesso aos resultados do inquérito. Porque já vi este caminho ser percorrido tantas vezes, que o faço de olhos fechados.
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