O novo secretário de Estado do Ambiente vendeu, em 2021, o seu ateliê de arquitetura e reabilitação urbana a uma empresa agrícola detida por duas irmãs que também são sócias e irmãs dos dois acionistas principais do grupo Semural – de tratamento de lixo e resíduos.
Manuela Vasconcelos Simões, companheira de João Tiago Silveira, que foi secretário de Estado da Justiça e, depois, da Presidência, no governo de José Sócrates é a nova diretora jurídica da TAP, ocupando o cargo que Stéphanie Silva, mulher de Fernando Medina, atual ministro das Finanças, assumiu até Março do ano passado.
Para quem diz que o Natal não é quando uma pessoa quiser, é favor ler esta notícia. Claro que ficamos com a sensação de que o nosso mundo político empresarial é um lameiro, mas isso já sabíamos. O essencial é mesmo perceber que no currículo se deve colocar que se foi technical account manager, chief procurement and real estate officer e procurement director em vez de “gerente de contas”, “chefe” ou “gerente de compras”, por exemplo, porque pode parecer que se trabalhou apenas no minipreço. O que entre nós não será propriamente um impeditico a ter um cargo na administração de uma companhia aérea ou algo parecido. Afinal, o vara não chegou à administração da cgd apenas com uma pós-graduação em robalos?
Se estiver com a sensação de termos voltado atrás 15 anos em tudo isto não está sozinh@.
Há dezenas de contratos com assessores que custam mais à Câmara de Lisboa do que o próprio presidente. Moedas só acaba por ganhar mais por causa das despesas de representação e subsídios.
(…)
Segundo a Sábado, este é o peso financeiro representado também, por exemplo, por André Carrilho, Carlos Castro e Pedro C. Santos, três dos assessores do vereador socialista João Paulo Saraiva; por Rita Apolónia, assessora da vereadora independente Joana Almeida; e por José Romano, assessor da presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Rosário Farmhouse — que nem sequer recebe salário, mas sim senhas de presença.
Esta é a única autarquia do país em que dezenas de assessores têm contratos que saem mais caros do que os próprios presidentes. E acontece mesmo com quem não tem funções executivas — como Rosário Farmhouse, assessorada também por Pedro Manuel Tito de Morais, que também custa 4.615 euros à Câmara — nem pelouros. A Câmara de Lisboa não explicou à Sábado o que justifica estes contratos de alto custo, mas reiterou que todos os valores estão dentro dos limites remuneratórios fixados pela autarquia no início de cada mandato.
2022 – International Visitor Leadership Program (IVLP) do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
De 2020 a 2021 – Secretário-Geral do Conselho Nacional de Estudantes de Direito (CNED).
2020 – 2.º Lugar no Hackathon #SOTEU, iniciativa da Representação da Comissão Europeia em Portugal.
Nunca esquecer a Gaia Connection (basta ir aos laikes de certas publicações de desagravo e é todo um fio que se desfia até à foz…). O Linkedin há-de ter alguma utilidade, para nos mostrar o “perfil de competências locais”(aspas minhas) do novo “adjunto do Gabinete da Ministra da Presidência”, mais conhecida pela filha do pai. Há quem ande por aí a garantir que é um belíssimo jurista, só sendo pena que não tenha nada feito nessa área.
Conselho Municipal da Juventude de Vila Nova de Gaia
mar. de 2018 – mar. de 20213 anos 1 mês
Vila Nova de Gaia, Porto, Portugal
O Conselho Municipal de Juventude é o órgão consultivo do município sobre matérias relacionadas com a política de juventude. Representa os jovens de Gaia e serve como instrumento de participação jovem, criando oportunidades de diálogo e aprendizagem mútua entre jovens, organizações de juventude e decisores municipais. A sua Comissão Permanente tem a função de coordenação de iniciativas e representação do Conselho.
Inês Ucha, ex-diretora municipal, nº 5 nas listas de Medina, ganhou avença na câmara de Inês de Medeiros (PS) por €3.198/brutos para assessoria ao PRR, assunto que também trata no escritório da Pinto Ribeiro Advogados. Filho de uma deputada do PS também está como assessor em Almada.
Mas vivo em Portugal tal como ele é e não num de fantasia em que temos gente a criticar a meritocracia, quando ela se aplica aos outros. Gente que desvaloriza as acusações e denúncias de nepotismo, porque acham que os contratos que conseguem são sempre graças a amigos virtuosos. Que nos diz que o mal é falar dos abusos e não os abusos em si. Que a vergonha não é roubar é dizer que há quem roube.
Eu gostava de viver num país de corrupção mínima, mas vivo num país que continua pobre, que nunca conseguiu sair verdadeiramente de uma economia dual ou “subterrânea”, como a definiu, há décadas, Villaverde Cabral, só que a informalidade dos pequenos negócios semi-clandestinos de outrora passou para a esfera dos negócios do Estado ou para esquemas paralelos, que se dizem não ser ilegais, mas todos sabemos serem profundamente imorais. E embora tecnicamente se possa achar que o tipo que vai à garagem fazer uma revisão mais barata sem factura equivale ao que consegue um contrato do Estado com ajuste directo, porque se dividiu a coisa por duas ou três parcelas com valores abaixo do limite legal para concurso público, há uma diferença de escala substancial no rombo final nos dinheiros públicos. A “economia dual” é uma espécie de fatalidade, a par da corrupção, em sociedades pobres e com fortes índices de desigualdade nos rendimentos.
Podia ser diferente? Podia.
Deveria ser diferente? Devia.
Mas não é, lamento informar-vos. A realidade realmente “desafia” as crenças sobre uma generalizada e beatífica bondade humana. O que chateia é, tantas vezes, ver gente a enlamear- se por tão pouco, pois até parte dos nossos sacanas é de uma deprimente falta de visão.
Reparem que a conversa sobre os dinheiros da “bazuca” desapareceram do debate público no momento em que a rosa ficou maioritária e a laranja se voltou a acomodar à situação de parceiro de negócios. E rapidamente se perceberá que quase nenhum desse dinheiro se verá no “terreno”, porque ficou pelos “oleodutos” que conduzem a maior parte das verbas para os intermediários adequados na sua distribuição.
Eu também gostaria de viver num país onde tudo serve para negociatas, de golas antifumo a vistos dourados, passando por gente que mal se apanha em lugar de poder meter a mão (seja um director de museu presidencial, seja chefe de gabinete ministerial, seja autarca que formalmente não autoriza determinada obra, seja consultor que usa informação privilegiada, embora sem que se consiga provar com rasto documental, seja tanta outra situação), mete a mão até onde pode.
Há quem goste de se mostrar moralmente superior ao dizer que assume que todos são honestos, enquanto outros se horrorizam perante fundadas suspeitas sobre a gestão de proximidade dos recursos humanos (e outros) das escolas. Mas ou são muito ingénuos – o que duvido – ou vivem num mundo de fantasia – e então arranjem-me do mesmo que eles bebem ou comem ou fumam – ou apenas nos querem fazer passar por idiotas.
Se Portugal poderia ser de outra forma, ter quebrado este ciclo triste e secular de “cunha, cama ou cartão”? Poder, podia, mas não seria a mesma coisa. Aquele holandês de cabelo azeiteiro e tese plagiada errou no diagnóstico, porque “vinho verde e meninas de afectos remunerados” não retrata plenamente a nossa realidade. Se calhar foi o que lhe ofereceram e ele era mais cerveja e terceira via e desgostou-lhe. Ou achou curto. Provavelmente queria uma adega de Gaia e o convento de Odivelas só para ele.
Andar a clamar contra quem se limita a observar o que nos rodeia e aquilo que acaba por ser um elemento constituinte da nossa identidade, agrade-nos ou não, pode ser um exercício interessante de solipsismo, fantasia ou apenas sonsice, mas tem o problema de ter de, em muito pouco tempo, chocar com uma “realidade desafiante”. E dão-se “inconseguimentos”. Curiosamente, esse estado de negação é que me parece revelar algum desequilíbrio mental e uma evidente incapacidade relacional com este Portugal que só se envernizou para receber os turistas.
Estou a ceder a um errado determinismo, a um fatalismo decadentista? Não estou a ser “positivo” e a “puxar para cima”, a ser “parte da solução”? Por regra, sei que quem adere a esse discurso é porque espera que o “destino” lhe sorria em forma de um contrato ou subsídio atempado.
… no entanto, fico mais tranquilo se não tiverem receio de o demonstrar, sem necessidade de “instrumento de vigilância”. E só para mostra que não sou rancoroso, elogio o emplastro liberal pela sua acutilância (nem sempre bem dirigida, mas seria pedir-lhe muito).
Quanto à atitude da tal deputada do PS, que tudo queria apagar do registo oficial, só com alcatrão e penas num balde se poderia comentar.
Esta maioria já está podre e parece que só o montenegro está mesmo interessado em salvá-la. E uns quantos “radicais” dos costumes.
Bruno Nunes, do Chega, afirmou que Ana Abrunhosa não terá condições para se manter no cargo e Carlos Guimarães Pinto, da IL, colocou a ministra perante duas soluções: “Para mostrar que segue as regras da transparência só existem soluções no fim do dia de hoje: ou as empresas do seu marido devolvem o dinheiro que receberam ou a senhora demite-se.”
O deputado liberal lembrara que, apesar de não ter competência directa nas decisões que levaram à aprovação de projectos e verbas, a ministra “tem acesso privilegiado” a informação sobre fundos e programas. “É uma chatice, por ser marido de uma ministra não poder aceder a fundos? É”, ironizou Carlos Guimarães Pinto.