Um País Que Tem Este Galamba No Governo…

… não pode ser levado a sério. Há que relembrar o trajecto da figura que acha que o cúmulo da rebeldia é um brinquinho na orelha. Exoneram-se adjuntos por fazerem o que, no fundo, estavam lá para fazer, até porque quem manda já fez coisa parecida no passado. Vai-se sabendo muita coisa, mas é bem credível que muito nem tenha deixado rasto. Não apenas no caso da TAP porque basta haver cheiro de dinheirinho para “queimar”, o que mais se nota é a multiplicação de redundâncias e inutilidades. O caso do aeroporto é notável porque já se gastou no “estudo” o suficiente para o construir, mas o choque de interesses sobre quem mais pode ganhar com a sua localização (leia-se quem mais pode ganhar com o uso dos terrenos, que autarquias mais lucrarão, que tipo de obra será e quem mais estará habilitado para fazer de “lena”).

Eu sei que isto é assim, porque votaram neles. O problema é que eu olho ao redor e não sei em que outros votar, tão medíocre se tornou o mundinho da política profissional, incluindo “populistas” em busca de uma fatia do bolo ou “liberais” à procura de contratos com qualquer Estado. Quanto a velhos “radicais”, já se viu com a geringonça que são embolsáveis com pouco investimento.

Significa isto que não há mesmo alternativas e o regime precisa de refundação? Depende do que se entenda por isso, pois a mim não agradam certas propostas que confundem o modelo democrático com a camarilhas sem ética que dele se foi apropriando. Usando mais uma analogia hoje… as ideias e o modelo não estão errados, os homens (e mulheres e trans e etc) é que o corromperam.

Mas agora mesmo a sério… um país que um galamba, este galamba, no governo…

Rabo Escondido Com Gato De Fora

Porque ficou debaixo do avental, desculpem, da mesa?

Inquérito-crime deixa de fora o facto de construtor beneficiado com parcerias público-privadas se ter tornado sócio de Isaltino Morais

Endogamias

Agora temos por aí uma cascata de “descobertas” acerca dos negócios de familiares de governantes com o Estado. Até há quem já vá atrás de coisas com mais de dez anos, quando me parece óbvio que ninguém – em teoria – poderá adivinhar que @ cara-metade ou @ filh@ vai acabar ministr@ ou secretári@ daí a uns tempos. Nem o pai do Dias Loureiro (lembram-se?) era capaz de prever isso.

O que poderia ser caso para estudo – olha-me a oportunidade de novo negócio para alguém no isczé ou na católica, se for para publicar no Observador – é a situação curiosa de tanta gente com negócios com o Estado conseguir colocar familiares na área executiva ou, de modo menos visível, na estrutura administrativa de apoio aos decisores políticos. Porque o inside knowledge nem sempre é maior nestes, em especial dos meandros técnicos de como concorrer e tal ou a que gabinete recorrer para a consultadoria em matéria das verbas que escorrem da Europa. O que seria interessante era mesmo estudar as linhagens que se estabelecem em torno deste tipo de negócios dependentes do Estado, mesmo depois de se dizer que se privatizou quase tudo.

Brincadeira, como é evidente, porque o que se privatizaram foram os negócios que antes eram assegurados por organismos do Estado e agora se contratualizam fora dele, com lucros não propriamente inesperados, muito pelo contrário. Lucros que não são para o Estado – que somo “todos nós” naquele peculiar linguajar de economistas ou pessoas que falam como se fossem, tipo gones ferreira ou o lourenço, sempre prontos para salvar a Nação com as suas ideias – mas para os “empreendedores privados” que, por pura coincidência, calham ser familiares próximos de decisores, pretéritos, presentes ou futuros.

Mas tudo é sempre legal, graças a pareceres, mais ou menos feitos à medida da encomenda, como se fosse na rua dos fanqueiros de antigamente.

Um estudo sobre estas endogamias, repito, não seria original, mas seria tanto mais interessante, quanto escapasse às generalidades e ao “isto também é assim lá fora”. Porque se os salgados e os rendeiros caíram dos poleiros, os ditos cujos ou outros parecidos não ficaram vazios.

6ª Feira – Dia 19

Há um par de dias, no contexto da preparação do debate sobre a renovação do estado de emergência, o ministro da Administração Interna culpou os portugueses pela degradação da situação pandémica no mês de Janeiro. Algo parecido já tinha sido feito umas semanas antes por outro ministro (o da Economia) num exercício muito habitual em políticos que, perante adversidades, optam logo por se desresponsabilizar de tudo o que acontece. Quando as coisas correm bem, apressam-se a aparecer a colher os foguetes e louros e a anunciar festividades onde se distribuem palmadinhas nas costas à discrição.

Os Meninos À Volta Da Fogueira

Parece que o Conselho de Ministros vai reunir de emergência amanhã, por causa do fracasso do pseudo-confinamento que foram ELES a decretar. Mas aposto que as culpas vão ser atiradas para “os portugueses que não seguiram as regras” e tiraram partido das múltiplas excepções (52 que, ao contrário do que a ministra da Saúde disse hoje não são as mesmas de Março). Parece que o problema é o grande problema é das “vendas ao postigo” de bebidas, veja-se lá! Ou dos cafézinhos. Quando um bando de galinhas se desorienta é complicado voltarem a ir ao lugar. O desnorte tem origem bem clara e não vale a pena virem com aquela conversa do “preço de sermos humanos”, porque o valor de centenas de vidas não se mede pela idiotice de alguns, lá porque se acham grande coisa.

O que vão fazer? Aumentar coimas? Impedir umas lojas de abrir e permitir a outras que estejam a atender filas de gente nas zonas comuns dos centros comerciais? Fechar teatros, mas manter abertas as secções de ciclismo das lojas de artigos desportivos? Abrir os atl para justificar escolas abertas? Será que não entenderam ainda que perderam quase toda a credibilidade de tanto quererem agradar a uns e outros, mais amiguinhos, chamando “essencial” ao acessório e insistindo num modelo de confinamento que se via à distância que era uma treta? E que vai assim continuar a ser, pelo que se vai percebendo?

A culpa é do “povo”?

Não, a culpa é de governantes bons para festas e eventos, camarotes e carros à disposição, visitas vip e um crescente descolamento da realidade. Até porque só houve 58 contra-ordenações este fim de semana.

O perigo vem do oportunista Ventura?

Não, o perigo (e mede-se em centenas de vidas) vem de vocelências, impantes em toda a vossa enorme vacuidade. Vocelências é que, em toda a vossa inépcia e cedência a interesses “esquisitos”, acabam por lhe dar força.

Números

As 159 mortes registadas ontem por covid equivaleriam a 5200 nos E.U.A., ainda governados pelo “demónio” Trump. Ontem, por lá, foram registadas menos de 4000, e anteontem, o pior dia de sempre, cerca de 4400. No Brasil significariam cerca de 3300 mortes; ontem registaram-se lá 1131 mortes e no pior dia (24 de Setembro) foram um pouco acima de 1700. Espanha teve ontem, 201 óbitos; com a população que tem, seriam mais de 700 mortes se estivesse ao nosso “nível”.

Algo correu mal, muito mal. Não por falta de avisos. Não foi por falta de lhes ser explicado, por vezes com detalhe e remetendo para estudos credíveis e não com base em “achismos” de comentadores de tertúlia. Foi por incúria, negligência, incompetência, desleixo, sobranceria. Há quem escreve que é tempo de união e não de apontar dedos e procurar culpados. Talvez não. Mas é essencial identificar as causas e isso traz inevitavelmente consigo quem esteve na sua origem.

Mas também se sabe que, por cá, quando se deixa para depois o apuramento de responsabilidades, acaba-se sempre no “fomos todos e não foi ninguém” que safa sempre os negligentes, incompetentes, desleixados e condescendentes. Aposta-se na erosão da memória como com Pedrógão ou Tancos. O que convém muito a quem acha que foi eleito para tomar decisões, mas sacode a água do capote sempre que se percebe o quanto erraram. E não foi apenas uma vez. Esta não é uma “2ª oportunidade” para emendar as falhas verificadas.

Tenham vergonha!

Uma Conclusão Interessante

Parece que 2 a 4 semanas sem aulas presenciais com os professores, que têm sido obrigadas a seguir um modelo bem tradicional (as interacções em sala de aula, actividades colaborativas entre alunos e outras “diferenciações” estão fortemente desaconselhadas), destruiriam as aprendizagens de forma “irremediável” e conduziriam a uma “geração deslassada” (a tentativa de Manuel Carvalho fazer de Vicente Jorge Silva e cunhar uma expressão para a posteridade).

Ou seja, aquilo não terá sido conseguido por anos e anos de políticas disparatadas, em zigues e zagues, com uma acumulação de burocracias para atrapalhar o trabalho dos professores e políticas cada vez mais ridículas de avaliação dessas aprendizagens.

Realmente, a presença física dos professores é mesmo “impactante” para os alunos, ao contrário de uns 30 anos a dizerem que os alunos podem construir o seu conhecimento, em auto-descoberta, com os docentes ali apenas a “faclitar” (o que poderia ser feito à distância, certo?). Ou que as tecnologias tornariam quase irrelevante o papel do humano na Educação. Os professores foram sendo crismados de “inúteis”, “egoístas”, “corporativos”, “velhos”, “arcaicos” e tudo o que ocorreu a uma clique de burgessos, nem sempre exteriores ao sector da Educação, só que alguns de forma mais envernizada, mas não menos insidiosa. Afinal são “essenciais”.

(será altura de lembrar que há 6 anos, 4 meses e 2 dias de tempo de serviço apagado da carreira, que causou danos “irremediáveis” e marcou várias “gerações” de professores, que agora deveriam cobrir os deputados porfírios e os comentadores situacionisttavares e baldaias as com toda a vergonha que lhes falta?)

Será que essas criaturas que há tanto tempo nos bombardeiam com essas teorias, terão a decência de se desviar da frente e deixarem de atrapalhar? Porque as vossas teses parecem estar claramente erradas. Afinal, umas semanas sem professores em osso e carne (muita, no meu caso), as perdas são “irreparáveis” e podemos “perder uma geração”. Porque eu vou guardando todos estes malabarismos para, em devido tempo, sugerir que os freiristas e/ou futuristas de aviário se encham de alcatrão e penas quando voltarem a meter a cabecinha de fora, em nova vaga de parlapatice, sancionada pelo secretário costa e os seus apóstolos.

Catch 22

Pela manhã, antes de ver parte do Inter-Roma, ouvi numa peça de um canal noticioso confirmar que António Costa quer um confinamento com as escolas abertas. Mas também ouvi que parte dos ministros do Governo discorda dessa decisão de não fechar as escolas, o que significa que há gente que não está completamente arrebanhada atrás do líder do “interesse geral” do país.

Não pensem que não percebo a que ponto a situação é complexa, mas convém não ocultar as razões.

  • Ficou demonstrado que a opção pelo regime não presencial, E@D, etc, com ou sem #EstudoEmCasa, falhou no final do ano lectivo passado, agravando de forma evidente as desigualdades que só não foram maiores porque a maior parte dos docentes deu um banho de água benta às pautas do 3º período.
  • Vai-se começando a perceber que, por muito que o neguem, o encerramento das escolas esteve na base da redução do movimento de pessoas e foi muito importante para a contenção dos contágios na 1ª vaga. Cada vez mais, os estudos internacionais, não-paroquiais ou baseados no “acho que” ou no “está provado [onde?] que há ‘contágio zero’ nas escolas”, revelam que, apesar de assintomáticos, crianças e jovens são agentes de contágio, mesmo que tenha origem no exterior das escolas.
  • Percebe-se que a decisão acertada, para conter a pandemia, seria passar as aulas para não-presenciais, mesmo que os professores continuem nas escolas a assegurar as actividades lectivas. Não é com mais de um milhão de crianças e jovens em trânsito para/das escolas, em transportes públicos ou privados que se reduzem significativamente as interacções (basta olhar para os espaços envolventes das entradas dos espaços escolares). Um confinamento com escolas abertas é como uma refeição sem prato principal.
  • Mas… percebe-se também que muito pouco mudou entre Março de 2020 e Janeiro de 2021 nas condições para um regime de E@D em condições. O atraso no equipamento das escolas, as opções erradas no que deveria ser o início deste ano lectivo quanto à prioridade das aprendizagens a realizar, a evidente crença no “tudo vai acabar bem” por parte de uma tutela que insistiu num calendário escolar que só fugiu à norma no alongamento das semanas de aulas, tornam a opção pelo não-presencial uma porta para novo agravar do que correu mal há menos de um ano.
  • E também se percebe que o teletrabalho não é possível em muitas actividades e em outras não foi sequer previamente preparado para o caso de um reconfinamento. O nosso mercado de trabalho continua a apostar no precariado e, sempre que se pode, que o “investimento” adicional seja feito pelo trabalhador. E nem estou a falar apenas dos professores.
  • Portanto… a situação é complicada. Claro que é. Poderia ser diferente? Poderia, mesmo que não completamente. Na área da Educação, ficou à vista que muito do que se tem andado por aí a falar não passa de cosmética. A pandemia revelou as “rugas” profundas do sistema. Tem-se optado, de modo quase sistemático, por intervir no superficial, no decreto para a satisfação de clientelas, de medidas para a produção de estatísticas (internas, que já se viu pelo TIMMS que as coisas estão longe de ser o que se quer dar a entender). A “inclusão” é um conceito com uma prática muito limitada, a “flexibilidade” faz com que eu tenha alunos sem TIC por causa dos semestres e a “autonomia” tem arreata curta.
  • Quem se candidata a cargos políticos ou aceita nomeações não está propriamente em situação de se queixar da sorte quando as coisas se tornam difíceis. Foi para isso que concorreram, certo? Não foi apenas para a parte das prebendas e “acesso” aos “círculos do poder”, para posterior enriquecimento curricular. É porque acham que têm competência para isso. Mesmo que sejam incompetentes, há muitos que acreditam que “se não fosse eu… seria tudo pior”. Já sabem que discordo. Mas o que interessa que eu ache que são mais competentes na desresponsabilização do que na coragem de agir em devido tempo, sem andar a ver se escapam ao inevitável? Sou apenas um zeco a quem a pimenta não pica no teclado.
  • O que faria eu se me achasse com “perfil” ou “competência” para tal? Parece-me evidente, pelo que escrevi nos últimos meses. E até parece que sou capaz de ter razão, a avaliar pelos “factos”. Mas claro que nem tenho o “perfil”, nem a “competência” e muito menos a vontade de fazer parte de falsas “soluções” com base em “bolhas”. Ou de anunciar “desconfinamentos” com a mais absoluta irresponsabilidade.
  • Para terminar: as coisas estão como estão porque há quem acredite no “pensamento mágico” e agora se queixe de se ter metido numa enrascada, São os mesmos que acreditara ter sido responsáveis pelo 4º “milagre” de Fátima.

Domingo

Já percebemos que as escolas são os oásis no meio da pandemia e não é difícil perceber quem são os “areias”. O esforço por aparentar uma “normalidade” não resulta apenas do fracasso do ensino não-presencial modernaço do século XXI. Resulta de imperativos exógenos que obrigam a que as escolas funcionem para que o resto quase funcione. Aqui por casa vive-se num concelho promovido à categoria de “risco” e entre pais professores e filha aluna todos vão diariamente para escolas em zonas igualmente classificadas dessa forma. E é muito complicado não pensar coisas pouco agradáveis de certas personagens que por aí andam, do topo do Estado às bases nas próprias salas de professores. Por exemplo, aqueles que arranjam as mais indigentes justificações para continuarem a fingir que o modelo de avaliação do desemprenho deve decorrer como se estivéssemos em tempos normais. Dos apáticos (“se somos convocados, temos de ir não é?”) aos emproados (“antes eu do que outr@ qualquer”), passando pelos bem-intencionados (“mas se não formos, @s colegas depois é que se prejudicam…”), há para todos os gostos, incluindo os que não se confessam explicitamente predestinados para avaliar o trabalho alheio quando nem o seu fazem em condições, mas estão logo na fila da frente do “empurrão”, mesmo se isto implica que andemos a passear entre escolas de concelhos diferentes.

Confesso sem vergonha que por vezes tenho pensamentos pouco cristãos, o que até é natural num agnóstico. Porque sei que o raio do “bichinho” aparenta ser cego, apenas entra onde é mais tenro e não onde poderia fazer alguma justa comichão. Ou pelo menos que se lhes desse uma urticária generalizada a certos “artistas”, o que rima com cientistas, oportunistas, aparelhistas e quase com hipócritas.