Sábado

Negociar )e lucrar) com ditaduras é uma especialidade das democracias ocidentais e não vale a pena fingir o contrário. Por cá, relembremos – para não ir mais longe – os negócios de Sócrates com a Líbia e a Venezuela. Para ir mais longe, todo o historial com Angola, com a desculpa da “História comum”. O episódio ridículo da Guiné Equatorial na CPLP. A venda de empresas estratégicas a capital chinês. Ali pelas Arábias há muitos portugueses a fazer belos contratos, incluindo “liberais” que criticam o Estado, a menos que que ganhem negócios chorudos (sim, recordo velhas disputas com o muito liberal fundador da IL, assalariado leal de empresas internacionais com ligações a ditaduras do Médio Oriente). Há poucos inocentes em tudo isto e algumas das pessoas que mais gritam pelos direitos humanos, em tempos desprezavam-nos em nome de outros valores e não me digam que foram desvios “naturais na juventude”.

Isto não tem salvação e a real politik impera? Sim e a Ucrânia não é excepção. Há ditaduras piores do que outras? Sim, mas a métrica é complicada. Os Jogos Olímpicos em Sochi foram limpinhos, limpinhos? Duvido. Os de Pequim foram numa democracia exemplar, com as suas obras a decorrer com as melhores regras de segurança laboral? Pois…

O problema é que, como cá, a outra escala, já praticamente toda a gente deixou que as mãos se sujassem, acreditando que tudo passaria despercebido e fosse esquecido. Como na maior parte dos casos acaba por ser.

Isso torna as coisas mais desculpáveis? Não.

3ª Feira

Recomeçam oficialmente as aulas no Básico e Secundário com uma situação algo paradoxal. As escolas, sempre apresentadas como os lugares mais seguros à face deste Portugal em termos de pandemia – onde de afirmava existir “contágio zero” – agora são dos locais onde as regras (já de si nem sempre muito coerentes, diga-se) se mantêm mais rígidas, desde logo com a permanência da conversa idiota das “bolhas”. Já nem apetece – ou adianta – apontar tudo aquilo que continua escrito para não ser cumprido ou que faz escasso sentido. Oficialmente, tudo correu bem o ano passado, pelo que se publique a narrativa e a mesma seja afixado nos locais habituais e proclamada pelos arautos da Corte dos Costas.

Entretanto, todo contente, o ministro Tiago desdobra-se em intervenções cheias de evidências planas, enquanto o ex-Super-Mário e os sete anões dormem a sono solto.

Desunião Europeia

A aparente arbitrariedade com que está a ser tratada a eventual (ou efectiva) suspensão da vacina AstraZeneca de país para país, com diferentes critérios etários, numa enorme mistura entre política e ciência demonstra com clareza que a União Europeia é uma ficção que serve para alimentar uma enorme burocracia que dá jeito às cliques políticas mas pouco mais. Quando aperta, é quase toda a gente por si ou, como no Festival da Canção, funcionando em grupos regionais ou de afinidades políticas ou económicas.

Não podemos voltar apenas à CEE?

2ª Feira – Dia 4

Tem estado quase toda a gente entretida a discutir a ascensão da “extrema-direita” naqueles moldes muito provincianos que é habitual entre os politólogos (oficiais ou de redes sociais) cá do burgo. Salvo raras excepções, parecem muito preocupados com a “reconfiguração da Direita” e o que poderá fazer o PSD, se der a mão ao Chega para chegar ao poder. A esse respeito, apenas duas notas, que não me apetece entrar muito neste tipo de debate de faróis nos mínimos. Em primeiro lugar, um raro elogio a Rui Rio que ontem foi quase o único a apontar para a geografia do voto em André Ventura e a sua implantação nos bastiões que em tempos foram do PCP e que tradicionalmente votam mais à esquerda; ele tem razão, o voto em Ventura é mais um voto de protesto do que um voto ideológico. E isto conduz-nos à segunda nota que é o de o Bloco e o PCP se terem deixado “normalizar” tanto na geringonça que correm o risco de canalizar o tradicional voto de protesto “contra o sistema”, pois eles próprios aceitaram participar nesse sistema que tanto criticavam, não lhe trazendo especiais modificações; daqui decorre que uma das possibilidades de combater o Chega é exactamente “normalizá-lo”, porque a atracção pelo poder é imensa em Ventura e, chegando à mesa dos “grandes”, deixará cair muito do que agora ergue como bandeiras, para ter uma parcela das benesses e honrarias. E depois de se ver de que massa é mesmo feito (de um oportunismo sem verdadeira substância), o eleitorado de protesto irá abandoná-lo, em busca de outro partido anti-sistema. Desde o PRD que as coisas são assim, mais ao centro, à esquerda ou à direita.

Quanto Custa Um Orçamento?

Pouco. Apenas uma leitura extremamente literal da lei, ao contrário de interpretações criativas em outras situações. Fazendo as contas, ficou na folga das cativações.

(não sei se notam o desvio à direita da imagem… se calhar fui demasiado subtil e precisei desta legenda que a malta anda mesmo mal em termos de literacia sarcástica)