Sábado

Um tipo quer encontrar coisas positivas e esforça-se por ter esperança que os acórdãos do Tribunal da Relação sobre os serviços mínimos, em conjunto com o que já se passou em 2018, coloque algum tino na cabeça de um ministro em roda livre, mas é difícil. O homem desresponsabiliza-se de tudo, afirmando que nada tem a ver com faltas injustificadas nas escolas ou mesmo processos disciplinares como se o que fazem os seus agentes nas escolas acontecesse sem a sua chancela. Na lista que a Fenprof publicou de escolas onde se deram rapidamente abusos de poder, há algumas que conheço pela sua proximidade e pelo menos mais uma onde fui árbitro num recurso de add e onde sou testemunha abonatória de um colega com um processo disciplinar, embora não por causa de serviços mínimos. E sei que há casos em que o que se passou foi a forma d@ director@ mostrar o quão fiel é ao ministro e à sua desorientação.

Há dois meses, o Filinto Lima dava conta da “falta de apoio da tutela” em relação à possibilidade da disputa em torno dos serviços mínimos acabar por correr mal para o lado das direcções. O bom senso teria aconselhado a que não se avançasse com faltas injustificadas, quando a questão estava em disputa nos tribunais. Mas houve quem decidisse que tinha de exercer o seu poderzinho e espero que, agora, perante a demonstração da ilegalidade, sejam chamados à responsabilidade, como foi no passado o ex-director Esperança. Como o ministro Costa não gosta de se ver associado a falhanços, quero ver como agirá em relação a esta situação, embora tudo indique que, se os sindicatos e colegas denunciarem o que se passou à igec e processarem @s director@s abusador@s, o ministro dirá que nada é com ele. Embora pondere recorrer de uma decisão que está longe de ser inesperada ou de, sequer, levantar especiais dúvidas, a não ser a juristas seleccionadas para dar apoio a tropelias legais de tão habituadas a retorcer as leis.

Mais do que um ministro fora da lei – pois foi ele que mandou pedir serviços mínimos para estas greves, não foi o coelhinho da Páscoa – o ministro Costa mistura a atitude arrogante de que impõe o que bem entende, às costas da maioria parlamentar, mas foge e se desresponsabiliza de modo cobarde, quando as coisas lhe correm mal.

(e acreditem que há muito mais podridão por aí, em torno daa aferições e não só, que andam a fazer todos os possíveis para que fique debaixo da alcatifa até aos limites do razoável…)

E seria muito bom, na comunicação social, mas não só, que se percebesse que a postura de calimero, sempre a vitimizar-se a acusar os outros de mentiras e falsidades, é uma mera estratégia para encobrir os seus erros e apresentar os seus críticos como gente malvada quando o seu maior defeito é terem razão. Sei do que escrevo, pois sei o que há anos se fez constar por aí acerca deste ou daquele. O problema é que há quem não goste de ser empurrado e tenha a segurança de que – nem que seja tarde – parte da verdade se tornará óbvia.

Nem sempre é fácil esperar ou sequer confortável. Por vezes, nota-se a lama que nos atiraram pelas costas. Vê-se no olhar ou reacção de algumas pessoas que talvez pudessem reconsiderar, pela acumulação de factos, que certas apreciações estavam erradas. Exemplifico: há mais de um ano, numa dada rede social, uma antiga professora minha dos tempos da Faculdade decidiu fazer considerações inanes sobre algo que eu tinha escrito, usando mesmo termos que tive de repelir com alguma veemência, fazendo (ela) a chocha profecia que, dali por um ano, se veria toda a bondade da acção do ministro Costa. Passou esse ano e a senhora doutora professora nem o pio abre sobre estas matérias. Mas admitir que se enganou e mais valia ter ficado calada? Isso é que não, que isto é gente que nunca erra, variedade de cavacas sempre em pé.

Sim, eu bem tento encontrar coisas positivas sobre que escrever, mas a cada esforço só me saltam memórias tristes destes anos em que, durante demasiado tempo, quase se andou a pregar sozinho no deserto, enquanto muita gente, alguma que até agora se arroga de pergaminhos imensos, se limitou a ziguezaguear pela vidinha. E quem achar que também estou a dar uma de calimero, tem toda a razão, porque quando as nuvens aparecem, a sombra deve ser para todos.

5ª Feira

Um conselho de ministros onde tem assento o two punches man vai hoje aprovar medidas sobre o destino de dezenas de milhar de docentes. Já se tinha percebido a anormalidade que é o ministério das infraestruturas, pois basta cheirar a muitos milhões para a coisa entrar em derrapagem de ganância em desvario. Do confronto de versões, percebeu-se que alguém mente fortemente ou todos mentem selectivamente. Seja como for, olhando para o agora apenas ciclista, fica-se com dúvidas que ele não se borrase todo só de olhar para quem tem a escola de “assessora do Gabinete do Primeiro-Ministro, de 6 de maio de 2005 a 31 de outubro de 2009”, porque aquele olhar (sem nenhuma piada mais parva incluída) é de fazer tremer as pedras de qualquer calçada portuguesa.

Por outro lado, percebe-se que, com toda a escola socrática naquele ministério, o primeiro Costa possa ter um certo e determinado receio de mandar embora seja quem for. E não será apenas por correr o risco de levar duas berlaitadas no cachaço.

Esclarecimento Sobre O Recurso A Escolas De Condução Para Provas De Aferição

Coloco aqui a resposta que me foi dada pelo Assistente Técnico acerca do assunto de um post de ontem. Seria, entretanto, interessante, que se soubesse qual é a situação a este nível nos 800 agrupamentos do país. Mas desde que o shôr ministro garanta que todos os alunos têm um computador, é porque será verdade… na 5ª dimensão.

A situação foi pontual, acontece que numa escola primária porque verificou-se que parte dos alunos não têm computadores, não levantaram e os Pais não vão levantar. Pelo motivo de cobrarem 140 euros por ecrãs partidos.

Existe uma pessoa na escola que tem ligações a uma escola de condução da terra… e propôs disponibilizar as salas.

O Ministério que divulgue quantos computadores estão para arranjar…e principalmente com ecrãs partidos… já enviamos mais de 30!!!

Se ele quiser, que divulgue quantos carregadores já queimaram e substituíram. Muito me vou rir, na renovação de matrícula, pois vão ter que devolver… 

E tenho 20 no cofre porque os Pais não aceitam pagar! E nada podemos fazer! Estupidamente nem podemos, assumir o custo, reparar e ficar para a escola!!! 

5ª Feira

Um novo período a terminar, para quem não embarcou nos semestres que acabam em duplos bimestres. Laico e agnóstico que sou, não me incomoda um calendário escolar dividido por momentos com origem religiosa católica. Até porque para os censos mais de 80% se declara católica, embora em decréscimo e saibamos que não praticante, em particular das virtudes ou arrependimentos pelas malfeitorias. A laicidade do Estado não está em causa por usarmos o Natal e a Páscoa como pausas lectivas. Sei que há quem elogie muito os semestres e não me chocam, mas não vejo especiais vantagens na alteração.

Mas voltemos ao final de um período marcada por sucessivas acções de protesto dos professores e por uma propaganda desonesta da tutela em torno de “cedências” inexistentes e mais recentemente pelo anúncio de falsas “acelerações” da progressão na carreira para dezenas de milhar de docentes. Cartilha ampliada por gentes de escassos escrúpulos em várias colunas de opinião, algumas delas apenas preocupadas com alguns temas entre 2011 e 2015 e com a “equidade” de forma muito peculiar.

As negociações acerca dos concursos foram arrastadas de modo incompreensível, tão incompreensível quanto a rapidez que agora se quer aplicar às negociações sobre uma série de outros temas. A burocracia que ia ser tratada com consulta aos professores vai ser entregue a uma entidade externa. A recuperação do tempo de serviço é tratada como algo desprezível e apenas para dar satisfação ao PR e tentar que as sondagens deixem de mostrar tanto apoio aos professores.

Laico como sou – ao contrário de certos governantes com um currículo muito dado a genuflexões – aprendi que a Páscoa é um momento de calvário e ressurreição. De purificação e renascimento. O que é impossível de esperar em gente que, se acreditou, já não acredita no valor da Palavra e relativiza a Verdade. Que vendeu a alma a um qualquer satanás materialista, quando percebeu que a salvação é impossível. Há quem fale com ar de beato compungido, mas apenas porque acha que isso lhe dá uma aparência de humildade. Mas apenas a aparência pública. Nada mais. Basta ver a forma desonesta com tem tratado a questão da mobilidade por doença.

Parábola – Marco Pedrosa

A parábola da carroça de melões e os bois que a puxam

De enxada na mão, reparo no carro de bois que passa por ali perto. Na carroça, vejo flores aos molhos. Que cenário deslumbrante que me alegra o dia de labuta. Os bois, serenos e altivos, realçam a minha fraca estrutura: comparar o meu corpo, velho e cansado, com aquelas bestas, imponentes e capazes, seria, no mínimo, ridículo. Atrás vem o dono, cantarolando e assobiando, visivelmente feliz com a sua parada: acena vivamente para as árvores, para as galinhas, para os porcos e tudo o que mais se cruza com ele. Perante esta magnificência, não resisto a aproximar-me para melhor enxergar e também tentar absorver o aroma perfumado que certamente emanaria daquele jardim móvel. Mas quando chego perto da carroça, o cheiro era pérfido… por baixo das bonitas flores, encontravam-se dezenas de melões que, pela cor, cheiro e estrutura, estavam podres. Aproximei-me do dono, que perdera o assobio mas mantivera o sorriso, e disse:

– Ora viva. Belo dia temos hoje!

– Ora muito bom dia – retorquiu – temos sim senhor! As minhas flores até cheiram melhor com este céu.

– Ó amigo – disse eu – desculpe a pergunta: mas porque transporta melões podres por baixo das flores?

– Melões podres – diz ele de sobrancelhas franzidas – não são melões podres. São melões indefinidos.

Ao que eu respondo:

– Indefinidos? Como assim? Cheiram a podre, têm aspeto de estarem podres, e estão a desfazer-se.

Irritado, mas com o mesmo irredutível sorriso, retribui:

– Não pode tirar essa conclusão. É preciso esperar para os abrir, comê-los e, se fizerem mal à digestão aí sim, diremos com convicção que estariam eventualmente estragados.

Fiquei confuso com a conclusão do homem, mas não era da minha competência julga-lo, até porque, na verdade, pouco percebo de melões.

Decidi então continuar um pouco mais com a conversa, até porque o senhor estava disposto a isso (e sempre a olhar para a câmara do meu telemóvel, não percebi porquê).

– Então e vai levar os melões e as flores onde?

– Olhe, as flores são para uma cidade lá no estrangeiro, que tem o nome de uma couve, mas não me lembro bem qual é a couve. É preciso mostrar aos estrangeiros que aqui no nosso país, há flores muito bonitas Os melões são mesmo para dar aos meus empregados, para lhes matar a fome. Sou patrão justo e preocupado com o bem estar dos meus empregados, como vê.

Espantado, retorqui:

– Então mas os seus empregados vão comer isto? E já agora, eles não estão no campo das escolas, que fica lá para baixo?

Ele disse:

– Sim, é mesmo lá que estão que ainda agora os vi. Até estavam a gritar que não era pela direita que eu devia ir mas, sabe como é que é, os bois é que mandam no caminho.

Ainda mais espantado pergunto:

– Mas o senhor não tem poder sobre eles? Não pode dissolver o conjunto de bois?

– Poder posso, mas…

– Então, mas se for por aí vai demorar mais tempo, vai gastar mais energia e os seus empregados vão ficar com mais fome. Às tantas ainda caem para o lado de fraqueza.

– Nada disso amigo. Eu meti os capatazes a proibi-los de cair para a esquerda, para a direita, para a frente ou para trás. Se eles arranjarem outra forma de cair, que caiam, mas não o farão das formas que eu referi!

– Mas os bois podem mesmo fazer o que querem? Mesmo que estejam a por em causa o futuro das suas plantações e, consequentemente, a comida que nos vem parar à mesa?

Com toda a tranquilidade, ele responde:

– Sabe como é amigo: quando ouvem os empregados a falar, os bois até levantam as orelhas e olham para eles, mas, sendo os bois que são, fazem só o que lhes apetece.

Retirei-me e vi os bois a continuarem pelo caminho que queriam seguir, sem quererem saber se era ou não o caminho melhor. Como são eles que puxam a carroça, sentem-se no direito de a levar por onde querem, mesmo que seja um mau caminho, e que a carroça não seja deles. Na verdade, parvos são os que acham que um boi tem capacidade intelectual suficiente para tomar decisões importantes sozinho.

Atenção: Isto é uma parábola. Qualquer semelhança entre esta história fictícia e a atuação dos ministros do governo português, o Presidente da República Portuguesa e os professores é pura coincidência.

Marco Pedrosa