Que eu me lembre, a esmagadora maioria dos meus colegas achava a escola uma seca, desde que não fosse para jogar à bola e, a partir de dado momento, desenvolver o que agora se chamam “afectos”, mas antes tinha designações mais corpóreas. Tudo era chato, desinteressante, complicado, um horror. E chumbavam que nem tordos em dia de abertura de caça. Não se faziam sondagens, mas acredito que os valores de desafeição seriam maiores do que aqueles a que Daniel Sampaio, no JL/Educação deste mês, se agarra para reforçar as hostes que defendem uma revisão curricular. E no tempo dele também seria assim, excepto quando, já no Secundário, quem lá estava era uma minoria de alunos, privilegiados e interessados em continuar estudos.
Sim, nos tempos de Sócrates (o grego) os seus discípulos bebiam as suas lições (os do actual também beberam, mas foi uma coisa mais material) e os estudantes juntavam-se nas escadarias das nascentes universidade medievais, ansiosos por nova palestra do mestre escolhido. O que fica por dizer é que seriam entre 0,1% a 1% da população juvenil ou jovem adulta a fazê-lo (dados assim numa de “suponhamos” e não recolhidos na Pordata) e a ter interesse pelos estudos. E mesmo quando se alargou o acesso a estudos a algumas camadas da burguesia isso era mais um dever imposto em virtude da necessidade de negócios familiares do que a um gosto especial ou vocação. Mas parece que há quem ache que no passado os alunos adoravam a escola. Só quem ignora profundamente a dificuldade em espalhar a alfabetização no nosso país pode pensar isso. Ou quem vive(u) numa redoma social, económica e cultural típica as nossas estreitas elites.
No “século XXI” as coisas deveriam ser diferentes? Sim, mas raramente o futuro, os anseios e interesses dos “jovens” correspondem ao que é a sua representação em mentes que estacionaram algures nos anos 60 do século XX. É muito raro que quem foi responsável pelo estado em que se está e esteve associado ao que se tem, décadas a fio, perceba vagamente o que quer a petizada e miudagem 3-4 gerações mais novas. Não chega ter perfil no fbook ou distinguir o instagram do canal disney.
JL/Educação, 2 de Janeiro de 2018