A não eleição de um vice-presidente do Chega para o Parlamento podia ter-lhes corrido bem, não fosse a natureza oportunista – e não tanto “populista” – da maioria da agremiação. Apresentado um inelegível Pacheco de Amorim, poderiam alegar que até tinham tentado ser “institucionais” e tal. Não eleito, apontariam o dedo á intolerância do “sistema” para com a “diferença” (sim, Pacheco do Amorim é diferente da maioria, quer queiram, quer não, até porque por “diferença” não entendo necessariamente algo bom) e bateriam em retirada para a sua trincheira anti-sistémica. Até o liberal Cotrim percebeu que nem com boas maneiras se deve entrar numa festa onde não nos querem. Pior ainda quando é uma festa da qual desdenhámos ainda há bem pouco tempo, chamando vigaristas aos donos da casa.
Mas não. E lá se foi o véu e ficou às escancaras a vontade imensa – de grupo e individual – de escalar a colina das honrarias republicanas que se diz desdenhar. Conheço moderadamente o Gabriel Mithá Ribeiro e não o tenho por fascista, racista ou sequer populista, mesmo que ele tenha adoptado (de forma espontânea ou calculada) alguns tiques retóricos que possam dar a entender que até pode ser alguma dessas coisas. Ele é apenas alguém que sente que pode e merece ter um papel que não lhe tem sido permitido até agora e que no PSD lhe foi barrado por outros ex-jovens turcos de onde saíram figuras como Rangel, Morgado, até o Moedas.
A passagem para o Chega foi a oportunidade que viu de chegar à fila da frente da política nacional. E a insistência em ir a votos depois de recusado Pacheco de Amorim foi apenas a tentativa de apanhar uma outra “oportunidade”, apostando na sua imagem mais discreta e menos agressiva do que alguns correlegionários. Mas foi um erro, porque revelou a vontade de aproveitar a oportunidade para chegar, logo à entrada no Parlamento, a um cargo de destaque no “sistema”. Foi um erro de principiante muito comum – e como ele diz que passa por aqui com alguma regularidade, pode ser que até concorde – em quem troca a coerência anti-sistémica (gostemos ou acreditemos nela ou não) e a sedução pelo brilho das luzes do dito “sistema”. Faltou por ali alguma perspicácia e a manobra de saída, alegando de forma pouco subtil um eventual racismo da sua recusa roçou o ridículo, porque vem de alguém que está atrás do André “vai para a tua terra” Ventura. Ficou demasiado à vista o oportunismo do Chega que quer para si o que critica aos outros. O chamado “tacho”. E iludir isso é uma enorme treta.