Felicidades

Li há pouco, no mural de uma “rede social” de um amigo que gosto de seguir e ler sabendo a enorme discordância que nos divide neste momento, o quanto algumas pessoas estão extremamente felizes com o estado da Educação e a situação das escolas no presente. Congratulam-se efusivamente pelas suas reformas, pelo triunfo das suas ideias e do seu modelo/paradigma. Eu compreendo essa felicidade, a dos vencedores, a dos que sentem que conseguiram impor as suas crenças. O que acho curioso é que lhes desagrada imenso as críticas que destacam o que se passa de mal nas escolas (como se fosse tudo mentira) e o modo como criticam quem foge da cartilha dominante. Afinal, a tolerância com as opiniões divergentes é mais fácil de enunciar do que de praticar. E não é de espantar que muitas dessas pessoas estejam mais próximas da formação doutrinária (claro que estimo mais a opinião de um certo presidente de assembleia municipal, doutorado em fretes políticos) do que do quotidiano escolar completo e repleto. Claro que as há em exercício, mas a riqueza de espírito não é para todos nós.

 

Causalidades

Leio artigos que procuram explicar a causalidade de certos fenómenos sociais ou educativos com base na coincidência no tempo de outros fenómenos, escolhidos de forma tão conveniente quanto aleatória. Não vou apontar dedos, nomear nomes, fazer ligações desconfortáveis. Dá mais gozo exemplificar o disparate… imaginemos que sempre que a tia Ifigénia vai à janela vê carros a passar na rua. Ora, não é por causa dela ir à janela que os carros passam. É uma coincidência no tempo, apenas. Não há uma relação causal. Mas, infelizmente, em Educação o nível da explicação técnico-política do “(in)sucesso” e outras coisas anda neste patamar de sofisticação. À macro e micro-escala.

AI

Navegar à Vista dos Apoios Conseguidos

O alegado “debate” em relação à “profunda” reforma curricular que se diz ir acontecer para o ano ou outro, continua a ziguezaguear de acordo com a necessidade do ME, leia-se SE João Costa, encontrar apoios para as suas ideias no périplo que anda a fazer pelo país. Ao que parece, aquilo que vai dizendo aqui e ali é tudo hipotético, como já escrevi uma espécie de atirar barro à parede, a ver o que cola, quem apoia o quê e evitar o que pode levantar mais ondas e reduzir a base de suporte para o regresso ao futuro.

Por acaso (!), acho que o assunto é demasiado sério e importante para ser tratado desta forma, em reuniões onde se dizem coisas que depois se desdizem para o público dos jornais, em confidências que se destinam a medir a profundidade da água e e em exercícios de pesca à linha de apoios para as medidas que se diz servirem para “emagrecer o currículo”. As minhas fontes (sempre infidedignas, como sabeis) contam-me como, de forma rápida, hábil e convincente, são traçados cenários em tais reuniões e sessões acerca de tudo e mais alguma coisa, desde a possibilidade de se reduzirem horas nesta ou aquela disciplina à forma como podem passar a ser dadas aulas em determinadas condições (o caso da semestralização das disciplinas enteadas).

Os relatos que tenho recebido são coincidentes na estratégia apresentada, nas possibilidades em aberto e, se eu sei parte do que foi dito/confidenciado/explicado e sou um zeco de subúrbio, claro que jornalistas com bastante experiência e fontes melhores do que as minhas também terão sabido do que se falou por aí. Se isso foi feito para surgirem notícias destinadas a avaliar o sentido e força dos ventos e em seguida se desdizer o dito, afirmando-se que nunca tal coisa foi ponderada quando há celeuma no ar, só posso considerar que é uma táctica lamentável pela sua falta de imaginação (o regresso ao passado não é apenas nas ideias pedagógicas) na forma de produzir spin em torno de um tema que exigiria maior seriedade e menos irritação quando há ruído diferente do desejado.

O Ministério da Educação (ME) garantiu nesta quinta-feira, em resposta a questões do PÚBLICO, que não haverá nenhuma redução da carga horárias das disciplinas de Português e Matemática. “Não está, nem esteve, a ser equacionada qualquer redução da carga horária das disciplinas de Português e Matemática, nem tal alguma vez foi afirmado pelo ME”.

Até agora, discordava de várias das ideias que pareciam transparecer das declarações “oficiais” do ME/SE acerca deste assunto. Agora, ao avolumarem-se sinais de desorientação e de corrida para a frente, lados, cima e baixo, procurando recrutar apoios nas associações amigas, deixei de ter a mínima confiança neste processo de “diálogo” que volta aos tempos guterristas de prometer queijos limianos em troca de tropas, trocando a mobilização dos professores a quem se continua a negar qualquer compensação por uma década de cortes e de degradação das suas condições materiais de trabalho pela sedução de “âncoras” destinadas a ampliar a mensagem e/ou combaterem as resistências.

“Nunca foi posta em cima de mesa a redução da carga horária”, disse também ao PÚBLICO a presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), Lurdes Figueiral. A APM é uma das associações de professores que tem estado a trabalhar com o Ministério da Educação na definição do que serão as aprendizagens consideradas essenciais, uma das peças do programa de mudança que está a ser preparado pelo ME.

(…)

Da parte dos professores, este trabalho deverá estar concluído até ao princípio das férias da Páscoa, a 5 de Abril, indicou Lurdes Figueiral, que refere ainda que um dos objectivos do que tem vindo a ser analisado é o de se caminhar para um currículo “onde as aprendizagens não estejam apenas espartilhadas pelas disciplinas”, desenvolvendo “abordagens transversais”. “Há aprendizagens que podem ser feitas sem ser na carga horária das disciplinas”, especificou.

O que eu acho espantoso é que se fale em trabalho concluído “da parte dos professores”, quando se trata apenas de alguns, fidelíssimos, excluindo-se toda a gente que discorda. Apesar da estima que tenho pela Lurdes Figueiral, com quem me cruzei num par de ocasiões, há declarações que não fazem qualquer sentido quando se diz uma coisa, o seu contrário e ainda uma versão twilight zone.

(nunca se falou em cortes, mas as aprendizagens podem fazer-se sem carga horária, os programas devem restringir-se ao essencial, mas não é para serem cortados… ontem era para haver semestres, hoje já não há, há abordagens transversais; e nem vale a pena cruzar isto com a prosa dos poucos progenitores do “perfil” que aparecem publicamente a defendê-lo – e cito de forma quase literal – na base do não encham a cabeça das crianças de conteúdos ou não empolem discursos sobre o conhecimento, num dia – David Rodrigues – e no outro que o saber não ocupa lugarGuilherme de Oliveira Martins)

O secretário anda meio perdido no labirinto, porventura confundido com o brilho que acredita emanar da sua Razão e dos aplausos dos cortesãos do momento. Infelizmente, tenho poucas dúvidas que algo vai sair disto, mesmo que seja assim a modos que um…

frankenstein