Temos tido várias, como metáfora bíblica para tentativas de separação das águas entre uns e outros, mas sem que nunca o processo fique claro, pois há sempre quem ande em trânsito, perninha aqui, perninha ali, por muito se diga que há entrincheiramentos, no campo sindical e mesmo na vida das escolas.
Eu explico-me, porque não terá ficado muito clara a ideia.
No momento actual, é bom que algumas pessoas, independentemente da sua “posição” presente, decidam de que lado estão. Se ainda se consideram professores ou se, sendo professores, acham que a “idade” (cronológica, na carreira ou à porta dela) e o tipo de “estatuto” é mais importante do que uma comunhão de interesses. Adicionalmente, se o cartão partidário ou a fidelidade a um dado grupo é mais importante do que aquilo que é comum à sua condição de professor, neste caso do ensino público não-superior. Se prefere as eventuais vantagens de uma posição indefinida, vaga ou claramente alinhada com a da tutela, no sentido de daí tirar vantagens de curto-médio prazo ou se dá mais valor à coerência e à dignidade do grupo profissional a que pertence, mais ou menos escalão, mais ou menos cargo de liderança intermédia, mais ou menos esperança de fazer parte de algum “grupo de trabalho” ou “projecto” inovador, mais ou menos crédito horário para escapar às salas de aula.
A investida no sentido de desregular por completo a gestão dos recursos humanos nas escolas, neste caso dos docentes, é clara e não adianta o ministro vir dizer que não ou andarem arautos seus pelas escolas a dizer que o “senhor ministro nunca pensou em tal coisa” ou “nunca propuseram que os professores passariam para as câmaras”. É curioso que exista quem saiba o que o ministro pensa. Ou pensa saber, porque lhe disseram que (não) é isso. E é curioso que se negue uma proposta que ninguém (ou quase ninguém) disse que foi feita. O que está em causa não é a existência de concursos para professores feitos pelas câmaras, mas a gestão de quem entra para a carreira a partir de conselhos (inter)municipais de directores e a concretização, na prática, do fim da ligação de um professor ao seu agrupamento, depois de ter sido quebrado o laço à sua escola (excepção às não agrupadas).
Existe uma estratégia, velhota, tipo universidade de verão de uma qualquer jota, de alguém se indignar e dizer que nunca pensou fazer determinada coisa que, em boa verdade, ninguém o acusou de querer fazer. Deixando as entrelinhas suficientes para que se faça algo que, sendo diferente, é igualmente mau.
“O senhor ministro nunca pensou que seria boa ideia atirar calhaus aos professores!” Sim, é claro que é verdade. Mas quando se diz isso, não se diz que ele nunca pensou dar uma banhada das grandes, em forma de granizo. Dizer que algo não é lama, não quer dizer que não seja barro.
Fiz-me entender?
Não?
Então de forma mais curta… tomem atenção ao que é dito e negado, mas também ao que não é dito ou negado. E tomem atenção aos termos usados para desviar atenções ou para introduzir ideias que podem passar despercebidas à primeira.
Por exemplo… não se trata de alterar a “vinculação”, mas as formas de “distribuição” ou “alocação”.
Traduzindo… entram para os quadros – preferencialmente qzp – mas depois não são distribuídos de acordo com a vossa graduação no concurso e preferências individuais, mas por outros critérios. De “perfil de competências” ou de “adequação a projectos”.
Por exemplo.
Neste contexto, interessa perceber de que lado ficam certas figuras. Para isso, independentemente do lado que escolham, é bom que o expliquem publicamente, sem tibiezas e habilidezas. Ou sim, ou sopas.
Para isso já chega o sonso do costume.
(apostilha: reparem que nem falei sobre greves… porque essas são outras águas)
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