.O número de agressões contra professores dentro da escola está ou não a aumentar?
Não é possível dar uma resposta rigorosa por diversas razões relacionadas com os métodos e critérios de recolha e tratamento deste tipo de dados. Se em termos mediáticos tem havido um maior noticiário sobre o tema, em termos de proximidade a minha experiência é a de que este fenómeno se tem mantido, só que antes com menor divulgação. Os números “oficiais” parecem indicar uma redução das ocorrências, mas os critérios de recolha dos dados nem sempre são os mesmos e, muito em especial, os critérios para a sua comunicação por parte de escolas e professores estão longe de ser uniformes. porque aquilo que é considerado importante numa escola ou agrupamento nem sempre é tratado da mesma forma em outro. Conheço casos pela comunicação social que têm traços de menor gravidade do que outros que conheci de forma directa ou por testemunho pessoal de quem esteve envolvido. Há casos não reportados por embaraço de quem esteve envolvido, por estratégia da gestão da escola de não criar alarmismos ou mesmo de receio de represálias.
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.O que se está a passar? A falta de valorização da classe docente contribui, de alguma forma, para a perda de respeito por parte de quem agride os professores?
O que se passa quando existem agressões físicas ou verbais a professores é a erosão do civismo mínimo de parte da população. Claro que não ajudou termos governantes ou comentadores na comunicação social a amesquinhar durante anos os professores acusando-os das maiores tropelias, grande parte delas absolutamente imaginárias, desde o desprezo pelo sucesso dos alunos até ao egoísmo de quererem receber “retroactivos”. A última década foi fértil nesse discurso anti-professores, assim como a presente omissão dos governantes desta área tem contrastado com a dos seus pares na Saúde ou Justiça. Claro que existem docentes com práticas que podem merecer crítica, mas o recurso à intimidação e à violência é o sinal de uma sociedade em que os valores da cidadania estão em perda.
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.Quais as medidas que devem ser tomadas? O que fazer? De que forma deve o Ministério da Educação atuar?
A questão não se resolve de forma simples ou rápida. E não deve ceder a imediatismos demagógicos ou limitar-se a intervenções esporádicas. O mais importante seria que o Ministério promovesse, de forma activa, um programa de sensibilização parental para o respeito pelos professores.
E que as associações representativas dos encarregados de educação com maior intervenção na comunicação social não surgissem, em regra, mais preocupadas em apontar as falhas do que em elogiar os méritos. Como encarregado de educação que também sou não me sinto “representado” na generalidade das intervenções feitas pelos que se apresentam como representantes oficiais das organizações parentais, pois parecem só conseguir apoiar os professores a contragosto.
O problema da falta de civismo está longe de se circunscrever a este ou aquele grupo social, pois existem práticas de bullying contra os professores (por alunos e pais) com origem em estratos que se sentem com uma condição superior e que tratam os docentes como uma espécie de assalariados seus.
Isto significa que, antes de tudo, deveria existir o cuidado de não estar de forma permanente a apontar o dedo aos professores pelas eventuais falhas da Educação, negando-lhes quase sempre a responsabilidade pelos méritos. Afinal, a melhoria dos resultados dos alunos portugueses nos últimos 25 anos, assim como uma série de transformações no funcionamento das escolas, aconteceu ao mesmo tempo que se sucederam inúmeros responsáveis políticos mas em que os professores permaneceram quase os mesmos. E isso nem sempre é devidamente reconhecido por aqueles preferem guardar os louros apenas para si.