Uma Lição De Auto-Estima

Lendo, parece que só ele e a sua escola se preocuparam com os alunos ao longo de muito tempo. Confesso que, no extremo da outra que afirma que a escola não a preparou para casar, está esta atitude do “eu ui sempre muito bom, antes de mim era o caos e depois de mim, se não contarem comigo, será o dilúvio…”. E depois eu é que só olho para o “meu umbigo”? Phosga-se!

Não está em causa a boa vontade, as boas intenções, de quem assim fala, apenas se me encarquilha a medula toda com esta forma de se colocar num patamar de superioridade ética e de auto-avaliação hiper-generosa, como se quem não alinhar neste desvairado auto-elogio fosse uma espécie de troglodita. Permanece a questão: quantas aulas deu nos últimos 30 anos, nas quais incluiu todos os alunos nas actividades? E, já agora, se nunca recusou um aluno, aceita que agora se recusem professores?

“Uma das prioridades foi colocar o aluno no centro das aprendizagens”. Já estava muito mais à frente para a sua época?
Sim, não se fazia.
A nossa escola e a forma como ela foi sendo gerida, numa acção transformacional nas pessoas, em particular nos alunos, foi construída num processo de reflexão. Mas tivemos ousadia. Todos os projectos que o ministério ou outras estruturas abriam, aderíamos sempre. Desde a primeira hora sentimos que o aluno tinha de estar no centro das aprendizagens. Tivemos sempre dois pressupostos que hoje têm uma validade inquestionável, que é a importância da aprendizagem precoce entre os zero e os seis anos e, sobretudo, a consolidação da formação, quer cívica quer afectivo-emocional quer até cognitiva- relacional, dos alunos no 1.º ciclo

A Abelha Distópica Vive!

Apesar de alguma esperança numa sua eventual perda de vigor, eis que me chegam documentos “orientadores” (alguns deles estão orgulhosamente online e assim espero que continuem) de agrupamentos que foram picados pela abelha maiata e produziram mel em forma de eduquês da temporada outono-inverno, com destaque para as tão afamadas “rubricas” que agora aparecem em tudo e nada.

Sei a minha tendência para a caturrice com a redundância, o bizantinismo terminológico e a balofice retórica, mas há coisas que é sempre uma delícia transcrever, nem que seja pela forma como aveludam a nossa atitude perante o coiso e tal.

Eu não sou o melhor dos exemplos, mas quando há documentos produzidos por “equipas” que fizeram formação na matéria, custa mais a ler coisas do género “Os professores têm que recorrer a diferentes instrumentos de recolha de dados para que haja rigor, fiabilidade e equidade no processo de avaliação.”

Vamos lá à parte em que num agrupamento se explica aos professores que a avaliação segue, entre outros, o “princípio da melhoria das aprendizagens”. E é como estar de volta às aulas da profissionalização:

O word bem deu sinal de alarme, mas ninguém se incomodou.

Depois temos a parte da “integração curricular”, mesmo se me parece que o conteúdo (de uma platitude mesmo plana) não tem nada a ver com o título. Porque por “integração curricular”, na área das Ciências da Educação (quando levadas a sério), entende-se outra coisa que não isto.

(para uma definição do que se entende por “integração curricular”, concorde-se ou não com a coisa, espreitar aqui)

O documento continua assim por quase 20 páginas, de que em próximas oportunidades transcrevei novos nacos substantivos, que a esta hora já é capaz de produzir pesadelos.

Correndo O Risco De Incorrer Na Fúria Dos Deuses Das Leis… 2

Ia orgasmando intelectualmente quando cheguei ao ad libitum até perceber que era apenas a versão extensa do corriqueiro ad lib e nada libidinoso. Não duvido que tudo esteja de acordo com as vírgulas reticências de todos os normativos, constituindo uma peça antológica da burrocracia escolar nacional. Se vivem num regime assim, lamento e percebo que queiram fugir mais depressa do que através da estrada de Lviv. Mas quer-me parecer que é mesmo isso que @ escriba deseja. Até porque é fácil perorar-se sobre a pontualidade e assiduidade alheias quando se tem a possibilidade de definir o próprio horário.

Obviamente, retirei desta “informação operacional” a identidade d@ autor@, porque ainda levo com mais alguma insinuação de processo por causa de qualquer coisa que não me lembro. A vitimização até já lá está nos meandros do “tratado”. E nem sequer ainda explorei bem se por aqui não andará nada que possa ser contestado ao abrigo da alínea b) do artigo 45º do C.P.A.

Percebe-se assim melhor ao que pode chegar a volúpia do poder sobre quem se detesta e se quer atingir na dignidade pessoal e profissional, ao abrigo de um legalismo e de um modelo de gestão escolar que se diz querer combater.

Está-se aqui a perder um@ grande director@-geral é o que é.

Correndo O Risco De Incorrer Na Fúria Dos Deuses Das Leis…

… arrisco a publicação desta comunicação enviada aos ex-pares, por um primus inter pares que se distingue pela forma elevada como trata estes assuntos e considera que no momento do toque o professor deve estar de relógio em punho à porta da sala de aula. Nada como dar poder a quem tem contas por ajustar e muita vitimização para exibir. A verborreia é o que é, nem valendo a pena adjectivá-la, só sendo ultrapassada no pretensiosismo pelos maneirismos bacocos e por um paternalismo em matéria de “profissionalismo” que desperta um amarelo sorriso. A crítica a quem redigiu o Regulamento Interno nem sequer é disfarçada. Agora imaginem que o poder não é delegado, mas passa mesmo a ser próprio… nem os intervalos seriam permitidos aos professores… tudo em nome da Lei! Enegreci apenas as partes “legais” mais “negras”. E acreditem que há outra documentação bem mais “rigorosa” do que esta, incluindo as mais draconianas interpretações do que é um “102” ou mesmo uma “urgência médica” que possam imaginar. É esta a “nova” geração de proto-lideranças que resolveram claramente mal um passado incompleto.

Para: Docentes (…)

Cc: Conselho Geral; Conselho Pedagógico; Presidente do Conselho Geral

NOTA IMPORTANTE: OS COORDENADORES DE DEPARTAMENTO DEVEM REMETER ESTA INFORMAÇÃO A TODOS OS DOCENTES DOS SEUS DEPARTAMENTOS (COM cc. a subdiretor@********.edu.pt) E DEVE SER DEBATIDA EM TODOS OS DEPARTAMENTOS NA 1ª REUNIÃO POSSÍVEL (PODENDO SER-ME REMETIDAS AS OBSERVAÇÕES PRODUZIDAS QUE SERÃO TODAS RESPONDIDAS)

Ex.mos/as Senhores/as Professores/as e Educadores/as,

Lamenta-se, mais uma vez, ter de voltar a estes assuntos.

É muito desagradável ter de repetir estas mesmas observações que já antes foram feitas várias vezes.

Algumas vozes [sic]

Mas atitudes de pseudoresistência passiva, coordenada contra o que não admite grandes dúvidas em matéria de deveres profissionais, não vão demover-me de salientar o que parece correto e que, aliás, resulta da Lei e não de mera opinião.

  1. Sobre os problemas de justificação de faltas reencaminha-se a informação produzida em Novembro e que continua a ser ignorada por alguns/mas professores/as e educadores/as.
  2. Tem havido uma atitude pedagógica e dialogante, de quem tem a incumbência de aceitar justificações de faltas, para promover a conformidade às regras de base legal, mas, esgotando-se essa via, restará o caminho de injustificar faltas sem hipótese de correção, o que será evidentemente verberado então como sinal de tirania e abuso quando, na verdade, é apenas fazer cumprir regras, que se difundiram e relembraram largamente e explicaram exaustivamente, mas, mesmo assim, andam a ser displicentemente ignoradas.
  3. No domínio da pontualidade, constata-se que na EB23 se mantém o hábito de um elevado número de professores/as considerar que o toque da campainha é o sinal para iniciar a marcha até à sala de aula.
  • Na verdade, é o sinal para iniciar a aula e sinaliza o momento em que se pode começar a marcar falta aos alunos por atraso (salvo nos 1º tempos).
  • Se o toque marca o início do atraso do aluno, para este ser “objetivamente verificável”, o professor tem de estar na sala de aula para o poder verificar pessoalmente.
  • Cita-se abaixo o regulamento interno vigente. (Sem deixar de fazer a nota linguística de que é fascinante, pelo que significa simbolicamente, de se referir na sua redação a palavra “atraso”, que é gramaticalmente um nome, com o contraditório adjetivo “pontual”, para significar realmente “ocasional”, para além do uso dúbio de conceitos gerais e indeterminados).
  • Salienta-se que, apesar de haver tolerâncias aos primeiros tempos para os alunos, não há para os professores (o que talvez deva justificar revisão futura desta norma).

Espero sinceramente não ter de me voltar a debruçar sobre este assunto nestes moldes o que significará que houve considerável melhoria do nosso funcionamento.

Com os melhores cumprimentos,

(…)

subdiretor do agrupamento (no uso de competência delegada)

Extrato do regulamento interno Artigo 226.º – Falta de pontualidade

1. Aos alunos é tolerado o atraso pontual e justificado de dez minutos no início do turno da manhã e no da tarde, se for este o início das aulas do dia. Nos restantes tempos, a falta de pontualidade é justificada somente por motivos objetivamente verificáveis.

2. Verificando-se a chegada do aluno à aula após o período de tolerância, sem justificação plausível ou atendível, o professor deve marcar uma falta de pontualidade no registo próprio.

3. Atingidas três faltas de pontualidade, nas circunstâncias mencionadas no número anterior, cabe ao professor fazer a sua conversão numa falta de presença, com os correspondentes efeitos legais para esta previstos, informando, de imediato, o Diretor de Turma desse facto.

4. Sempre que o Diretor de Turma receba informação nos termos do número anterior deve, no mais curto espaço de tempo, dar conta dessa situação ao Encarregado de Educação.

Coisas Do Arco Da Xalência Gestionária

Uma shôra directora de um agrupamento aqui da zona “nobre” do deserto decretou – certamente com assinatura de cruz do Pedagógico e aposto que sem qualquer consulta do Conselho Geral – que as aulas do 1º período terminam a 22 de Dezembro  com a justificação de que “ao longo do ano, os quatro dias de paragem para a realização de avaliações intercalares têm de ser compensados, (…)”. Eu ainda pensei que seria por causa das “pontes”, mas não. Alega-se que é por causa de paragens previamente determinadas quando se planificou o ano lectivo. E eu espero que esta shôra directora tenha tido Xalente na avaliação e se não teve deveria ir queixar-se ao seu amigo secretário com doces e azeitosas palavras aos seus ouvidos.

O mais patusco é que no Plano de Organização das Actividades Lectivas para 2020/21 que está no site oficial, os dias 21 e 22 são para “Apreciação sobre a evolução das aprendizagens em cada uma das disciplinas em funcionamento” (o que numa organização semestral como a desta escola que segue os bons exemplos que lhes mandam de cima, corresponde exactamente ao que se entende por “intercalares”). Será que agora esta apreciação passou para os dias 23 e 24?

A Antiguidade É Um Posto Na Avaliação Dos Directores!

Ou seja, quanto mais tempo sentados nas cadeiras do poder, melhor, de acordo com o artigo 14º da Portaria n.º 266/2012 de 30 de Agosto.

Dizem-me que este ano houve umas dezenas de notas máximas (10), mas só 5 tiveram direito a Excelente e 21 a Muito Bom, vindo os restantes parar ao Bom, um pouco à imagem do que acontece com o pessoal mais raso. E tudo abaixo de 10 teve de ficar pelo Bom, pelo que percebo deste post do Arlindo.

O que a mim espanta nem é o aumento que se verificou nas notas máximas este ano (afinal, há por aí tanta gente xalente a mandar), mas sim o facto de ainda ninguém se ter queixado de o desempate ser feito com base no tempo no cargo ou de serviço. Afinal, não querem rejuvenescer a classe? Poderiam começar pelo topo e não dar o “prémio” a quem está quase mumificad@ no lugar.

(e não haverá uma chuvita de recursos?)

Por outro lado, eu até acharia de “interesse público” conhecer quem foram os 5 e os 21 que ganharam os “prémios” em disputa, seja para seguirmos o exemplo de tais faróis da gestão escolar, seja para termos uma espécie de edição de um Global Director Prize ou um Diretor do Ano, com menções honrosas e tal e direito a fotos e chamadas à imprensa nacional para exporem a sua visão sobre a Educação e como a sua vocação foi estarem tanto tempo longe das salas de aula.

Não me levem muito a mal… é que Portugal ia empatando contra 10 croatas (não fosse a ajuda do guarda-redes deles) e apeteceu-me descarregar um pouco a bílis.

6ª Feira

Como a semana está a terminar vou-vos aqui contar uma história sobre o modo como na “nova normalidade” se pode fazer tudo e mais alguma coisa, ignorando todo e qualquer resquício de democracia interna.

A coordenadora de departamento dessa colega colocou atestado médico no início do ano por causa da covid por ser manifestamente de risco. Sendo necessário substituí-la no cargo – até porque a situação que levou ao atestado está longe de ter resolução à vista – deveria ser feita a tal eleição entre três elementos designados pela direcção.

Só que o director, cada vez mais habituado a um regime feudal de fidelidades, decide nomear para o cargo um colega, sem qualquer consulta do departamento e muito menos eleição, parece que com o argumento de ser tudo “temporário”. Só que o colega em causa, apesar de vassalo fidelíssimo, nem sequer poderia entrar na referida eleição, a ser cumpridas as regras mínimas que estão na lei. Ou seja, é das pessoas em posição mais baixa na carreira. E, em boa verdade, vai ser coordenar (temporariamente, claro) pessoas que poderiam ser na larga maioria suas avaliadoras. E exercer uma posição de superioridade hierárquica formal em relação a delegad@s de disciplina um ou mais escalões acima deste “temporário” coordenador.

Mas tudo acontece “naturalmente”, sem contestação, sem prestação de contas e com muita sensação de impunidade porque, a bem dizer, há quem tenha chegado há tanto tempo ao topo e sentindo que pode fazer o que entende sem qualquer risco, até porque se por hipótese surgisse alguma questão, poderia sair sem perda material nenhuma.

A colega contou-me a história, pediu anonimato, claro, e sabe que esta é a “nova normalidade”, pelo que nem estranhou que eu lhe tivesse respondido o que respondi, o que por agora não vou partilhar, excepto que tem muito a ver com o que chamo “xalência de largo espectro”.