As Modernas Parentalidades

Ajudar um filho a fazer algumas tarefas é “microgerir”. O texto é todo um desfiar de coisas que me fazem ter pena d@ petiz@ que possa ser “microgerida”. A senhora parece que é americana e até escreve para o The Washington Post, onde é a expert na matéria da parentalidade, o que me faz pensar que não é só cá que as colunas de opinião se ocupam com muita platitude.

Um pai odeia microgerir a situação dos trabalhos de casa do filho. Mas, de outra forma, o rapaz não os faz.

Como lidar com um rapaz de 12 anos que precisa de supervisão constante para completar os seus trabalhos de casa? Se eu não o microgerir, ele distrai-se e não completa as suas tarefas.

Recomendo a leitura, para que se perceba o quão pouco é preciso para se ser uma parenting coach e até que ponto estamos reduzidos a uma parentalidade desorientada, que precisa de apoio para as coisas mais básicas.

5ª Feira

Entramos na 6ª dimensão da política quando se vê e ouve um Miguel Relvas a declarar que “se passou [sic] todos os limites” e que se vive um clima de “dissolução moral”. Não se trata da substância do que é afirmado, mas quando é ele a achar isso, entramos em território do surreal.

Mas é verdade e por “dissolução” eu estenderia a coisa a outros planos, não apenas da moral e da política. Há até uma espécie de dissolução psicológica e intelectual de muita gente. Não sei se causada pela observação de todo este descalabro que vivemos, se por incapacidade de lidar com situações de prolongada pressão, se apenas por querer, no meio de tanta estridência, ser mais estridente. Em parte para também tentar sobrepor-se ao resto. O que raramente resulta.

Há quem pareça querer ganhar, a qualquer preço uma das etapas da volta a Portugal em disparates e coisas “impactantes”. O que, com toda a cacofonia que se gera, tem o efeito oposto de normalizar o excesso, a hipérbole, o exagero, tirando-lhe qualquer verdadeira eficácia e reduzindo o seu impacto a mais uma pedra a rolar encosta abaixo. Até porque no meio de tamanha confusão, tudo se indistingue.

temos por estes dias, gente cuja primeira reacção é gritar a sua “pureza” na luta e disparar sobre quem apareça a contraditar os dogmas da sua Fé, Fé nova, recente, pretensamente purificadora de todos os desvios antecedentes. Uma espécie de wahabitas da “luta” docente.

É nestas alturas que prefiro fazer justiça a quem diz que sou demasiado racional ou analítico, porque me sinto completamente desligado desta ansiedade extrema por “impactar”, não se sabendo exactamente como ou no quê, para além dos próprios circuitos mentais. Há neste momento demasiada gente – em boa verdade, não é muita gente, apenas se agrupam em cliques com alguma agressividade verbal para parecer muitos ou gritam alto para dar a sensação de “vaga de fundo” – a pretender ter a solução mágica, a bala dourada, para resolver tudo e mais alguma coisa, as 247 linhas vermelhas, lilases, castanhas e/ou negras, mesmo que seja à custa de esconder o que se passa na realidade.

E o que se passa? Ou não se passa?

Antes de mais, passaram-se meses a discutir em câmara lenta um desnecessário regime de concurso e vinculação, com falsos pretextos.

Passaram-se meses a não discutir aquilo que a larga maioria dos professores – e não um grupo de neo-narcis@s – considera relevante.

E agora passa-se uma espécie de negociação, que evoluiu de speed dating para slow cooking, em que o objectivo é prolongar ao máximo a tensão para que a tal “dissolução” se acentue, potenciando os três D’s – desânimo, desespero, disparate.

E há quem embarque na armadilha da estridência (não confundir com “radicalismo”, que isso é mais complicado e não se resume a gritar mais alto ou atirar mais perdigotos sobre tudo à volta) e perca por completo a noção de que é mais eficaz o que é inesperado, não gritado aos sete ventos e pelos nove cantos do mundo. Não me lembro do 25 de Abril ter sido anunciado no RCP em finais de Março ou no domingo da Páscoa de 1974.

Esqueceu-se a noção de que se deve bater onde dói e não onde nos dói ou aos que nos podem apoiar? Ainda não se percebeu de que o inesperado ou atípico, quando repetido, se torna esperado e típico? E o imprevisível se torna previsível, permitindo a antecipação do que fazer para a sua neutralização?

A Ficção Financeira Em Colapso?

Os dois bancos americanos em desgraça – sendo que a sucursal inglesa do SVB foi rapidamente absorvida pelo HSBC numa “nacionalização” por via privada – eram especializados em start ups tecnológicas e cripto-moedas. Se isto não é um sinal que a ficção económico-financeira está a chocar com a velha realidade e a ir-se abaixo, não sei bem o que será. Claro que irão dizer que é uma “crise de crescimento”, em especial os economistas que já apareceram a dizer que estavam mesmo a ver isto, pena que não tenham dito nada de relevante a tempo.

@ “Nov@ Professor@” Desejada Pelo Ministro Costa E Outr@s Como Ele Que O Antecederam Ou Andam Pela Sua Corte

  • Não tem memória de um sistema transparente de colocações, pelo que não se importa de um regime de favores a nível local, baseado em “perfis” e entrevistas.
  • Não conheceu outro modelo de gestão escolar, pelo que a existência de director@s e de um modelo único, impessoal e hierárquico até é aceite como “lógico”, pois “também é assim nas empresas”.
  • Não se importa de estar numa qualquer lista (inter)municipal de funcionários, porque só quer um vínculo qualquer, por precário que seja e é-lhe irrelevante quem lhe paga.
  • Não se incomoda de ter uma carreira desvalorizada e desqualificada em termos sociais, porque a única prioridade é sobreviver num mundo laboral desregulado e proletarizado.
  • Não tem redes de solidariedade alargadas, para resistir seja ao que for, porque se deixou atomizar na lógica dos nichos das redes sociais, em que a “indignação” se mede pelas partilhas de posts ou memes, mesmo que seja a própria pessoa a fazê-las por todo o lado.
  • Não sente qualquer problema com “aprendizagens essenciais” porque a sua própria formação tem muita teoria, mas muito pouco saber disciplinar específico.
  • Não tem reservas quanto ao desaparecimento de provas de avaliação externa, ou que sejam feitas apenas em modelo de escolha múltipla online, porque é essa a lógica em que se baseou a sua própria formação.
  • Etc, etc, etc.

Domingo

Eu sei que é uma coisa estranha, mas as redes sociais não são da ONU, da Unesco, da Amnistia Internacional ou de um qualquer poder público, a quem se deve exigir isenção, neutralidade, etc e tal, incluindo verdadeira liberdade de expressão. São empresas privadas e mesmo um descrente das imensas virtudes do (neo) liberalismo compreende que a sua lógica nunca pode ser confundida com a do interesse público. E sendo privadas, quem nelas manda, define as regras. Devem é esclarecer desde logo ao que andam, o que não aceitam e a favor de quem estão, para além do cifrão. Quem se sente mal, sai da casa, não adiantando dizer que o proprietário é injusto. Ele só ganhará dinheiro, se lá estiverem, mesmo que a protestar.

O Segundo Martírio De Van Gogh

Não lhe chegava ter de lidar com a incompreensão dos idiotas do seu tempo? Os seus quadros têm de ser vítimas do activismo ambiental juveniloide do presente? Vão lá atirar sopa e tomates para a porta das grandes corporações, a ver se não levam logo umas bastonadas. Assim, nos museus, não passa de cobardia em busca de cobertura mediática.