Provocação?

Parece que o actual primeiro-ministro escolheu a Educação como tema para a sua próxima ida ao Parlamento, após meses de uma “negociação” que foi prolongada até à imposição unilateral de soluções iníquas. Soluções que são mais problemas do que outra coisa, a começar por uma “vinculação dinâmica” que não se encontra em nenhum país europeu com problemas de escassez de professores. Continuando pelo “acelerador” da desmotivação que é uma recuperação ridícula de menos de 20% do tempo de serviço congelado ainda a haver pelos docentes. Tudo isto é uma “via verde” para cada vez mais docentes anteciparem a sua aposentação, sem que exista qualquer “percepção” de haver uma abertura de vagas de quadro que permita suprir as necessidades.

O primeiro Costa escolhe a Educação como tema, neste contexto, que antecipa um final de ano talvez tão complicado como o arranque do próximo, porque sabe que a oposição nesta matéria é minúscula e impreparada. Uma oposição que se divide entre “esquerdas” que pactuaram com a dissimulação desde o final de 2015 e “direitas” que partilharam o discurso do excesso de professores e de ameaça às contas públicas até 2015. Uma oposição que, em diferentes momentos, por acção ou omissão, foi cúmplice do que se passa, devido a uma assinalável falta de prospectiva crítica.

Entretanto, os resultados dos alunos portugueses de 4º ano continuam a cair (já sem a desculpa da troika, embora se tente o mesmo com a pandemia) nos testes PIRLS sobre a Literacia da Leitura, algo que se percebe à vista desarmada no quotidiano escolar dos alunos que estão agora nos 5º e 6º ano (para não estender o diagnóstico a outros anos). O problema é que a oposição (ou oposições) foi conivente com as políticas restritivas (à direita) ou com o laxismo na avaliação (à esquerda) e raramente se viu alguma intervenção sincera, que não passasse de enunciação ou proclamação política para efeitos públicos.

O primeiro Costa pode ir ao Parlamento descansado – assim como o ministro Costa pode andar pelo país com o deputado silva como muleta e eventual sucessor designado – porque sabe que do outro lado há gente tão ou ainda mais incompetente do que ele em matéria de Educação, embora isso seja difícil. Gente que não percebe que o mal tem sido feito, de forma continuada, com a sua anuência, por muito que gritem o contrário. O PSD e as suas emanações mais ou menos assumidas (IL, Chega) têm agendas para a Educação que não passam pela defesa da qualidade do ensino público. Aos destroços da geringonça, por seu lado, interessa mais a imposição de uma demagogia pretensamente inclusiva do que qualquer outra causa. Entre uma sala de aula devidamente equipada e casas de banho inclusivas, há quem no Bloco mediático não hesite. Quanto ao PCP, de regresso à cassete do tudo igual para todos, professores ou sapateiros (profissão de ascendentes meus, não comecem já a falar de preconceitos), já nem sei o que quer exactamente para além de minguada sobrevivência.

Entretanto As Probabilidade De Veto Do Diploma Dos Concursos Terá Aumentado Significativamente De 1% Para 5%

Se é para levar nem que seja um pouquinho a sério aquilo da maior e mais atenta fiscalização da acção do governo e dos seus truques com a verdade dos factos e a seriedade da comunicação pública.

Claro que em circunstâncias minimamente razoáveis, de controlo da tal confiabilidade, credibilidade e respeitabilidade deveriam ter passado para 99%.

Só que este é um mundo político onde ministros vão inaugurar, legitimar, aplaudir, ou sei lá que mais, “termómetros da felicidade”, pelo que a esperança não é a última a morrer, porque falece de depressão a meio do processo.

O Que Faz Costa Pendurar Um Galamba Ao Pescoço?

É muito difícil considerar que o ministro galamba esteja no top 100 dos vagamente especialistas em infraestruturas do PS. Quiçá nem no top 500. Estará, por certo, no top 10 dos especialistas em trambiquices, recados, tricas, truques ou cartilhices (podemos resumir com o termo “galambices”) lá da agremiação, com vasta obra produzida nos últimos 15-20 anos. Por isso, é estranho que o primeiro Costa tenha decidido fazer a primeira grande afronta ao amigo e presidente Marcelo por causa de tal figura, a menos que seja porque, naquela área de especialidade da galambice, em virtude de tanto recado que deu, galamba saiba demais ou seja muito necessário, como correia de transmissão finalmente domesticada do seu protector actual.

Porque manter galamba é como manter uma pedra bem pesada, presa ao pescoço, quando se mergulha no mar profundo, ou seja, quando se tenta entrar no terreno do jogo político com o mestre dos mestres, a.k.a., Marcelo Rebelo de Sousa. Depois da patética e óbvia encenação em torno da demissão do ministro galamba, o primeiro Costa fica com o seu destino natural e estreitamente ligado ao daquele, podendo cair quando aquele galambizar, o que é mais do que natural, em especial quando isso acontecer de um modo por demais evidente e desastrado. E não há que esperar outra coisa, porque este galamba, está condenado a galambizar, porque essa é a sua natureza, como aquele escorpião ao atravessar o rio, mesmo que isso o arraste e a quem o agarrou quando caía e o pendurou ao pescoço.

A menos que o primeiro Costa queira mesmo cair, por achar que ainda é a batata frita mais crocante do pacote, pois todas as outras são piores, mais desenxabidas e insossas. Tirando aquela outra, igualmente crocante, cujo venturoso crescimento dá ao primeiro Costa a principal razão para justificar a arregimentação das hostes, em caso de se ir a nova escolha do prémio Crispy Potato of the Year.

Só assim se entende que o primeiro Costa tenha colocado tamanho calhau ao pescoço. O que é muito arriscado, mesmo se tiver um canivete afiado à mão.

(c) A Matilha (aqui)

Que Belo Momento Para Um Veto!

O Ministro das Infraestruturas apresentou hoje o seu pedido de demissão, invocando razões de peso relacionadas com a percepção dos cidadãos quanto às instituições políticas.

O Primeiro-Ministro, a quem compete submeter esse pedido ao Presidente da República, entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável.

O Presidente da República, que não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do Primeiro-Ministro, discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à percepção deles resultante por parte dos Portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem.

Sondagens (Paradoxalmente) Positivas Para O PS

Sondagens que apresentam um empate técnico entre PS e PSD na casa dos 30%, com o Chega a subir, nesta altura, parece-me mais positiva do que se possa pensar para o dito PS. Porque permite acenar com o papão da extrema-direita, pois o PSD e a IL não conseguem ter maioria para governar, assim mobilizando o eleitorado que ora é seu, ora não é. Sem eleições no horizonte, com um PSD com anemia crónica, o PS pode descer agora que a ascensão do Chega é uma espécie de salva-vidas que o manterá à tona, por inabilidade evidente do Bloco e PCP conseguirem capitalizar uma insatisfação de cuja responsabilidade, junta ou injustamente, com o seu desempenho durante a geringonça, não se conseguem escapar por mais manifestações que promovam.