6ª Feira

A ida de ontem à Comissão de Educação e Ciência deixa o travo amargo de 20 minutos contados quase ao segundo, com uma tolerância pouco mais do que mínima, mas também deixa o bem estar de se fazer o possível, mesmo sabendo da ineficácia prática, a curto prazo, da iniciativa. Não tenho ilusões, sei ao que fui e o resto da delegação também.

Quanto ao substancial, o PS fez o seu papel, com o deputado Agostinho Santa a dizer o que era previsível (chamar “radical” a qualquer iniciativa “divergente” já é rotina, nem dá para levar a mal, faz parte do ghuião) e o bónus do deputado epistemólogo ter dado de frosques mal viu a composição da delegação de professores. O homem tem mesmo maus fígados e não deve gostar de ver outros sorrirem perante a ideia de o ter ali diante. O PSD fez uma intervenção em forma de “nim”, como se espera de quem tem a esperança de lidar com algo que não entende muito bem e não se quer comprometer. O Chega cavalgou a petição e aproveitou para uma guerrilhas internas à Comissão. Citar em 50% do tempo passagens da petição é um bocadito preguiçoso, mas é o que se arranja.

A susência dos “liberais” era expectável. Não percebem do tema, nem lhes interessa e até devem ter raiva a quem percebe. Basta ver as prosas de muita gente “liberal” no Observador e não só. Arrogância a rimar com ignorância, como bem me lembro de há mais de 10 anos do mentor original da agremiação, que agora faz de eminência parda na comissão da tap.

Para mim, com algum significado foram as ausências do Bloco e PCP da sessão. Certamente devido à exiguidade dos grupos parlamentares, da falta, entre os peticionários, de “camaradas da luta” na rua, sem câmaras e televisões por perto, apesar de morrerem de amor pela Escola Pública, nem 3 minutos dedicaram ao tema em debate, até porque na sua matriz ideológica a burocratização da avaliação dos alunos como forma de combater administrativamente o insucesso não lhes desagrada assim tanto. A coisa foi mais notória, quando nos cruzámos com uma das deputadas da Comissão, que deveria ter mais cafézinhos para tratar do que aparecer lá dentro.

A apresentação feita, muito resumida, que não é completamente visível na gravação, foi entregue assim como será uma abundante pasta de documentação de apoio e fundamentação do que foi dito. Servirá para alguma coisa? Em termos práticos, não acredito, porque não tenho ilusões ou fantasias. Mas, pelo menos, fica o registo de quem não se incomodou em dar a cara, com destaque para a Dália e o João Aparício, pelo combate a algo que inferniza o quotidiano escolar de dezenas de milhar de docentes. E já agora, a demonstração que contra enunciações e proclamações há factos demonstráveis do MAIA enquanto mera replicação acrítica e aparentemente “distorcida” de uma matriz que se queria “virtuosa”. A parte da gravação sem som, foi exactamente quando tentei que parassem o tempo para esclarecer o deputado do PS sobre as matrizes virtuosas que desembocaram em totalitarismos. Sempre em nome de ideais maravilhosos, claro. Mas o presidente da Comissão mandou logo recomeçar o tempo que o dia ia longo.

A quem acha que faria melhor, o meu incentivo a que apresentem uma petição que numa semana chegue perto das 10.000 assinaturas e depois apareçam pelo Parlamento, que precisamos de mais gente que não ande apenas em modo pavão da luta (independentemente do género 😉 ).

22 opiniões sobre “6ª Feira

  1. Um enorme agradecimento pela representação, de alto nível, e pelo esforço de todos.
    De resto… um lamento profundo pelas ausências e pelas instrumentalizações bacocas.
    Por essas e por outras o país anda à deriva, empurrado por ventos que nada têm a ver com o espírito de causa nacional ou o desejo de fazer progredir o país.
    Andamos à tona, sofrivelmente. É entristecedor.

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    1. Bravo, Fátima.
      E depois, admiram-se das elevadas abstenções?
      Ou será que pessoal e “internamente” dizem:
      -Não conseguirmos eleger mais deputados, para sermos mais!

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  2. Agradeço a todos que representaram os professores. Como diz o Paulo, também não espero grande coisa dessa comissão….agora fico contente também em saber que o outro ( que é uma disquete), apareceu e desapareceu logo que vos viu….tinha que ser o Sr. Silva, Porfírio de seu nome….

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  3. Bravo colegas!
    Excelente e sólida capacidade argumentativa, suportada e ancoradas em factos, dados e “provas”.
    Obrigado à “mosqueteira e mosqueteiros presentes”.
    Obrigado Paulo por nos contar o que viu e sentiu.
    Obrigado pela sua/vossa honestidade intelectual , retidão e verticalidade de valores.
    Obrigado por lutarem por uma melhor Escola Pública Com Qualidade e, por tentarem melhorar o trabalho diário de muitíssimos milhares de docentes.
    Ficamos a conhecer como são e funcionam as coisas dentro da Assembleia.
    Então, para discutir assuntos muitos sérios relativos à Educação, só nos dão 8, 12 ou 20 minutos?
    Fico muito triste que num bonito país, os atores e decisores políticos, não arranjem mais tempo e até um debate televisivo, com estes DOCENTES, que estão no “terreno” diariamente a lecionar!
    Obrigado (mais uma vez) aos colegas pela grande disponibilidade, pela tentativa de melhoria da Educação e do Ensino em Portugal e, por não se sentirem bem a viver e trabalhar no “Faz de conta”.
    Grato pelo enorme serviço público!

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  4. Muito obrigado!
    Já todos sabemos o que a casa gasta e o nível (fraco) dos nossos deputados da nação. Aquelas das “commas” (PSD) foi o máximo… Até rebobinei a coisa… Pensava que tinha ouvido mal… Espero que dê em meme…no mínimo. Ou em cartaz. Por que não?

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  5. Esta Comissão de Educação e Ciência só consegue reforçar a ideia que tenho: Quem nos (DES)governa está a anos luz da realidade das escolas de todo o país e daquilo que OBRIGAM os docentes a fazer no seu dia a dia em vez de fazer aquilo para que são formados: estar com os alunos e orientá-los no seu percurso escolar. Sim, porque este MAIA, e outros projetos que por aí pululam nas escola, e ao contrário do que foi dito pelo senhor deputado, são-nos impostos. É o “voluntariado à força”. Mas o problema está nos professores, obviamente! Eles é que não sabem ler… pois claro!
    Mostrou também quem fez o “TPC” e se preparou convenientemente. Enfim… como se nós não soubéssemos como são estas Comissões.
    Por isso o meu OBRIGADO aos colegas pelo excelente trabalho. Pode “cair em saco roto mas” a queda é excelentemente fundamentada.
    Duvido é que tenha “feedback de alta qualidade”!

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    1. O velho sábio disse:
      “É muito perigoso e duvidoso, entender o mundo e compreender a realidade, atrás de uma secretária.”

      – Venham trabalhar para as Escolas!
      – Sejam professores no ” terreno” e não nos ” gabinetes”!
      – Atores e decisores políticos no Parlamento, leiam o livro “Injustiças e Abusos No Ensino em Portugal” e o artigo “Escolas onde os alunos passam frio” e “alunos que não vêm alimentados de casa” assinado por Manuela Micael.

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  6. Felicito a petição e os representantes dos professores presentes na Comissão – na ausência de intervenções de outros agentes que representam os professores (quando lhes convém) -, mas a petição deveria centar-se na ingerência na autonomia das escolas e na autonomia profissional dos professores (que parte do Ministério, com a conivência dos diretores escolares) – e não tanto na burocracia (que é gerada, antes de mais, nas escolas e, por isso, varia muito entre estabelecimentos de ensino). A responsabilidade do projeto MAIA é da abelha rainha, mas também dos zangões e das operárias nas escolas…

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  7. Ante de mais, um agradecimento gigantesco aos professores de fibra que têm dado a cara e a alma pela defesa da escola pública.
    Ontem, assisti ao modo operandi de uma democracia em coma induzido. O modo acelerado, atabalhoado e em tempo reduzido, como se dá voz a quem defende uma petição é, a meu ver, uma encenação triste e inócua de um país que se diz democrata.
    Anseio por um debate sério e em horário nobre, sobre a escola pública, ao estilo do “Prós e Contras”. Esta ideia fez-me questionar Fátima Campos Ferreira:
    “Perante toda a contestação à volta da escola pública e a luta travada entre professores e Ministério da Educação, revi o Prós e Contras subordinado ao tema: “Avaliação: Simplificação ou Suspensão”. Estou em crer que, em muito, o debate gerado no programa não só levou à alteração do modelo proposto, como foram levantadas questões/problemas que ainda hoje, passados 15 anos, se mantêm.
    A minha questão é esta: será possível moderar um novo debate?”

    https://arquivos.rtp.pt/conteudos/avaliacao-simplificacao-ou-suspensao-parte-ii

    Não obtive resposta mas se esta vontade reunir consensos talvez desperte consciências.

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  8. São 20 anos que “vocês” levam disto. Só posso imaginar a pele dura que necessitam de suportar para enfrentar a verdadeira batalha que têm travado em nome da nossa profissão e daqueles que comungam das mesmas ideias. Vocês dão a cara, o corpo e a alma; nós somos uns ilustres anónimos que comentam por aqui. É todo um oceano pacífico de calmaria comparativamente.

    Se há algo que confirmei nestes quase 20 anos em que nos “conhecemos” é que só perde realmente quem não luta.

    Muitas vezes, venho aqui para me encontrar com todos os que por cá passam e reganhar alguma coragem e senso perante a indiferença de 99% dos colegas com quem trabalho diretamente, apáticos, indiferentes, sempre com mil desculpas para não agir.

    Dizer obrigado por tudo isso e por tudo o que vivemos em conjunto é o mínimo.

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    1. Teve a vantagem de mostrar a sobranceria dos deputados e a indiferença bocejante que mostram perante o sistema educativo. Dissipou qualquer dúvida que tivesse sobre o desprezo tolerante que existe em relação à profissão docente. Permite-me, nestes últimos anos, agir em conformidade, salvaguardando o que ainda sobra de sanidade.

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  9. Travo amargo?
    Não será doce deleite?
    Fantástico, fantástico, fantástico!
    Tão fantástico quanto emocionante.
    Tão emocionante quanto fantástico.
    Obrigado, obrigado, obrigado.
    Muito obrigado.
    Um agradecimento especial aos deputados da esquerda (com grupo parlamentar), PS, PCP e BE: estiveram bem, mesmo bem.
    P.S.
    Tive dúvidas quando surgiu esta petição.
    Quão enganado estava…

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  10. Caros colegas, boa noite.
    As vossas palavras, força e confiança são um estímulo e um forte sinal de que vale sempre a pena continuar e insistir na nossa justíssima luta.
    Muitos parabéns e um obrigado especial à nossa colega Dália Aparício por ter avançado com a Petição, dando uma expressão concreta à sua indignação perante os desvarios deste Projeto MAIA. Parabéns ainda aos mais de 13.000 colegas que a subscreveram e que, depois de apresentada na CEC, terá um Parecer e subirá a Plenário, onde será discutida, obrigando todos os partidos a pronunciarem-se ou a proporem legislação. Finalmente, é da mais elementar justiça destacar as brilhantes intervenções do Paulo Guinote e do Paulo Prudêncio, sobretudo perante as limitações de tempo, que muito dignificaram a Petição e todos os seus subscritores.
    Em frente e em força!
    Grande abraço.

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  11. Temos a agradecer ao Paulo Guinote, ao Paulo Prudêncio e ao Ricardo Silva por terem aceitado o convite para ajudar a defender a petição na Comissão de Educação e Ciência. As intervenções foram excelentes e complementaram-se na perfeição.
    O nosso agradecimento e admiração profunda pelos três.
    Dália e João Aparício

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