Sei que estas decisões já estão tomadas e que são definidas mais por tácticas políticas do que por convicções ou poela justeza das causas, Mas, se há matéria que submerge o trabalho de muitos docentes é exactamente a da burocracia associada à neessidade demonstrar que se fez tudo para que o aluno se empenhasse no seu próprio sucesso. O “MAIA” não é caso único ou singular, muito menos é “inovador”. Apenas é massacrante e destituído de sentido para uma verdadeira melhoria das aprendizagens dos alunos. É uma teorização balofa, palavrosa, redundante, que se tem traduzido – cortesia de elites locais que engoliram umas formações e talvez até tenham lido um par de livros na última década – num delírio em tons de excel, mas também de outras ferramentas para registar toda a treta irrelevante ou para lá caminhando.
Não adianta virem dizer que a teoria era virtuosa e que os humanos é que a desgraçaram, como acontece quando se fala do modelo de gestão escolar ou da avaliação do desempenho. Ou de outras ideologias com passados tenebrosos. Para avaliar o nível de burocracia e desperdício, basta ver que só na equipa coordenadora há 15 elementos, fora as extensões locais. E tudo com o apoio empenhado do ME ao longo dos anos, a actual cobertura do seu criador, agora a presidir ao CNE e extensões de controle através das inspecções pedagógicas da IGEC. Não esquecendo a parte da formação contínua. Perante todo este aparato, percebe-se que, em muitas escolas, o pior das mentes formatadas e formatadoras vem logo ao de cima.
Que fosse uma metodologia, apresentada como uma entre outras, não me chocaria. Agora ser uma espécie de ideologia oficial do ME, para mais ao abrigo de algo que se afirma como “autonomia e flexibilidade” é ridículo.
Em tempos de necessidade de cativar/reter/atrair professores, seria importante que os partidos que regem a Educação desde quase o nascer dos tempos democráticos entendessem que nada disto beneficia os alunos, excepto na parte em que há muitos professores (não vale a pena negá-lo), que para evitarem chatices maiores, aderem de alma defunta a tudo isto e despejam sucesso sobre as pautas, para ficar bem nas estatísticas, nos relatórios de autoavaliação e na propaganda para consumo externo, a exibir em encontros com matizes quase evangélicos.
Estou a ser demasiado agreste e condescendente com gente que “só está a tentar fazer o seu melhor”? Acredito que sim, mas confesso que se isto é o vosso melhor… abstenham-se e façam apenas o vosso normal.
Até porque este que aqui escreve já esteve directa ou indirectamente ligado, por estes dias, a uma meia dúzia de “milagres”, sem necessidade de tanta conversa fiada. Sem necessidade de uma parafernália de grelhas.
Indo ao essencial: mais do que viabilizar “resoluções”, PS e PSD deveriam promover o regresso do “projecto MAIA” às proporções que deveria ter tido sempre. Se não o querem extinguir, suspendam-no, não o andem a enfiar pelas goelas abaixo das escolas, sob pena de não terem uma avaliação externa generosa. Avaliem a coisa, sem ser apenas com o testemunho dos seus proponentes e crentes. Se estão preocupados com a aprendizagem dos alunos, não classifiquem como “excelentes” lideranças que promovem activamente a ignorância arrogante e a desafeição ao Conhecimento. Que confundem tudo, maquilhando o vazio.
Querem ajudar as escolas, os alunos e os professores? Tenham a coragem de cortar com práticas de um passado mais ou menos recente, pleno de uma retórica de boas intenções que apenas nos faz regredir várias décadas, mais ou menos elogios da OCDE, só para que algumas pessoas sintam que o que aprenderam há meio século é que era.
O presente não deveria ser isto. O futuro não pode ser isto.