Há Sempre Quem Descubra Coisas Que Acha Novas

Sim, é útil caracterizar com rigor em vez de apresentar apenas ideias gerais. Mas nada disto é surpreendente.

O problema é quando gente com muito pouca capacidade para perceber as consequências de certo tipo de “excitações”, em vez de tentar educar os jovenjs para o uso das tecnologias, parece mais interessado em promover os negócios que lhes estão associados, alegando que é em prol da “Educação do século XXI”.

Em cada 10 jovens de 18 anos (prevalências nos 12 meses anteriores), 6 usam a internet durante 4 horas, ou mais, por dia (61%), 5 usam as redes sociais durante 4 horas, ou mais, por dia, 2 fazem pesquisas online durante 4 horas, ou mais, por dia, 1 a 2 jogam online durante 4 horas, ou mais, por dia, menos do que 1 joga jogos de apostas online durante 4 horas, ou mais, por dia, e 3 experienciaram recentemente 1 de 7 problemas que atribuem à utilização da internet (31%). Principalmente, situações de mal-estar emocional (18%).

3ª Feira

De forma algo repentina, mas felizmente, começam a levantar-se dúvidas sobre a urgência de uma digitalização acelerada do ensino, em especial nos primeiros ciclos de escolaridade. Ainda em 2020 e 2021, durante a pandemia, quando coloquei algumas reservas e questões aos “solucionistas”, levei a pancada habitual, devida a um “velho do restelo” que usa computadores nas aulas desde os anos 90 do século passado, quando apareceram em algumas escolas as primeiras “salas de informática”.

Ainda bem que agora já se começa a relativizar o ímpeto associado a todas as modas epidérmicas. O Veronesi falou para a peça da SIC de hoje, mas parece que foi abundantemente “editado”. No DN o tema mereceu destaque de 1ª página, com diversos contributos. Embora boa parte tenha sido reproduzida na peça, deixo aqui as minhas respostas completas, escritas em modo breve.

João Costa, revelou que esperava que até ao fim da legislatura, que termina em 2026, todas as escolas tivessem manuais digitais. Concorda com essa medida?

Não tenho uma resposta definitiva e absoluta a essa questão, porque essa medida depende, em meu entender, de outras que a tornem significativa. enquanto escolas, alunos e professores não estiverem devidamente equipados para a utilização de manuais digitais, a sua introdução será prematura. Considero que essa introdução deverá ser sempre em modo voluntário e não obrigatório, conforme os contextos, práticas e projectos educativos das escolas e mesmo das turas, evitando-se o efeito moda e a tentação de uma nova e muito rentável área de negócio, que não devem ser prioridades quando se trata de escolher o melhor para o trabalho com os alunos.

Que vantagens e desvantagens tem a utilização de manuais digitais?

As vantagens são o acesso em múltiplas plataformas, a sua portabilidade e versatilidade. As desvantagens passam pelo modo como a adição aos ecrãs e equipamentos digitais está a atingir as crianças, jovens e adultos, alheando-os quase da realidade física envolvente. Para além disso, o suporte físico da informação não deve ser descurado por múltiplas razões, desde a questão mais tradicional da sobrevivência do livro-objecto até questões de segurança, pois os suportes digitais prestam-se com enorme facilidade a acessos indevidos à informação, à sua manipulação e mesmo destruição. O manual digital é, em meu entender, um suporte mais vulnerável e inseguro do que o manual físico, pelo que os dois recursos devem coexistir.

Países como a Suécia, que começaram antes a substituição de manuais, já voltaram atrás. Portugal devia fazer o mesmo?

Devemos ter algum distanciamento em relação a modas e epifenómenos. As tecnologias estão em permanente mutação e na minha vida de aluno e professor já conheci muitas tecnologias auxiliadoras da aprendizagem que surgiram, tiveram o seu pico e (quase) desapareceram por completo. Devemos combinar as ferramentas que vão surgindo, combinando-as com as existentes, não apostando tudo apenas num só suporte. A falta de uma visão estruturada a médiolongo prazo, assente em experiências anteriores, é uma das falhas sistémica das nossas políticas educativas, prisioneiras de ciclos políticos, interesses particulares e derivas ideológicas. A Suécia é o exemplo de uma sociedade que avança em alguns aspectos muito rapidamente, mas faz uma devida avaliação das políticas e inflecte-as quando necessário. Antes dos manuais digitais, já quanto à liberdade de escolha isso tinha acontecido. Entre nós, o que acontece é a alternância entre grupos instalados no poder, que mudam as políticas de acordo com os seus interesses e não uma avaliação ponderada da realidade.

Ainda Bem Que Ofereceram À Miudagem Equipamentos Pró Fraquinho?

Ai, ai, ai… que ainda estragam um dos negócios mais chorudos em desenvolvimento na nossa Educação… O que é que interessam as competências na leitura e escrita quando estão milhões em jogo?

Existe uma “relação negativa” entre o uso excessivo de tecnologia e o desempenho académico. A Suécia já percebeu isso e está agora a colocar um travão na utilização dos ecrãs enquanto ferramenta pedagógica nas escolas. Para que os alunos sejam colocados “em primeiro lugar”, a hiperdigitalização do ensino “merece pelo menos uma reflexão cuidada”, diz a pediatra Micaela Guardiano, do Hospital de São João

Pela Holanda

Los centros podrán acogerse de forma voluntaria a la prohibición del móvil, el reloj inteligente y las tabletas desde enero de 2024.

Adicionalmente, chamo a atenção para a foto que acompanha a notícia, em particular, aquilo que poderemos chamar a “área restritiva” d@ professor@ marcada no chão a vermelho.

Fiascos…

Tras décadas de fe ciega en la tecnología, los expertos en educación dan marcha atrás y redescubren la importancia del aula, la memorización, la caligrafía y los libros en papel: “En los próximos años vamos a asistir a una ola de desdigitalización masiva”.

A Ler

Numa altura em que as escolas adotam medidas de transição digital sem base científica que as valide, é fundamental recentrar a discussão na educação que queremos, e não nos dispositivos a usar.

(…)

A Suécia produziu uma decisão assente em estudos comprovados, reprovando a atitude acrítica que tende a aceitar a tecnologia de forma benevolente, flexível e positiva independentemente do conteúdo e das suas implicações. Resiliência é uma palavra frequentemente utilizada no Plano de Acção acima mencionado. Esta palavra é aplicada para justificar escolhas económicas em nome de uma aceitação do que é apresentado como inevitável: os empregos, os serviços, as marcas, as empresas, as indústrias, os filmes assim o indicam. O futuro não é inevitável, é construído por todos nós.