6ª Feira

Pela manhã, ouvia na TSF um desfile de organizações ligadas à Justiça e Saúde que vão ser recebidas nos respectivos ministérios para iniciar negociações. Nenhuma delas apresentou, nos seus cadernos de encargos reivindicativos, a questão do tempo de serviço por recuperar. Porquê? Porque essa é uma questão que não é exclusiva, mas é claramente mais relevante e central no caso dos professores. Muitas carreiras já recuperaram o tempo completo do congelamento, apesar da conversa da equidade dos 70% que o anterior governo fez circular, em modo de pós-verdade. Quem anda a dizer, após anos de tentativa de desmontagem da falácia, que essa recuperação abriria uma “caixa de Pandora”, sabe que mente e o faz descaradamente. O problema é que mesmo a partir de dentro do sindicalismo docente, em especial daquele que se faz algo mais do que isso, talvez por ter dirigentes que não passaram pelo que dezenas de milhar passaram nos últimos 20 anos, existe uma relativização e diluição dessa reivindicação entre muitas outras, como se tudo fosse equivalente. Percebe-se a táctica disso, mas a seu tempo lá se voltará, para demonstrar que também isso passa por algum descaramento.

Descaramento também é o mínimo que se pode dizer de um governo que, mal chegou, já começou às arrecuas num tema acerca do qual fez muitas promessas. E claras. A intervenção do novo ministro das Finanças a atirar para 2025 a recuperação de qualquer parcela desse tempo de serviço, contrariando de forma muito evidente o que o novo ministro das Finanças tinha garantido, que o novo primeiro-ministro tinha anuciado e o líder da oposição fez saber que aprovaria com a maior celeridade, é um episódio de desonestidade enorme, de uma política rasca a fazer lembrar aquele momento de marcha-atrás de Rui Rio quando o PSD desertou da coligação que, no Parlamento, se preparava para aprovar essa recuperação de tempo de serviço (há poucas semanas ouvi uma explicação sobre o que aconteceu nos bastidores nessa altura, que me convenceu muito pouco). O que o patusco Miranda Sarmento veio dizer é que não quer fazer orçamento rectificativo, planeando meter a medida no OE para 2025 que deve ter um chumbo garantido, inviabilizando-a.

O que o novo e algo canhestro ministro das Finanças veio dizer é que se está a preparar para lixar, desde já, as negociações que começam daqui a uma semana. Negociaçoes que até deveriam ser relativamente pacíficas, dentro do que se pode considerar “pacífico” neste contexto, se é verdade que todos estão de acordo, a começar pelos que já se engalanavam com a “impossível” vitória conseguida, como se fosse só sua. Sim, há alguns detalhes técnicos a resolver, em especial os relacionados com quem se está a aposentar e vai aposentar nos próximos anos, assim como o tempo previsto para a recuperação que se prometeu ser a “legislatura”. Ora… A legislatura tem 4 anos e picos, mesmo se em teoria se estenderá por 5 anos civis (2024-2028).

Só que a solução apresentada, antes de qualquer negociação, de 20% de recuperação por ano, não cabe em 2025-2028, até porque este governo dificilmente chegará, sequer, a meio disso, ou mesmo a um quarto. Pelo que o que se está a preparar é a recuperação de 0%, porque qualquer acordo a que se chegue (e há quem já se percebeu que não assinará nenhum) chocará com a inclusão dos encargos no OE para 2025. Apesar do alegado excedente orçamental existente e da disponibilidade do PS para aprovar um orçamento rectificativo até ao Verão.

Como escrevi mais acima… a ser assim, estamos mais uma vez mergulhados na política rasca ao seu habitual baixo nível.

Se isto era expectável?

Claro que sim. Mas há sempre um ínfima esperança que não mudem apenas as varejeiras.

19 opiniões sobre “6ª Feira

  1. De ronda em ronda …. quantas mais melhor. Fico perplexa como os dirigentes conseguem prever o futuro! Poderei ou não estar cá. A reposição dos anos é tão importante como as condições de trabalho nas escolas, esta é a minha opinião. A relutância em discutir o que quer que seja sobre a gestão das escolas, revela bem para o que vêem. O cansaço é muito… Um abraço a todos os colegas que ainda lutam pela Escola.

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  2. Se o ministro das finanças adiar para o próximo ano a recuperação do tempo de serviço da história então Montenegro será o maior aldrabão de promessas em relação aos professores.

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  3. ups

    correção

    Se o ministro das finanças adiar para o próximo ano a recuperação do tempo de serviço dos professores  então Montenegro será o maior aldrabão da história quanto a promessas em relação aos professores.

    Ele prometeu resolver nos primeiros três meses dos

    1 -médicos

    2 – professores

    3- forças da ordem

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  4. Já vão arrancar as negociações?

    Caramba, foi rápido.

    Este governo está a surpreender : )

    Finalmente vejo alguma luz ao fundo do túnel.

    Não sejam pessimistas.

    Desta vez temos um Governo da direita liberal.

    Ou seja, as coisas vão voltar a mexer.

    Vá, preparem-se para passarem a votar direita (incluindo o Agostinho).

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    1. Vossa Excelência tem conhecimento de quantos deputados do seu futuro partido têm neste preciso momento processos a decorrer em tribunal? Parece que o senhor prefere morrer afogado no mar do que numa banheira. Opções.

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    2. Mas já esqueceste da mentira e a aldrabice do inicio do pagamento dos 20% só em 2025? Qual é o interesse na rapidez das negociações se não tem depois consequências?

      Votar na direita? Eu? Só mesmo quando algum dia estiver demente e mesmo assim não será fácil.

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      1. Dessa água não beberás?  
        Disse por aqui, ontem, penso eu:  
        É um processo que implica negociações, enquadramento legislativo e mecânicas de implementação, certo?   
        Em outubro/novembro o nosso anjo da guarda, Pedro Nuno Santos, viabilizará o Orçamento, lei que vai enquadrar (acredito eu) a recuperação do tempo de serviço?   
        Lembro-me bem dos meses e meses (mais de um ano) que decorreram entre o anúncio e a aplicação da anterior recuperação.   
        Ou não foi assim?     
        Acreditaram no milagre retificativo P(N)S?

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