Um Par De Notas (Ainda) Sobre A Questão Do Projecto MAIA

Entre as pessoas que defendem a sua existência e continuidade são apresentados alguns argumentos que me parecem pouco válidos ou mesmo mistificadores da realidade vivida em muitas escolas.

Antes de mais, aquela questão do dito projecto ser de adesão “voluntária” pelas “escolas” e, por isso, a sua supensão ou extinção não fazer sentido, pois é apenas uma possibilidade a que se pode aderir ou não.

Pois… nem vou entrar (mais uma vez) pela parte das inquirições inspectivas.

Vou ficar-me pela parte das “escolas” aderirem ao projecto, focando-me no que se entende por “escolas” e nos seus processos de decisão nesta matéria. Porque há quem diga que estas decisões são tomadas no Conselho Pedagógico, que é formado por professores, escolhidos por professores. Mas isso é mentira, pois, de acordo com o artigo 32 do decreto-lei 13772012:

A composição do Conselho Pedagógico é estabelecida pelo agrupamento de escolas ou escola não agrupada nos termos do respetivo regulamento interno, não podendo ultrapassar o máximo de 17 membros e observando os seguintes princípios:

a) Participação dos coordenadores dos departamentos curriculares;

b) Participação das demais estruturas de coordenação e supervisão pedagógica e de orientação educativa, assegurando uma representação pluridisciplinar e das diferentes ofertas formativas;

2 – Os agrupamentos de escolas e as escolas não agrupadas podem ainda definir, nos termos do respetivo regulamento interno, as formas de participação dos serviços técnico-pedagógicos.

3 – O diretor é, por inerência, presidente do conselho pedagógico.

Isto significa, em termos concretos, que apenas de 4 (Secundária não agrupada) a 6 (Agrupamento) elementos do CP são escolhidos, numa eleição restrita a três docentes designados pel@ director@, pelo resto dos professores. Todos os outros elementos, que podem ir até 13 são realmente designados, de um modo ou outro, pel@ director@ e presidente do dito CP. Não adianta firem com conversas da treta, pois o CP é, na sua maioria potencialmente qualificada, uma emanação da vontade da liderança unipessoal. Há quem lá esteja a representar dezenas de colegas (caso do departamento correspondente ao 1º ciclo) e há quem esteja por designação feita para um determinado cargo, sem que isso signifique a representação de mais do que uma pessoa ou um nicho de interesses, cuja manutenção depende das boas graças de quem decide quem ocupa esse cargo.

A decisão de adesão a este tipo de projectos é “voluntária” e “tomada por professores”? Sim, formalmente é assim; na prática, é toda uma outra coisa e chega de fumarada ou poeirada a esconder o que é evidente: querendo uma só pessoa e sendo essa pessoa prepotente e usando extensivamente a sua capacidade de pressão, até podem estar todos os professores dos 6 departamentos contra, excepto os tais designados para as “demais estruturas” ou “serviços técnico-pedagógicos”, que a votação no CP pode reflectir algo completamente diferente do sentir da larga maioria de quem tem de trabalhar quotidianamente com os alunos.

E sabe-se bem como muitas lideranças locais gostam de ficar bem no retrato, serem convidadas para “eventos” e serem recompensada pelas equipas de avaliação externa.

Até porque:

O Projeto MAIA constitui-se como um esforço concertado a nível nacional no sentido de desenvolver um processo que, em colaboração com os CFAE, com as direções dos Agrupamentos de Escolas/Escolas Não Agrupadas e com os docentes, crie condições para que a avaliação pedagógica seja integrada nos processos de desenvolvimento curricular e, desse modo, se articule com o ensino e com a aprendizagem.

O Projeto MAIA teve o seu início em setembro de 2019, contou com a conceção e coordenação do Professor Domingos Fernandes e com a implementação da Direção-Geral de Educação.

Sim, não é obrigatório… e há quem resista, mas não é por falta de vontade ou empenho da DGE que, pelo que se percebe, paga a conta dos encontros nacionais do projecto.

Passemos a outro “argumento” contra a cessação ou suspensão do projecto, que é aquele da necessidade de o “avaliar” com “rigor”.

Pois…

Como se não conhecessemos as práticas de auto-avaliação promovidas pela equipa do projecto. Até agora temos dois relatórios, para os anos de 2019-20 e 2020-21 (os atingidos pela pandemia), que assentam as suas conclusões em inquéritos feitos aos responsáveis, nas escolas, pela sua implementação. Ou seja, perguntam-lhes se acham que escolheram bem o que escolheram e se fizeram bem o que fizeram. Basta ver quem foram os formandos nas acções de divulgação do projecto.

A verdade é que nunca existiu qualquer avaliação externa do projecto nestes cinco anos e muito menos um olhar independente sobre a opinião dos professores “comuns”, sem cargos de chefia ou “implementação” da coisa em si. Muito menos um inquérito anónimo sobre isso.

Quanto a relatórios locais, tive oportunidade há um ano de projectar na Comissão de Educação vários diapositivos sobre a forma como se replicam em cascata pelo país as mesmas fórmulas decalcadas da matriz inicial, que nem vale a pena usar o termo “original” neste contexto. Estes exemplos são apenas uma curta amostra do corte e costura feito, entre palmadinhas nas próprias costas e dos colegas de “equipa”.

Aquilo de que alguns acusam os professores de fazer se não tiverem quotas para a excelência é a regra nestas autoavaliações com direito a sessão colectiva de auto-satisfação.

Virem agora dizer que é necessário “mais tempo” para proceder a uma avaliação rigorosa do impacto do projecto, só pode ser uma piada de mau gosto.

E nem sequer ainda me dediquei em seguir o “rasto financeito” do projecto, como alguém já me sugeriu, para explicar certas adesões e tanto ardor na defesa de algo que apenas nos faz arder, no pior dos sentidos.

PS-PCP: A Aliança Em Defesa Da Hiper-Burocracia Distópica Nas Escolas (Perante A Cumplicidade Do PSD)

A posição do PCP é ainda mais “notável” quanto a rejeição, caso se tivesse abstido ou votado a favor, seria assegurada pelos votos do PS.

Quanto à abstenção do PSD, em forma de “nim”, apenas demonstra como existe um “pacto de regime” na Educação em quase tudo, tirando uns detalhes na avaliação dos alunos e nos conteúdos da disciplina de Cidadania.

6ª Feira

Não pude ir ao Parlamento, por não ter possibilidade de chegar à hora da entrada oficial dos peticionários. Mas cheguei a casa pelas 12.30 e comecei a ver a ARTV de forma intermitente. Não querendo desmerecer as outras intervenções gostaria de destacar duas (não, não é aquela onde fui citado): a da ex-professora do PS, Palmira Maciel, que, pelo que afirmou, acredita em tudo o que lê, incluindo na existência do coelhinho da Páscoa e no Maia Simplex, e a da deputada do PCP, Paula Santos, que acha que a abelhinha distópica não é o problema principal das escolas, naquela lógica do… se te cortaram uma perna, não faz mal que te continuem a cortar dedos das mãos, orelhas e tudo o mais. Se o verdadeiro problema é a falta de democracia nas escolas, após 6 anos a geringonçar, o que fez o PCP de eficaz a esse respeito? Vamos lá ser sérios: o PCP está contra, porque a petição não foi organizada pelo camarada Mário, mas por gente que desalinha do cangote da ortodoxia sindical.

5ª Feira

Sei que estas decisões já estão tomadas e que são definidas mais por tácticas políticas do que por convicções ou poela justeza das causas, Mas, se há matéria que submerge o trabalho de muitos docentes é exactamente a da burocracia associada à neessidade demonstrar que se fez tudo para que o aluno se empenhasse no seu próprio sucesso. O “MAIA” não é caso único ou singular, muito menos é “inovador”. Apenas é massacrante e destituído de sentido para uma verdadeira melhoria das aprendizagens dos alunos. É uma teorização balofa, palavrosa, redundante, que se tem traduzido – cortesia de elites locais que engoliram umas formações e talvez até tenham lido um par de livros na última década – num delírio em tons de excel, mas também de outras ferramentas para registar toda a treta irrelevante ou para lá caminhando.

Não adianta virem dizer que a teoria era virtuosa e que os humanos é que a desgraçaram, como acontece quando se fala do modelo de gestão escolar ou da avaliação do desempenho. Ou de outras ideologias com passados tenebrosos. Para avaliar o nível de burocracia e desperdício, basta ver que só na equipa coordenadora há 15 elementos, fora as extensões locais. E tudo com o apoio empenhado do ME ao longo dos anos, a actual cobertura do seu criador, agora a presidir ao CNE e extensões de controle através das inspecções pedagógicas da IGEC. Não esquecendo a parte da formação contínua. Perante todo este aparato, percebe-se que, em muitas escolas, o pior das mentes formatadas e formatadoras vem logo ao de cima.

Que fosse uma metodologia, apresentada como uma entre outras, não me chocaria. Agora ser uma espécie de ideologia oficial do ME, para mais ao abrigo de algo que se afirma como “autonomia e flexibilidade” é ridículo.

Em tempos de necessidade de cativar/reter/atrair professores, seria importante que os partidos que regem a Educação desde quase o nascer dos tempos democráticos entendessem que nada disto beneficia os alunos, excepto na parte em que há muitos professores (não vale a pena negá-lo), que para evitarem chatices maiores, aderem de alma defunta a tudo isto e despejam sucesso sobre as pautas, para ficar bem nas estatísticas, nos relatórios de autoavaliação e na propaganda para consumo externo, a exibir em encontros com matizes quase evangélicos.

Estou a ser demasiado agreste e condescendente com gente que “só está a tentar fazer o seu melhor”? Acredito que sim, mas confesso que se isto é o vosso melhor… abstenham-se e façam apenas o vosso normal.

Até porque este que aqui escreve já esteve directa ou indirectamente ligado, por estes dias, a uma meia dúzia de “milagres”, sem necessidade de tanta conversa fiada. Sem necessidade de uma parafernália de grelhas.

Indo ao essencial: mais do que viabilizar “resoluções”, PS e PSD deveriam promover o regresso do “projecto MAIA” às proporções que deveria ter tido sempre. Se não o querem extinguir, suspendam-no, não o andem a enfiar pelas goelas abaixo das escolas, sob pena de não terem uma avaliação externa generosa. Avaliem a coisa, sem ser apenas com o testemunho dos seus proponentes e crentes. Se estão preocupados com a aprendizagem dos alunos, não classifiquem como “excelentes” lideranças que promovem activamente a ignorância arrogante e a desafeição ao Conhecimento. Que confundem tudo, maquilhando o vazio.

Querem ajudar as escolas, os alunos e os professores? Tenham a coragem de cortar com práticas de um passado mais ou menos recente, pleno de uma retórica de boas intenções que apenas nos faz regredir várias décadas, mais ou menos elogios da OCDE, só para que algumas pessoas sintam que o que aprenderam há meio século é que era.

O presente não deveria ser isto. O futuro não pode ser isto.

A Petição Pelo Fim Do Projecto MAIA Vai A Plenário E Há Quatro Resoluções A Pedir A Sua Suspensão

Eu sei o que valem as “resoluções” e conheço os jogos políticos parlamentares nestas matérias mas, pelo menos, a coisa vai a plenário e, mesmo que retorcidas e malabaristas, terão de existir posições sobre um dos maiores flagelos burocráticos – pretensamente de base “pedagógica” – que aligem o quotidiano escolar, sem qualquer ganho relevante para os alunos, que não seja responsabilizar quase só os docentes pelo seu (dos alunos) desempenho e (in)sucesso. Seria um excelente momento para o PSD fazer qualquer coisa e o Pedro Nuno e a Alexandra marcarem a diferença em relação aos que os precedeu.

Os maiores parabéns à Dália e ao João Aparício pela iniciativa. Não sei se poderei ir na delegação de peticionários, no dia 21, mas certamente que estarei por lá em espírito, se é que ainda o tenho 😉 , depois de tanto massacre.

Cumpre-me comunicar que foi deliberado agendar a apreciação da Petição n.º 143/XV/1ª – “Pela cessação do Projeto Maia” na Reunião Plenária do dia 21 de junho de 2024, a partir das 10 horas (link para as ordens de trabalho das reuniões plenárias – http://app.parlamento.pt/BI2/).

Caso pretenda seguir o debate presencialmente, nas galerias da Sala das Sessões, poderá ser constituída uma delegação, com um limite de dez peticionários, devendo ser tidos em conta os seguintes procedimentos:

  1. A composição da delegação deverá ser comunicada, com a brevidade possível, para o endereço de correio eletrónico da Divisão de Relações Públicas e Protocolo – DRPP.Correio@ar.parlamento.pt, com conhecimento para o endereço peticoes@ar.parlamento.pt;
  2. O acesso às galerias da Sala das Sessões processa -se pela Porta da Receção do Palácio de S. Bento (junto à entrada principal), à qual se devem dirigir, munidos de documento de identificação, no dia indicado com relativa antecedência e ao mesmo tempo, de forma a garantir o acompanhamento a essa delegação de um funcionário parlamentar designado para o efeito;
  3. É aconselhável não serem portadores de volumes ou objetos pessoais como sacos, mochilas e máquinas fotográficas;
  4. Durante as sessões as pessoas presentes nas galerias devem manter-se em silêncio, sem se manifestarem ou aplaudirem.

Informa-se que o debate pode ser seguido através do Canal Parlamento, disponível na TDT, nos canais por cabo, no sítio da internet da Assembleia da República (www.parlamento.pt), na área do Canal Parlamento ou no Facebook do Canal Parlamento.

Com os melhores cumprimentos,

Teresa Diogo

Técnico de Apoio Parlamentar Coordenador

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Direção de Apoio Parlamentar | Divisão de Apoio às Comissões

Palácio de S. Bento, Praça da Constituição de 1976 | 1249-068 Lisboa, Portugal

Tel.: +351 213 919 413

peticoes@ar.parlamento.pt

A Época Dos Santos Milagreiros – Retrato 3: Domínios, Subdomínios, Indicadores, Rubricas, Ponderações E Demais Aberrações – Parte 1

No texto anterior desta série tinha antecipado que o terceiro seria sobre “Os Coitadinhos” e ainda comecei a escrevê-lo no sábado, mas acabei por parar ainda numa fase inicial por duas razões: a primeira, porque poderia dar a entender, especialmente quando algumas mentalidades são curtas, que estaria a gozar com a fragilidade e vulneabilidade social e económica de muitos alunos, quando não é disse que se trata, mas sim do “coitadinhismo” como argumento para justificar a imposição do sucesso; a segunda, porque aquela forma de diálogo dos dois textos anteriores não me estava a sair com a devida fluidez, por manifesta carga de sarcasmo.

Por isso, deixando a marinar essa ideia, passei para outra que até me parece mais interessante por ter passado a dominar quase todo o aparato da avaliação dos alunos, numa paradoxal aliança entre uma alegada necessidade de avaliação integral e “holística” dos alunos e depois a desagregação dessa avaliação por uma imensidade de parcelas, numa disparatada deriva hiper-positivista.

Em texto de post é praticamente impossível, muito menos em forma de diálogo, dar ideia da complexa encenação em que se transformou a avaliação dos alunos do Ensino Básico, em especial se anexarmos à legislação em vigor sobre avaliação propriamente dita (nomeadamente o Decreto-Lei n.º 17/2016 de 4 de Abril e o revogado Despacho normativo n.º 1-f/2016 de 5 de Abril, que ainda está no site da DGE) a parafernália decorrente do PASEO, das “Aprendizagens essenciais” e do famigerado projecto MAIA, que se tornou uma espécie de vulgata oficiosa do costismo educacional.

O que levou ao aparecimento da Portaria n.º 223-A/2018, de 3 de Agosto.

Não é que antes já não existisse a imposição explícita da obrigação dos docentes não reterem os alunos, em especial nos anos não terminais de ciclo, mas com o cruzamento de todos estes normativos, documentos e remomendações, o ónus da prova do insucesso passou por completo (não adiante escrever “quase”) para os docentes, dando-se como adquirido não apenas o “direito” ao sucesso dos alunos como o dever dos docentes justificarem que qualquer falha ou classificação menos favorável não foi de sua única responsabilidade.

Para isso foi criado um emaranhado burocrático brutal que alguns dizem não ser culpa do legislador ou da tutela e dos seus prolongamentos administrativo centrais e locais, mas dos professores que criaram os “instrumentos” e “ferramentas” concretas em cada escola, pois, de acordo com o n.º 1 do artigo 7.º do despacho normativo n.º 1-F/2016 é “o conselho pedagógico da escola,enquanto órgão regulador do processo de avaliação das aprendizagens, [que] define, sob proposta dos departamentos curriculares, os critérios de avaliação, de acordo com as orientações constantes dos documentos curriculares e outras orientações gerais do Ministério da Educação”. Sendo o Conselho Pedagógico (CP) constituído por professores, há quem considere que é deles a culpa pelos disparates cometidos. O problema é que na sua constituição, o CP tem menos elementos resultantes de uma escolha limitada feita pelos pares (6 em 17 elementos, no máximo) do que os que resultam de escolhas ou nomeações por parte d@ director@, que preside ao órgão (e avalia os tais 6 elementos, enquanto coordenadores de departamento). Pelo que muitos delírios que por aí andam são obra de um conjunto restrito de pessoas que, no fundo, dependem todas de apenas uma. O resto… é treta.

Mas vamos lá ao concreto.

No despacho normativo n.º 1-F/2016 regressava-se à matéria dada nos anos 90 do século XX, com a definição do que é avaliação diagnóstica, formativa e sumativa.

No artigo 11.º, relativo à avaliação formativa, determinava-se que:

2 — Os procedimentos a adotar no âmbito desta modalidade de avaliação devem privilegiar:
a) A regulação do ensino e das aprendizagens, através da recolha de informação que permita conhecer a forma como se ensina e como se aprende, fundamentando a adoção e o ajustamento de medidas e estratégias pedagógicas;
b) O caráter contínuo e sistemático dos processos avaliativos e a sua adaptação aos contextos em que ocorrem;
c) A diversidade das formas de recolha de informação, através da utilização de diferentes técnicas e instrumentos de avaliação, adequando-os às finalidades que lhes presidem.

No artigo 12.º sobre a avaliação sumativa, que:

1 — A avaliação sumativa consubstancia um juízo global sobre as aprendizagens desenvolvidas pelos alunos.
2 — A avaliação sumativa traduz a necessidade de, no final de cada período escolar, informar alunos e encarregados de educação sobre o estado de desenvolvimento das aprendizagens.

O que estava em causa era, depois, como é que se processava a recolha da informação e a sua diversidade e como isso é depois usado, nomeadamente para justificar o tal “juízo global sobre as aprendizagens desenvolvidas pelos alunos”.

Entretanto, de acordo com a Portaria 223-A/2018, artigo 18.º, que manteve o que ficou acima transcrito, acrescentaram-se como critérios de avaliação:

a) O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória;

b) As Aprendizagens Essenciais;

c) Os demais documentos curriculares, de acordo com as opções tomadas ao nível da consolidação, aprofundamento e enriquecimento das Aprendizagens Essenciais.

É a partir daqui que a confusão se estabelece, em especial quando se pretende ter em conta tudo e mais alguma coisa, como se definem indicadores, parâmetros, ponderações para toda e qualquer actividade desenvolvida em sala de aula ou fora dela por todos os alunos.

O PASEO (Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória), homologado pelo Despacho n.º 6478/2017, baseia-se em 8 (oito) princípios e 5 (cinco) valores, traduzindo-se em 10 (dez) áreas de competências. Embora nenhuma delas corresponda a uma determinada área disciplinar “em cada área curricular estão necessariamente envolvidas múltiplas competências, teóricas e prática”. O que passou a significar que os docentes devem identificar, em cada material que produzem para a avaliação (diagnóstica, formativa ou sumativa), quais dessas competências estão envolvidas e em que escala. Em termos práticos torna-se necessário “adequar a globalidade da ação educativa às finalidades do perfil de competências dos alunos”.

Tudo isto permite produzir uns gráficos muito giros, tipo fluxogramas, que simplificam tudo. Ou não. Porque isto da avaliação não é para brincar.

A tradução prática, ao nível da disciplina de Português do 5.º ano de escolaridade é um documento como o que apresento em seguida, que nem sequer é dos mais complicados, colhido no sítio de um qualquer agrupamento do país, pois não e isso que interessa.

Claro que tudo isto necessita de ter em conta e cruzar-se com as Aprendizagens Essenciais que, no caso do Português do 5º ano, tem 5 (cinco) domínios a considerar

E não nos esqueçamos nunca das rubricas a usar para a classificação que, de acordo com o projecto MAIA, se devem basear numa diversidade de processos e instrumentos de recolha da informação para posterior avaliação dos alunos e fornecimento do valoroso feedback de elevada qualidade.

E como é que conseguimos registar isto tudo? Calma que para além dos especialistas locais, que produzem folhas de excel que parecem verdadeiras capelas sistinas, tamanho o detalhe e o requente, há quem já tenha desenvolvido software altamentte especializado, como o que apresento em seguida em versão demo,com a devida autoria.

Já se perdeu no meio disto tudo? Precisa de um tutorial? Sem problema…


CONTINUA… (acho que na parte 2 me vou divertir com a concretização das ponderações nesta bela confusão)

Abriu Oficialmente A Época Dos Santos Milgreiros

Vulgo… época de avaliações de final de ano. Aquelas em que da pedra se faz pão, do deserto mais inóspito brota água fresquinha, do vazio aparece matéria cintilante e, em resumo, de vários meses de displicência, razoável irresponsabilidade e, para encurtar, evidente gozo, nasce um sucesso educativo sem igual, a merecer estudo internacional congratulatório e muitas palmadinhas nas próprias costas dos Santos Maiores deste Arraial.

Haverá sempre que me acuse de rigorismo anacrónico, de tentação docimológica, de falta de sensibilidade e tudo o mais, quiçá mesmo de caricaturar uma realidade, quando lhe retiro os traços mais a grosso. Haverá mesmo alguém, a começar por mim, a apontar que há pecados que identifico mas que também cometi e cometerei, sendo outras vezes cúmplice por quase omissão. Mas não consigo resistir a escrever, mais uma vez, sobre o modo como tant@s e tant@s professor@s se revelam taumaturgos e transformam a chaga em pele sedosa.

Há toda uma tipologia, desde os sonsos-mirins (aqueles a quem o costismo embalou como cântico celestial) aos proto-ditadores (a quem o rodriguismo “empoderou” e o costismo deu lugar fixo nas cliques dos poderes locais), passando por imensas variantes, sendo inútil o esforço por ser exaustivo, a menos que se aqueira arriscar exaustão forte.

Mas podem sempre retratar-se alguns comportamentos, que há quem ache que são argumentos, naquela perseguição do “sucesso” a qualquer custo, considerando-se que o insucesso é sempre culpa de quem o não garante a quem tem esse direito inscrito na pedra desde os 11 Mandamentos e em papel impresso desde a primeira Bíblia do Gutenberg, as 96 teses do Lutero e a Declaração dos Direitos do Petiz e do Cidadão.

Vejam lá se reconhecem.

Fala de DT (ou de alguém no CT que desempenha esta função de tipo passivo-agressivo):

‘O Manelinho tem sete níveis inferiores a três… isto não pode ser, @s colegas tinham de utilizar todas as ferramentas e intrumentos ao vosso dispôr no 54 para que o aluno conseguisse as desenvolver as suas aprendizagens’

‘Mas utilizámos!’

‘A sério? Universais, selectivas e adicionais?’

‘Sim.’

‘E vice-versa?’

”E vice-versa!’

‘E registaram tudo nas grelhas de observação, monitorização e avaliação, formativa, sumativa ou outra?’

‘Sim, registámos!’

‘E adaptaram os vossos instrumentos de avaliação, formativos, sumativos ou outros?’

‘Adaptámos!’

‘E diferenciaram a avaliação, desdobrando por domínios, ponderando as diversas rubricas?’

‘Diferenciámos, desdobrámos e ponderámos!’

‘Mas fizeram tudo isso, atendendo ao PASEO, numa perspectiva holística, aplicando uma visão humanística e inclusiva?’

‘Sim, claro… como nos mandaram, atendemos, perspectivámos, aplicámos e incluímos!’

‘Tiveram em conta que morreu um periquito de estimação ao vizinho da frente do Manelinho, quando ele tinha três anos e ele nunca mais conseguiu encarar a vida da mesma forma?’

Mas o que é que isso tem a ver, desculpe, colega… tivemos duplamente em conta!’

‘Têm a certeza… porque me parece que se fizeram tudo isso, seria impossível o Manelinho estar em risco de chumbar, chumbar, não, caraças, ficar retido…’vai de retro, que até me custa dizer isto…

‘Mas é que o Manelinho não veio quase a aula nenhuma e quando veio, fartou-se de gozar com os colegas e com a maioria d@s professor@s, nem se sentava no lugar e ficava sempre agarrado ao telemóvel a fazer apostas, com o registo do irmão que já tem 20 anos.’

‘Se não veio às aulas é porque não o souberam motivar e seduzir… a culpa não pode ser dele. Tentaram flipar a sala, digo, inverter a sala de aula?’

‘Ahhhh… ele invertia sempre as aulas … ficava do lado de fora ou saía pouco depois de entrar…’

‘É porque os colegas não a inverteram o suficiente, está visto… ou passam tudo a nível três ou isto vai a Pedagógico e temos de reunir outra vez… é isso que querem?’

‘Se tiver de ser…’

‘Ia-me esquecendo… e que turmas e horário querem ter para o ano?’

‘Passa já tudo a três e não se fala mais nisso, que o Manelinho, visto da janela até parecia bom moço e cheio de “potencial” e pronto a ajudar os colegas com aqueles calorosos empurrões para atravessarem o pátio e tudo… pensando bem, deveríamos incluí-lo no Quadro de Mérito, se isso não fosse uma prática selectiva e discriminatória.’

Winsor McCay, Little Nemo in Slumberland

Próximo retrato: O RECURSO!!!