Tempo Velho, Cristãos Novos

Eu tinha de aproveitar a expressão usada por um colega numa conversa de há dias. Estava com alguma dificuldade até ver por aí gente a engolir uns gráficos com os salários brutos dos professores e a lamentar-se porque aos 40 anos não ganham o que ganham colegas com 60 anos e mais duas décadas de carreira. E, revelando que a add não é um monstro imposto apenas de fora, já leio quem saiba que é melhor do que outros, mas ganhe menos, provavelmente não conhecendo como eram essas pessoas com a sua idade.

Por isso, estes tempos aparecem-me como velhos, tresandam a coisas de há 15 anos ou mais, quando a estratégia começou por ser o fomento da oposição entre “novos” e “velhos”, acusando estes de privilégios e, ao que parece, de nunca terem sido novos e também terem sido contratados, sem sequer direito a subsídio de desemprego, quando não eram colocados. E os dias também eram contados ao segundo. Que o digam os pouco mais de 200 das minhas primeiras quatro temporadas de substituição de colegas grávidas ou, num caso, já com depressão. E leio gente, com falinhas mansas, ligadas à situação anterior, a incentivar essas atitudes, sem grande vergonha na cara, pois têm idade para saber como tudo foi.

E temos, pois, os cristão-novos, chegados bastante tarde a qualquer contestação, a lamentar-se quando são os que menos ficam a perder com este acordo, porque têm tempo para recuperar o que lhes foi congelado e nem entraram com uma carreira e vão sair com outra. Para quem desconhece, porque não sabe e nem gosta de aprender, quem agora está no 7º escalão (índice 272) ou acima teve de passar por dois com quotas e levou com mais 6 anos de carreira do que previsto inicialmente. Se isto a certas mentalidades surgem como “privilégios” ou algo parecido, realmente fica explicado porque sempre me pareceu que há quem faça vigílias só para se ver nas redes sociais e vai a manifestações porque fica bem no “currículo” de pseudo-lutador@. Porque a coerência é relativa e a solidariedade é retórica. Para não falar na memória selectiva e na incapacidade de aprendizagem, ou melhor, no desinteresse por saber mais do que o que lhes aparece mastigado em forma de gráfico oportunista.

Realmente, por vezes mais vale ficar em casa.

9 opiniões sobre “Tempo Velho, Cristãos Novos

  1. “mais vale ficar em casa”

    Com 65 anos e depois de três anos nas listas encontro-me, desde janeiro de 2023, no 7º escalão. Faltam-me apenas cinco meses para a reforma. Canalizei para o 6º escalão todo o tempo a recuperar na altura e uma bonificação do 5º (quase 3 anos e 4 meses). Agora irei recuperar 599 dias e mais nada, parece-me, ou seja, reformar-me-ei no fim do 7º escalão , o mesmo onde me encontrava em 2004, há vinte anos atrás, tendo descido, em 2008, para o 4ºescalão.

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    1. Mas há quem ache que o 7º (ou o 8º. no meu caso, que também fui de volta para o 4º) é uma espécie de Eldorado e ande pelos grupos de professores a escrever barbaridades que só lidas. O pior mesmo são os que o fazem com ar de grande seriedade analítica.

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  2. Compreendo e sou totalmente solidário com as pessoas nestas situações (onde, de alguma forma, me incluo).
    Também relembro o seguinte (sem qualquer caráter provocatório): desde 28-10-1995, faz para o ano que vem 30 anos, a direita esteve no poder, antes do presente governo, sete anos e quatro meses, sendo três/quatro desses anos em regime Troika.

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  3. Ao sexto chegarás e dele não passarás.

    A vaidade e a mania da imprescindibilidade caracterizam muito boa gente. Ainda não perceberam que, quando saírem, serão rapidamente esquecidos.

    E isto vindo de gente que considera que a modernice do uso das plataformas da Leya ou da Porto Editora vai apagar os seus “tu vistes” e “fizestesi-o”. A ignorância cada vez relincha mais.

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