Duas Ou Três Notas Sobre A Aparição De Passos Coelho Na Campanha Da AD

Não tenho lido grande coisa – muito menos com jeito – sobre a aparição de Passos Coelho na campanha da AD a manifestar apoio a Montenegro. O que mais leio oscila entre um certo histrionismo do tipo “ai que a troika vem aí outra vez e vão-nos cortar tudo” e o “com o Cavaco e o Passos a apoiar isto esta no papo”.

(encontrei agora este artigo de Ana Sá Lopes com o qual concordo em boa parte, como se lerá)

Dando uma de Pacheco Pereira… parece-me que “a questão essencial não é essa e eu já explico”.

Comecemos pelo mais óbvio: Montenegro tinha de se “limpar” daquela espécie de comparação com Sócrates no debate com Pedro Nuno Santos e isto serviu como uma espécie de desagravo público e manifestação de afecto mútuo, mais ou menos encenado.

Mas há outras partes da coisa que parecem escapar a quem muito ergue fantasmas e exercita hermenêuticas sobre o que Passos disse ou não disse, sem perceber que ele apenas fez o que convém neste momento ao PSD (e à AD), em dois tabuleiros:

Em relação à “Esquerda” estimulou a polarização e dramatização da campanha, de certa forma obrigando a reacções em modo automático e previsível, servindo para, como contraponto, mobilizar o eleitorado da “Direita”, dita tradicional e que lhe deu duas vitóriasem 2011 e 2015, o que nem sempre é devidamente recordado. Porque a vitória de 2015, depois dos anos de chumbo da troika, não era muito previsível e demonstra que não estaria tão mal visto por muita gente como algumas mentes iluminadas gostaria,. Infelizmente? Sim, infelizmente, porque o Passos Coelho de outros tempo, desapareceu por completo há mais de uma dúzia de anos, como se agora apenas tivéssemos acesso ao invólucro físico (ou nem isso).

Em relação à “Nova Direita”, Passos surgiu a tentar recuperar parte do eleitorado que saiu do PSD por o sentir demasiado “centrista” e desorientado, em especial durante os anos de Rui Rio, algo que Montenegro ainda não conseguiu apagar, mesmo com as evidentes cedências nas listas de candidatos a gente que não passa de cobradores de fraque de favores, como se pode facilmente “observar” em figuras como o ex-assessor parlamentar do CDS e relações públicas do Observador para cativar articulistas em águas mais afastadas do esperado, na área da Educação. O que significa que Passos surgiu, não tanto para dar o sinal de abertura ao Chega, mas para esvaziar parte das causas de Ventura, tentando que voltem ao eleitorado do PSD/AD, quem dele se afastou nos últimos anos. Porque uma coisa é ter uma eventual relação de grandeza de 30-35% para 8-10%, outra da 25-30% para 15-18%. Ou mesmo pior.

Passos falou para “dentro”, para consolidar eleitorado, não para conquistar votos onde sabe que o PSD/AD não os conseguirá alcançar. O mítico “centro”, que ficou algo órfão, não se assustou com nada do que ele disse, porque o centro quer sossego e previsibilidade, assustando-se com empolgações. Portanto, a entrada passista na campanha, mais do que agitar fantasmas do passado, procurou agir sobre o presente, de forma a fazer o pessoal da Esquerda mais pavloviana hiper-valorizar a sua presença, ao mesmo tempo que tentou reduzir o espaço de manobra do Chega.

O que cumpriu. No meu escasso entendimento, nestes casos, o melhor que se pode fazer é demonstrar indiferença, desvalorizando a presença, como se fosse uma relíquia do passado, fora do seu tempo (até podiam usar as palavras do próprio), não um actor relevante no momento presente, sublinhando que recorrer a Cavaco e Passos é sinal de fraqueza e não de força de Montenegro. Deveria ter sido essa a resposta à esquerda. Dar demasiada importância à aparição é um erro táctico. À direita, Ventura sabe que Passos lhe pode roubar parte importante do crescimento que espera ter.. ele bem pode dizer que Passos foi dar uma lição a Montenegro… só que essa lição pode custar muitos votos ao Chega e isso não é necessariamente um mal. E Ventura tem consciência de que eventuais novas aparições de Passos, em especial se falar de causas próximas das do Chega, lhe podem levar milhares de votos. Os que a Iniciativa Liberal, por exemplo, já devolveu no seu processo de autofagia.

O Desacelerador

Muita conversa fiada foi feita desde o anúncio em Maio e a publicação do diploma em Agosto, mas em matéria de efeitos práticos, parece que só uns truques na secretaria e uns mails para o pessoal do 10º escalão, de que não se percebe o sentido.

Entretanto, eis que me chega este relato da forma como tudo está a ser feito para enganar os parolos, incluino os que andam a dizer que “antes estes do que coisa pior”. Mas sobre esta última parte, também hei-de escrever em breve.

Ontem em conversa com o meu diretor fiquei a saber que na plataforma para o acelerador da carreira a Dgeste colocou lá algo que só permite colocar anos completos de espera.

O meu caso é o seguinte: após descongelamento de 2018, mudei para o 4 esc. em 28/06/2018. Neste 4 esc. tive 183 dias de bonificação do esc. anterior, 342 + 339 dias de dois faseamentos e os anos 2019 e 2020. Não obtive quota para o 5 escalão e entrei nas listas de 2021. Obtive vaga e mudei para o 5 escalão, retroativamente, a 01/01/2021. Pelas minhas contas estive mais 323 dias no 4 esc. para além dos quatro anos.

Pelo Dec lei do “acelerador” percebi que todo o tempo passado a mais neste 4 escalão eu recuperaria.

O meu diretor diz que a interpretação da DGESTE é outra. Assim parece que vou perder. Ele ainda não colocou os meus dados na plataforma.

E quem obteve sempre vagas e por exemplo está no 7 ou 8 escalão vai ganhar 365 dias.

Será isto possível? Enviei esta situação para um sindicato para pedir uma opinião, mas queria também dar a conhecer ao Paulo (…) Será que isto vai ser mesmo possível? Vou também perder mais estes 323 dias?

Sobre as “interpretações” da DGAE e DGEstE sobre matérias que não parecem levantar dúvidas na letra de várias leis, já estou suficientemente escaldado. O que temos agora é, em muitas situações, uma falta imensa de decoro na distorção da legislação, em defesa dos poderes instituídos, desde as ilegalidades locais aos abusos centrais. Não me admira absolutamente nada que o sonso bestial tenha mandado reduzir ao mínimo imaginável qualquer potencial pseudo-aceleração. Porque há gente mesmo muito pouco honesta.

Pelo Menos, Não Foi No Isczé Da “Reitora”

António Costa está a tirar uma pós-graduação na Universidade Católica

(…) António Costa voltou à faculdade e as aulas, sabe a SIC, começaram na semana passada, dia 20 de fevereiro e terminam a 20 de julho deste ano.

O primeiro-ministro em gestão está inscrito na pós-graduação Contencioso Contratual, Mediação e Arbitragem, na Faculdade de Direito da Universidade Católica, em Lisboa.

A aula inaugural, em regime pós-laboral, aconteceu na última terça-feira.

O curso tem um total de 82 horas e é destinado a juristas – advogados, magistrados e consultores jurídicos -, e não juristas – profissionais que atuem em áreas transacionais e de gestão de empresa.

Pelo DOC SIPE

A primeira muralha contra a barbárie e o fanatismo

Não é por acaso que a etimologia grega da palavra “escola” (“scholé” ou σχολή, que nos chegou através do latim “schola”) a associa a um lugar ou tempo de lazer e recreio, pois o estudo, a reflexão, o convívio no sentido da transmissão ou troca de conhecimentos e ideias, estavam associados a pessoas de um estatuto social e económico privilegiado. A par disso, os gregos do período clássico não se preocupavam especialmente no ensino da sua cultura aos povos exteriores à Hélade, mesmo que sob o seu domínio, ao contrário dos romanos que faziam tudo por espalhar a sua, com destaque para a língua, que faziam ensinar a todos os habitantes dos territórios conquistados pelas legiões romanas.

(continua…)

Lamento se a minha visão da Educação continua a não se conformar com a mediocridade como critério suficiente para o “sucesso” de uma escola que se diz “inclusiva” e democrática, mas apenas o enuncia. Aliás, basta ver a prática de certos “democratas”, muito defensores da Escola Pública na teoria,mas muito pouco praticantes com a própria descendência. Com este ou aquele pretexto.

As minhas filhas fizeram o jardim-de-infância e a primária numa escola pública. E agora estão na Escola Alemã. E faço questão de explicar porquê. A opção pela Escola Alemã tem a ver com a opção por um currículo internacional. Para mim era importante que elas tivessem uma educação com duas línguas que funcionem quase como maternas, digamos assim. Se assim não fosse, andariam obviamente numa escola pública.

3ª Feira

É dia de divulgação do volume do Estado da Educação 2022 que, desta vez, surge num tom especialmente auto-justificativo e auto-elogioso. Comparando com as versões de anos anteriores, percebe-se que a análise ainda existe, mas muito se assemelha mais a uma espécie de propaganda em causa própria do presidente do dito Conselho, que não hesita num inusitado discurso na primeira pessoa

Do índice desapareceram aqueles capítulos sobre temas específicos, entregues a especialistas e investigadores nas matérias (concordássemos ou não com el@s), que abriam perspectivas de análise crítica. Agora, sobra a prosa a roçar a propaganda das opções políticas em decurso, que se percebe inspirada em alguém que governou há 25 anos e sente que o seu “peso” se fez sentir bastante nos últimos oito anos.

O título da introdução faz-nos sorrir, se tivermos em conta que os indicadores do sistema de ensino têm vindo a piorar, no que ao desempenho dos alunos diz respeito, sendo para esquecer a forma como os recursos humanos têm sido geridos. Quanto à parte do “democrático”, consideremos que é uma expressão que está ali como uma espécie de tique, de maquilhagem, porque nem a mais desenfreada propaganda da “inclusão” pode ocultar que as coisas não têm melhorado a não ser na cenografianestatística e quando ao funcionamento do “sistema de ensino”, a democracia esvaiu-se.

Seja como for, fica aqui a coisa em si, porque terá a sua utilidade, apesar de tudo, pois contém muitos números arrumados. Este tipo de publicação deveria ser algo que começa a não ser, pois tem partes que se assemelham mais àqueles digests que uma pretérita ministra fazia sair com o resumo da “obra feita”.