Cristãos-Novos No Natal

Eu sei que o texto não é exactamente de agora. Com jeitinho, se fosse, até já seria capaz de criticar a municipalização.

O modelo de direção e gestão das escolas e dos agrupamentos. Sabendo a importância das lideranças na construção de comunidades educativas e sabendo a grande diversidade de contextos políticos, territoriais e sociais não faz mais sentido manter o modelo único de governação das escolas e agrupamentos. Acabar, pois, com o modelo único de governação, admitindo a pluralidade segundo uma matriz genérica comum, reconfigurar os conselhos gerais em função do território e garantir a presença e a intervenção do estado em casos de deslegitimação democrática.

Domingo

O Natal é – dizem-me – um tempo de boa vontade e gratidão, durante o qual devemos agradecer aos que nos ajudaram e fizeram felizes ao longo do ano e há mesmo quem ache que o devemos fazer em relação a quem nos tratou menos bem, à semelhança da história de dar a outra face, o que sempre me fez confusão, mas é sabido que sou uma alma perdida para o paraíso dos bem aventurados e demais criaturas de boa vontade.

Adiante.

Nos últimos dias tivemos alguns exemplos de (in)gratidão, mais ou menos (in)esperados.

De um lado, tivemos a imensa ingratidão de organizações devotamente situacionistas nestes anos de costismo, como a confap, a andaep e o cnapef, a contestar a lei da autodeterminação de género nas escolas (os beatos da aeep já seria mais de esperar),. Repare-se que não estou a tomar partido na questão, que eu detesto dar opiniões sobre coisas que se passam nas escolas, nomeadamente as que podem conduzir a complicações inesperadas e imprevistas para as pessoas sofisticadas que tomam decisões em gabinetes bem climatizados e decorados, mas apenas a referir que magoaram os sentimentos do bestial ministro que veio a público afirmar que os direitos humanos estão em causa e que aquelas organizações que tanto lhe deram apoio, desta vez se deixaram enganar por “mentiras”, o que é realmente notável quando se refere a organizações com cuja ajuda ele tanto contou ao longo destes anos, desde logo neste último período de greves e serviços mínimos ilegais, pedidos pela confap e assegurados por muita gente da andaep. Só faltou dizer que “pais”, “directores” e demais ingratos se deixaram enganar por mensagens de whatsapp. Ainda não saiu por completo de cena e já está a ser amargurado pela ingratidão desta gente que tanto lhe deve(u).

Por uma vez, a minha solidariedade para com quem já percebeu que se é bestial até deixar de se ser (secretário, ministro, sonso).

Por outro lado, demonstrando que do lado das direitas há maior respeito pela quadra natalícia, tivemos o lançar para a comunicacação social de nomes de potenciais candidatos “independentes” da 52ª versão da AD, revelando como os lugares de deputados podem servir para demonstrar a gratidão pelos serviços prestados. Refiro-me, muito em especial, a Alexandre Homem Cristo que tem como ocupação ser “grande especialista em Educação” (quem sou eu para negar Marques Mendes essa sumidade em tudologia, marcelo minor na falta do original, que tanta coisa foi dizendo sobre Educação, boa parte dela bebida nas “especialidades” do agora elogiado), só faltando acrescentar que, desde que o conheço e já lá vai mais de uma dúzia de anos, tende a ser especialista em fórmulas abandonadas nos países de origem, como aquela devoção que em tempos teve pelo modelo sueco de descentralização que os próprios estavam a reverter, enquanto ele por cá lhes tecia loas. E o que dizer da sua defesa intransigente da “liberdade de escolha”, que em muitos países tem estado associada a resultados cada vez piores dos PISA?

Andava eu a pensar que no Natal poderíamos ter a prenda dos principais partidos nos darem uma ideia das suas equipas para as várias pastas governativas e eis que o PSD e o CDS nos atiram com o homem (Cristo) à parede, aquele que é dos mais ferozes críticos da Escola Pública e dos seus professores (acreditem que ele tem uma desafeição muito especial por aqueles que não se deixam domesticar) e que é apenas uma espécie de operacional de serviço do ensino privado no debate sobre a Educação, desde os tempos em que foi assessor parlamentar do deputado Seufert?

Eu sei que apontar um “independente” para potencial deputado está longe de querer dizer que o homem (mesmo Cristo) vai parar à pasta da Educação, mas não deixa de ser um sinal muito claro de quem fica mais próximo de ter um papel relevante na matéria. Até porque o homem (Cristo), qual João Costa, há anos que procura tecer uma rede de contactos e “amizades”, desde os tempos em que conseguia fazer “estudos” para uma dada Fundação que passavam à margem do órgão que tinha a missão de analisar tais propostas até aos anos mais recentes, em que no Observador andou a distribuir convites para a publicação de textos de uma forma que os distraídos poderão considerar “plural”, mas que mais não foi do que colocar umas flores silvestres num jardim muito aparadinho.

Por isso, não se espantem se a minha confiança nas promessas feitas pelo PSD aos professores seja muito baixa, mesmo se está impressa nuns folhetos, porque desculpas há sempre muitas para não as cumprir, desde logo a necessidade de “compromissos” com os “parceiros”. E neste caso, percebe-se muito claramente que os parceiros são os interesses económicos dos privados na Educação, que são os que garantem a algumas figuras a profissão de “especialista em Educação”, figuras que agora até podem estar na linha para ser deputado da Nação, quais novos Mithás ou mesmo Porfírios de sinal contrário.

(desculpem lá a imagem neste dia, mas eu depois compenso com uma musiquinha fofa mais logo… ou não)