Aviso À Navegação “Spinada”

Isto não é o relatório relativo às provas de aferição. Foi um estudo feito por amostragem relacionado com o plano da recuperação das aprendizagens. E mesmo assim apresenta resultados muito pouco favoráveis, apesar de não serem tão maus quanto os das provas de aferição. É algo que se conhece há mais de dois meses, mas andam por aí a usá-lo como se fosse o que não é, tamanho o desespero que anda nos quartéis do costismo educacional. Bastaria lerem o relatório para perceberem que estes foram os resultados de uma amostra e não de provas “nacionais”. E nem sequer correspondem aos anos das provas, nem nada

Phosga-se!

E ainda me apareceu por aí uma alminha a mandar-me “estudar”…

Provas De Aferição (2017-2023) – H.G.P., 5º Ano

A disciplina que lecciono preferencialmente. Por isso, mais me interessa ver a “involução”. Porque o descalabro é enorme.

No domínio “A Península Ibérica; localização e quadro natural”, os alunos que “Conseguiram” ou “Conseguiram, mas”, desde de 54,4 para 5,7% (-48,7 pontos) entre 2017 e 2023; no domínio “dos primeiros povos à formação de Portugal” desceram de 48,6% para 13,7% (-34,); no domínio “Portugal do século XIII ao século XVII” desceram de 20,7% para 7,4% (-13,3).

Tudo isto é muito mau e reflecte a menorização da disciplina no currículo, assim como da História em todo o Ensino Básico (no 3º ciclo, a Geografia perdeu menos, apesar de tudo). O que foi feito de forma voluntária e para satisfazer a “agenda cívica” do bestial ministro e respectiva “corte inclusiva”. A quem horroriza a Memória, em especial a que não podem manipular a gosto. Nada como apagar o passado para que os medíocres de hoje pareçam menos medíocres, por falta de termos de comparação. E também torna mais fácil a instrumentalização de conceitos no discurso público, usando-os fora de contexto e sem qualquer perspectiva histórica que os permita enquadrar da forma devida.

O fascínio parolo pelas STEM, de um lado, e pelas pseudo-sofisticações curriculares, de outro, só poderia dar nisto: a formação de jovens para quem a História (e a Geografia) são disciplinas secundárias, nas quais cada vez o investimento é menor, até porque os seus programas, alegadamente muito “extensos”, foram escortanhados por “especialistas” com a colaboração pipilante de gente que é capaz de assinar tudo de cruz, desde que lhes deem uma mobilidade estatutária para ficarem longe das salas de aula. Até podem depois fazer umas “cartas” ou “manifestos” a denunciar isto ou aquilo, mas eu bem me lembro da atitude de omissão que preferiram ter, quando alguma resistência ainda era possivel.

Provas De Aferição (2018-2023) – Português, 5º Ano

Aqui a comparação ainda é mais directa: na Oralidade, entre o “Conseguiu” e o “Conseguiu, mas”, os resultados desceram entre 2018 e 2023, de 52,6% para 43,6% na Oralidade (- 9 pontos); de 32,4% para 24,9% na Leitura e Educação Literária (- 7,5); de 38% para 26,5% na Gramática (- 11,5) e de 67,4% para 56,8% (- 10,6).

Já sei… a culpa foi da pandemia.

Provas De Aferição (2018-2023) – Matemática, 8º Ano

Como me cheira a relativizações, podemos começar por comparar o que é comparável em matéria de resultados nas provas de aferição. Comecemos pela Matemática e pelos resultados de 2018 e os de 2023.

Nos quatro domínios comparáveis, os resultados dos alunos que “conseguiram” ou “conseguiram, mas” foram em 2018 de 24,7%, (Números e Operações) 22,4%, (Geometria e Medida) 28,7% (Álgebra) e 17,3% (Org. Tratamento Dados). Em 2023 os resultados foram, respectivamente de 24,2% (- 0,5 pontos), 9,5% (-12,9), 23,9% (-4,8) e 20,3% (+2,7).

É fazer as contas, por muito simplista que seja a apresentação das coisas.

Concursos Abertos Ainda Em Dezembro?

Para poderem dizer que abriram os 63 qzp ainda em 2023, mesmo se a coisa só fará efeito prático em Setembro de 2024?

E os “populistas” são os outros?

Aviso n.º 25237/2023

Concurso de educadores de infância e de professores dos ensinos básico e secundário, nos termos previstos nos n.os 9 e 10 do artigo 54.º do Decreto -Lei n.º 32 -A/2023, de 8 de maio

5ª Feira

Os testemunhos incluídos nas peças de hoje do Público são bem ilustrativos do estado de espírito nas escolas, mesmo se são escasso os contributos de quem passa os dias na sala de aula. Sim, estamos tristes e desmotivados e os alunos percebem. Da lista de qualidades que agora alguns pedem a um@ futur@ ministr@, para além do mais, concordo que deve deve existir o tal “peso político” e o interesse em “resolver os problemas da escola pública, em detrimento de estatuto político e de voos futuros”, pelo que a integridade pessoal é mesmo muito importante. Por “integridade” entenda-se – pelo menos, para mim – algo mais vasto do que saber se a pessoa é corrupta ou não, se andou a roubar chocolates no supermercado ou se andou a saltar a cerca nesta ou naquela direcção, mas sim se é uma pessoa que não diz uma coisa, pensa outra e ainda faz aqueloutra que lhe é mais conveniente para manter o lugar. Como algumas das figuras que agora já dizem o que levaram anos a calar ou a encobrir. Gente que poderia ter tido a coragem na hora certa e não apenas quando a figura que os tutelava parece estar de partida, acompanhando as cegonhas no seu regresso. Gente que foi cúmplice por omissão ou atenciosa reclamação.

Nuno Crato foi uma desilusão por ter feito algo muito diferente do que disse anos a fio que deveria ser feito, por muito que agora ande a tentar emendar a palavra. Tiago e João Costa não foram desilusões, pelo menos para mim, porque deles nada esperei por razões diferentes. No caso do primeiro por nada perceber do assunto, no caso do segundo, porque se percebia à légua que a sua agenda era muito diferente da que a Educação Pública necessita para não desaguar no descalabro presente. E falo em descalabro para os alunos. Não pode ser um Costa de Direita (e que os há, há), nem um Pedro Nuno da Educação, porque não se aguenta mais malabarismo e habilidezas.

Agora, uma espécie de esclarecimento acerca da linha vermelha, que não vem do imediato, relativa ao tempo de serviço a recuperar, que alguns parecem não compreender verdadeiramente, porque andaram por outras paragens, não experimentaram na pele o mandato da “reitora” e a sucessão de desgovernanças em matéria de recursos humanos na Educação nos útimos vinte anos. Esse é um ponto de honra, uma ferida sempre aberta no corpo de quem trabalhou esses anos, fez os seus descontos, teve os cortes que os outros tiveram (por muito que o repita aquele imbecil que recebe mais do que qualquer professor cada vez que “gromita” uma crónica a destilar ódio para o espesso semanário) e se vê sempre deixado maltratado, com sucessivas falsidades, algumas delas a partir da própria “classe” (que alguns gostam de evocar como se tivessem o cérebro paralisado em 1975 ou em algo que leram na juventude, não conseguindo desencalhar daí), como se estivesse a pedir “privilégios” (em tempos, li um economista que julgava sério a acusar os professores de quererem “retroactivos”, como se fosse um qualquer moitadedeus).

Infelizmente, qualquer eventual recuperação já não vai alcançar muitos milhares dos que passaram por isso. A carreira de muit@s docentes está polvilhada de acidentes, iniquidades, ultrapassagens, reposicionamentos mais ou menos esquisitos, pelo que já é impossível repor alguma “justiça” entre os que estão e os que saíram. O sistema muitas vezes acusado de “centralizado” e “rígido” que coloca os professores e define a carreira é, neste momento, uma manta de retalhos, seja de concursos, seja de trajectos na carreira. Negar isso é pura desonestidade intelectual… “falta de integridade”, digamos assim. Mas algo marca de forma indelével o trajecto de quem fez o seu trabalho nas escolas públicas nas últimas décadas e isso é o duplo congelamento sofrido, pelo meio de muitas humilhações por parte da classe política e muita opinião publicada, alguma como se fosse “informação”. A mágoa criada não é ultrapassável, mas ajudaria ter gente sem um duplo discurso e dupla cara no ministério. Gente com “integridade” reconhecida e que não a abandone, tipo lavagem cerebral, ao chegar ao cargo.

Por isso é que nem sequer me chega qualquer “perfil” anterior, se meses depois de estar no poder, passar a dizer que, afinal, as “condições são diferentes das que pensava” ou que surgiram imponderáveis maiores, interesses superiores e toda aquela tralha a que agora caiu em desuso qualificar como mentiras descaradas. Só depois de ver o que faz, no concreto, é que irei além de alguma vaga esperança seja em quem for. Num país que não sai da cepa torta, em que os espertalhões é que se safam, há “integridades” que desaparecem com a rapidez de qualquer tentação juvenil. Claro que há criaturas que pelo seu trajecto, já sabemos nem serem de confiar para nos emprestarem uma esferográfica e muito menos para lhes comprarmos um carro usado. Algumas dessas já se andam a “posicionar”. Infelizmente, não vejo ninguém com a tal “integridade” a fazer isso, até porque quem é “íntegro”, não se coloca em bicos de pés, à cata de um lugar nas listas, desta ou aquela cor, com absoluta falta de decoro.

Portanto, cortesia de um presidente que decidiu manter um governo demissionário em funções, na prática, por quase meio ano, ainda nos faltam mais de dois insuportáveis meses de coreografia eleitoralista, demagógia e populista, em diferentes variantes. Até a UTAO, dirigida por um antigo colaborador do governo do primeiro congelamento da carreira docente, está a ajudar à festa, ao declarar-se incompetente para analisar o estado de um apartamento (encargos com a recuperação do tempo de serviço dos professores) do edifício que avaliou há semanas (OE para 2024). O que – lá está – é uma falácia, que é forma actual de usar o termo como sinónimo de aldrabice.´Aldrabice que é também aquilo em que consiste a afirmação de que o “acelerador” está a permitir um número inaudito de progressões na carreira, quando nenhuma ainda aconteceu.

Enquanto esta falta de “integridade” for a marca d’água dos governantes, em particular na área da Educação, não há espaço para uma relação de confiança. Falta de integridade que se nota muito, agora que o “legado” do bestial ministro começa a ficar bem visível aos olhos de todos, mesmo aqueles que os querem manter fechados.