6ª Feira

Como já escrevi, no actual contexto de disputa política com muita demagogia e eleitoralismo à mistura, os resultados dos PISA 2022 servem para tudo e mais alguma coisa e o seu interesse para mim é relativo.

No entanto…

Em termos globais é impossível não reparar uma constatação óbvia que decorre do relatório: as políticas educativas mais inspiradas pelos ditames da OCDE falharam de forma estrondosa neste período muito marcado pelas migrações e pela pandemia. O que significa que os príncípios que os teóricos da OCDE mais prezam (inclusão, equidade) não foram cumpridos, pois uma coisa é enunciar e outra coisa implementar de forma lúcida e eficaz. Os resultado globais são muito claros, até por serem determinados a partir de parâmetros estabelecidos pela própria organização. A estagnação precede a pandemia e no caso da Matemática a estagnação já tem duas décadas. Globalmente, os alunos que começaram a escolaridade na primeira década do século XXI apresentam piores resultados do que as coortes anteriores.

Passando para Portugal a questão da “equidade” e do combate às desigualdades, que tão decisiva parece ser nos discursos políticos de boca cheia, é um caso de evidente de fracasso, pois o nosso país continua a estar bem abaixo da média da OCDE em matéria de disparidade socio-económica. Não apenas nos valores médios mas, como se pode verificar, pela distância entre o topo e a base desse estatuto. Reparem como a seta relativa a Portugal é mais longa do que as dos países mais próximos, demonstrando que o nível de desigualdade é maior. Algo que vem de fora para dentro. Algo que não é resolvido fora das escolas e depois se pretende que elas resolvam. Ou produzam resultados que deem a entender que estão a resolver.

Por cá, a permanência de um algo nível de desigualdade socio-económica nas famílias dos alunos tenta ser “cosmetizada” na escola, de modo a produzir “sucesso” a qualquer preço (burocrático, pedagógico, didáctico), embora a OCDE afirme que as políticas não devem ser desenvolvidas de molde a baixar os padrões de qualidade/desempenho, mas sim a conseguir o melhor de todos:

Por cá, salno na corte costista mais zelota, sabemos que o que se tem passado não é isso. Aliás, os prórpios dados da OCDE, que decidiu escolher o sonso ministro para dirigir um dos seus departamentos, revelam que as políticas nacionais, alegadamente determinadas por preocupações “socio-económicas” coincidem com desempenhos abaixo da média, a par de países como a Mongólia, o Brunei ou a Malásia, enquanto países que optaram por políticas “mistas” e menos limitadas na sua natureza se destacam nos resultados (República Checa, Eslováquia, Bélgica, Suíça, Áustria, etc, até a Roménia ou a França, para ficar apenas pela UE).

Qualquer observador com um mínimo de bom senso percebe o que isto significa: que na ausência de políicas económicas e sociais eficazes, se deslocou para as escolas a responsabilidade por resolver desigualdades que lhe são exógenas. E que isso pode estar a correr bem em termos de estatísticas internas, mas colapsa quando são feitas análises comparativas internacionais. E que isso não é de agora, pois a estagnação e declínio remonta aos alunos da tal geração que iniciou a escolaridade depois de 2005.

Coincidências que os bons resultados dos primeiros ciclos do PISA do século XXI, com alunos que tinham entrado na escolaridade desde meados dos anos 90 do século XX, ajudaram a fazer análises de tipo “instantâneo”, como se o desempenho académico não resultasse de um trajecto de média-longa duração.

O que nos resta é uma Educação que se afirma “inclusiva”, mas que está abaixo da média em termos de justiça socio-económica. O que, em meu curto entendimento de professor muito básico, sigifica que se fala muito para dentro da escola, mas se faz muito pouco fora dela.

5 opiniões sobre “6ª Feira

  1. Há ainda a agenda da digitalização, onde na verdade cabe tudo, da deriva maiata à inclusão ubuntu. Desde a avaliação em modo escolha múltipla e correção automática, ao feedback mal amanhado, ao controle omnipresente de registos ao grelhometro colaborativo, é só escolher. O que fica para trás são as práticas pedagógicas e o efetivo trabalhos para/com os alunos.

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  2. A minha intuição já advinhava esta situação. Ficou claro que tentar fazer uma escola inclusiva baixando o nível de exigência teve estas graves consequências. Nivelou tudo por baixo. Se a classe média não estivesse com problemas sérios de rendimentos o resultado seria a fuga em massa para o ensino privado.No meu microcosmos, onde leciono numa escola de classe média, a loucura de uma direção e seus cúmplices em relação à abelha distopica atirou a escola para medias de exame na Matemática bem abaixo de outras escolas com alunos mais desfavorecidos.
    A nível do 3 ciclo e do ensino secundário as futuras aprendizagens essenciais a Matemática com programas pouco exigentes irão atirar os resultados para o fundo do poço em termos de futuras estudos internacionais.
    SALVEM A ESCOLA PÚBLICA PLEASE.

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    1. Se puderes, faz como eu: licença sem vencimento por tempo indeterminado

      Vive-se franciscanamente, mas em paz!

      Mário Rui Simões Rodrigues.

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  3. Ficou apenas a faltar uma menção ao vetor digitalização. Tem empobrecido as relações humanas, prejudicado a leitura e a escrita, aumentado a burocracia, colocado novos encargos/desafios à escola, em suma, tem sido um elemento distrator mais do que facilitador, empobrecendo a avaliação e retirando significado a muitos procedimentos sem nos conferir tempo para o trabalho para/com os alunos.

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  4. A aposta tem de ser na formação dos professores.
    Aliás,
    verdade seja dita,
    as últimas decisões do ministro Costa relativas à habilitação para a docência vão exatamente no sentido de uma maior exigência na formação dos professores, em todas as dimensões.
    É,
    de facto,
    o nosso melhor ministro da educação do pós 25 de Abril.

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