A Jovem Greta

Não é assunto que me tenha prendido muito, pelo que acho todo o hype em torno da jovem Gerta Thunberg bastante despropositado, quer dos seus indefectíveis, quer dos que parecem abominá-la.

Há coisas que são apenas o que são e há gente adulta que parece oscilar entre a nostalgia do que não foi em jovem e uma espécie de horror a qualquer coisa que pareça diferente. Em tudo isto, a questão das alterações climáticas ganha em marketing e difusão, mas perde em credibilidade, mas parece que agora é mesmo assim, mais vale parecer.

Eu vou tentar resumir o que penso de um assunto que teve a vantagem de, pelo menos, colocar grande parte da sociedade a não se aborrecer com greves nas escolas à 6ª feira (mas agora já só ao fim da tarde, porque não há nada como uma rebeldia jovem responsável).

  • Aos apoiantes acérrimos da jovem Greta eu gostaria de dizer que me parece indesmentível que ela, por si só, sem uma máquina a promovê-la e a todos os seus passos, pouco ou nada teria conseguido fazer fora de Estocolmo para além de se colocar com um cartaz às portas do Parlamento sueco. Uma qualquer Ana ou Sofia tentem fazer isso com um cartaz em São Bento contra a mutilação genital feminina (uma causa que me parece insuspeita em termos “corporativos”) e verão que a coisa dura pouco. Porque são necessários Bonos, Gates ou Carters para coisas tão simples como espalhar a vacinação em África ou meios básico para o mero acesso a água potável. Isso não retira nenhuma justiça à sua causa (à qual sou muito sensível), mas coloca alguns limites à ingenuidade (pretensa?) de quem acha que foi a jovem adolescente que colocou o mundo em movimento. Realmente, por vezes penso que há quem não tenha ainda resolvido a sua própria adolescência.
  • Aos seus críticos mais enraivecidos critico especialmente o facto de aproveitarem, em parte da sua argumentação, de um modo que acho pouco aceitável, as peculiaridades de uma miúda que tem diversos problemas de ordem psicológica ou mesmo neurológica que potenciam expressões faciais menos “normais”. É descer um bocado, estar sempre a ilustrar as críticas às suas posições com fotos em que ela aparece com esgares menos “agradáveis”. Não é apenas uma questão de sensibilidade, é algo que denuncia alguma fraqueza na posição exposta. Denunciem apoios políticos ou económicos que achem menos transparentes, mas tentem manter algum nível na coisa. Está ela a ser instrumentalizada? É muito possível, como escrevi acima, mas o vosso problema é com a “causa” (negam as alterações climáticas?) ou com a pessoa (por ela ser “diferente”)?
  • Para terminar… os paralelismos com a jovem Malala têm alguma razão de ser (a idade, a projecção mediática), pois ambas beneficiam da boa vontade e afazeres de grupos de influência importantes; sem o interesse ocidental em arranjar um rosto “limpo” para atacar os talibãs, talvez Malala estivesse já esquecida há muito ou, no pior cenário, morta na sequência do atentado que sofreu. Mas, por outro lado, a causa maior de Malala é mais pacífica na sociedade ocidental, não provocando tantas clivagens ou a oposição de interesses económicos instalados. Nesse aspecto, Greta é mais “fracturante” pois coloca em causa aspectos do modelo de desenvolvimento das sociedades/economias ocidentais e não o distante fundamentalismo barbudo de um grupo de facínoras. Por isso, colocar fotos lado a lado da plácida Malala e da agreste Greta é falhar qualquer coisa essencial.

sick-planet

(ia-me esquecendo… as minhas aulas de 6º ano de Português começam com a leitura da biografia da Malala, combinando com o texto de abertura do manual, e em Cidadania transversalizo a questão com os Direitos Humanos e à Educação, portanto… nada contra daqui a uns anos ver se farei o mesmo com a Greta…)

14 opiniões sobre “A Jovem Greta

  1. Trata-se da célebre falácia do ataque ao homem. Ou seja, há que distinguir os argumentos, da pessoa ou das suas condições e caraterísticas. É isso que tem acontecido com o ataque soes que tem sido feito à Greta!

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  2. Eu vejo lobbies bem piores “atrás” da trumpalhada generalizada e menos pessoas preocupadas com isso. Por isso, força, Greta!

    Os argumentos ad hominem que ouço contra a miúda é que me parecem desproporcionais e irracionais.

    Mas é ironico ter que ser uma miúda de 16 anos a pôr na agenda mundial um assunto que a ciência anda há anos a tentar fazer ineficazmente…oxalá ainda tenhamos tempo de fazer alguma coisa para remediar. Cada vez tenho mais duvidas

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  3. Paulo Guinote, deixo a seguinte sugestão de leitura sobre o tema em questão (são textos longos, mas aparentemente valem a pena):

    http://www.theartofannihilation.com/the-manufacturing-of-greta-thunberg-for-consent-the-political-economy-of-the-non-profit-industrial-complex/

    É uma tentativa de fundamentadamente desmascarar a máquina por detrás da Greta e de outras situações que tais. Se a fundamentação é correcta, não sei, mas a leitura é muito muito muito interessante…

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  4. “António Costa foi ao hospital “com dores musculares” durante a noite

    Primeiro-ministro foi proibido de fazer campanha de rua pelo médico que o observou, depois do comício em Viana do Castelo. ”

    Saiu de cena… até passarem as dores…

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