Sobre A Questão Dos Professores, Só O Mirtilo Não Se Compromete

Penso que nunca vos expliquei porque acho que a Iniciativa Liberal são para mim, numa visão dos partidos como frutos, os “mirtilos”.

Porquê?

Porque estão na moda, porque em regra são algo azulados, se diz que têm imensas qualidades, mas cujo cultivo intensivo é razoavelmente danoso para o ambiente, devido aos recursos que consome, para além de serem caros para os consumidores. Também se dão muito melhor em “ambientes protegidos” como estufas. Ao ar livre, parece que rendem menos.

Em termos poíticos, a sua desafeição pela questão dos professores, nomeadamente do ensino público, até pode dar jeito a outros (laranjas, na visão mais tradicional), em caso de aliança para a formação de governo.

5 – PROFESSORES

Que resposta vai dar aos professores que pedem a recuperação do tempo de serviço: seis anos, seis meses e 23 dias?

A Manhã Político-Informativa Está Ao Rubro

Discutem-se as questões essencciais para o país em horário distendido, sem interrupções, más-criações ou atropelos e gritarias. A Cristina parece claramente seduzida pelo Nuno (como ele é conhecido na família, foi-nos assegurado), embora a Diana pareça um puquito entediada com o Paulo, mas é uma profissional e lá esboça uns sorrisos.

Isto nem é bem infotainment, mas escuso-me de sugerir outras designações.

Raios… e eu que tinha ligado só para ver os resumos da NBA.

6ª Feira

Entre nós, o debate de questões importantes em matéria de Educação, raramente se faz de forma informada ou transparente, preferindose micro-questões ao nível das casas de banho ou similares. A questão da reformulação dos ciclos de eescolaridade é uma questão importante e deveria ser tratada como tal, preparando-se devidamente uma eventual mudança do que existe sem ser no modo “onde é que dá mais jeito um aeroporto em termos de receita prós municípios amigos e eventuais expropriações de terrenos jeitosos”, sucedendo-se estudos disto ou daquilo, que levam umas belas verbas para, a um ritmo acelerado, estudarem o mesmo, mas com conclusões diferentes ou ambíguas previamente contratualizadas.

Mas vamos lá á questão do 2º ciclo e a algumas considerações sobre o modo como a sua extição/fusão com outros ciclos de escolaridade deveria ser encarada.

Em primeiro lugar, se a ideia é estender o pré-escolar, não me parece que a melhor opção seja acoplar ainda mais dois anos ao 1º ciclo. Se na Europa a “regra” é um primeiro ciclo de seis anos? Acredito, mas há muita coisa padronizada que nem sempre é a melhor e seria interessante ver porque foi feita essa opção, quando, em que contextos e com que objectivos, para além dos explícitos. Já várias vezes escrevi que preferiria três ciclos com uma estrutura de 4+5+3 ou mesmo de 4+4+4. Mas não sou fundamentalista e, confesso, cada vez isso me preocupa menos.

Já algo que me chateia é ler, ouvir ou ver alegados “especialistas” a dissertar sobre a cabeça do alfinete, sem sequer terem ideia daquilo para que serve um alfinete na ordem cósmica das coisas. Ou a mentir (se são “especialistas” não se pode dizer que ignoram os factos, certo?) sobre matéria que é fácil demonstrar, a menos que tenhamos despejado uns copitos no depósito durante o almoço e outros a acompanhar o jantar.

A mais óbvia é a da passagem de um 1º ciclo com 1 professor para um 2º ciclo com 10 ou 12, como já li e ouvi muitas vezes. Já vamos à parte do “trauma” nas criancinhas que só mesmo uma união da geração dos pedagogos patchouly com a dos papás milenares pode explicar.

A petizada já não tem apenas um professor@ no 1º ciclo, apesar da monodocência. Já existe o Inglês, a Educação Física e não apenas as AEC para eles terem mudanças n@s “professor@s”. Isto nas escolas públicas que nas privadas pode ser bem mais sortida a “oferta”.

No 2º ciclo organizado com alguma lógica, os alunos terão 6-7 docentes, se a turma tiver alunos com Educação Moral e Religiosa. As contas são simples e posso partir de experiências não apenas pessoais:Português/Inglês, 1 docente; HGP/CD, 1 docente; Matemática/Ciências, 1 docente; Educ. Visual/Educ. Tecnológica, 1 docente, Educação Musical, 1 docente; Educação Física, 1 docente. A Formação Pessoal Social é atribuída a quem for DT, não acrescenta mais ninguém. Se conseguirem fazer esta complicada soma, encontrarão 6 (seis) docentes e não o dobro.

Outra coisa é o número de elementos de um Conselho de Turma completo, se tivermos em conta a Educação Especial, os serviços de Psicologia, se a turma tem PLNM (mas nesse caso, quem a tem, não tem Português e fica tudo na mesma) ou se existem alguns apoios específicos, individuais ou de pequeno grupo, com docentes diferentes dos “regulares”. Mas a turma em si, pode ter aulas com apenas 6 docentes. Outra coisa, poderá resultar de uma gestão diferente dos recursos humanos, mas serão excepções excepcionais, os casos de turmas com uma dezena de docentes. Qualquer verdadeiro “especialista” deveria saber isto. Ou não mentir. Mais ou menos conversa pastosa.

Se ainda não perceberam, no nosso actual contexto (em que dizem que, depois de subirem bastante, os resultados desceram com a média da OCDE, pelo que é incoerente dizer que a nossa organização de ciclos prejudica os alunos), o que está em causa num ciclo de escolaridade de 6 anos com um@ professor@ “polivalente” (há 15 anos, chamavam-lhe “generalista”, mas agora já se aceita isso praticamente para qualquer disciplina) não é o interesse dos alunos mas o 1 (um@) docente para seis anos de escolaridade. Porque, mesmo no cenário de 6 professores a leccionar uma turma, isso significa uma poupança do caraças (mais de 80%) em recursos humanos. Se o cenário fosse mesmo de 8-10 professores, ainda seria maior (a rondar os 90%).

Se a isso se juntar a ideia de agregar no 3º ciclo várias disciplinas em “áreas” (e não estranhem se vierem logo com exemplos escandinavos na ponta da língua, sem explicar no que têm fracassado), já perceberam bem o que está mesmo em causa: “emagrecer” de forma dramática a necessidade de docentes, mesmo se isso signifique que o Ensino Básico se torna apenas “Básico”.

O interesse dos alunos?

Sim… entendi-te!

E reparem que nem comecei a escrever sobre a rede escolar e as características dos edifícios que temos para albergar os alunos que, afinal, não estão a diminuir como se dizia há uns anos, porque os “especialistas” previram tendências de natalidade, mas esqueceram-se das outras variáveis demográficas. Como tive uma cadeira de Demografia Histórica há muitos anos, não sendo “especialista”, ainda sei que a evolução da população não se resume ao saldo natural/fisiológico. Certo… claro, há sempre coisas imprevisíveis… mas não é para isso que precisamos de “especialistas”? Para o óbvio já temos o pessoal das esplanadas e de certos grupos de redes sociais.

Acabem com o 2º ciclo, mas, por favor, mintam menos. Ou sejam menos ignorantes. Especializem-se menos 😉 .

A questão do “trauma” infantil, na transição de ciclos pode ficar para depois, demosntrando com números que o problema, numa tendência longa, não tem estado na passagem do 4º para o 5º ano.