Quase Todos Perderam, Mas Todos Perdemos

As peripécias ridículas que antecederam e marcaram a sessão da tarde, hoje, no Parlamento, apenas serviram para apoucar mais Democracia que ainda temos e para revelar a pequenez e mesquinhez de alguns dos “actores” em presença, que são representantes de um eleitorado que tem, em parte, aquilo que pediu.

Montenegro sai, desde já, aind mais fragilizado do que já estava porque, mesmo que Aguiar Branco (que se recandidata, depois de dizer que não se recandidatava) seja eleito para presidente da Assembleia da República, pois ficou bem à vista que não passa de um refém. Pior ainda se ajudar a eleger para a vice presidência alguém que ajudou a entalá-lo.

Ventura revelou mais uma vez que o que pretende é lugares à mesa do “sistema” e que não recuará na chantagem sobre a AD e Montenegro. O seu apelo “anti-sistémico” é apenas um oportunismo no caminho para que partilhem o poder com ele.

O PS talvez pense nada ter perdido e ainda ter ganho a séria possibilidade de conseguir eleger Francisco Assis para a presidência do Parlamento, numa segunda volta em que o Chega se abstenha.

Mas nesse caso, perderemos todos nós, mesmo que algumas “esquerdas” possam rejubilar com a manobra. Mas é bom lembrar que, se Montenegro foi líder parlamentar de Passos Coelho, Assis foi de Sócrates.

A verdade é que de desnível em desnível, vamos sempre descobrindo que cada nova fornada é pior do que anterior.

3ª Feira

Abrem hoje os trabalhos de um Parlamento relativamente transfigurado. Já não é original chamar-se a atenção para os gacto de nos 50 anos do 25 de Abril irem tomar posse 50 deputados de um partido que muitos dizem querer voltar ao 24 de Abril, numa análise por vezes demasiado simplista das coisas. Por exemplo, será que em 1985, não haveria, pelo menos, 11 deputados que não se importariam de viver no sistema anterior à revolução? Ou mesmo em 1995, não haveriam uns 21, nos 21 anos de Abril? E por adiante?

O “problema” é que antes estavam espalhados por 2 ou 3 grupos parlamentares, não necessariamente organizados e agora estão em forma de milícia sob um comando central. Obedecendo a um líder que já disse que o demitissem se mendigasse uma aliança para entrar no governo e apenas um punhado de anos depois faz isso mesmo, com ar de santo, dizendo que é em nome da “estabilidade” de um “sistema” de que fez profissão de fé combater. Nota-se a felicidade de quem sente que pode vir a ter um lugar de destaque na nomenklatura de uma democracia que grita estar doente. Será em nome de uma regeneração ou apenas ao serviço de vaidade pessoal ou de grupo?

“O PSD disse que vai viabilizar a nomeação do Chega para vice da Assembleia da República, secretário e vice-secretário da Assembleia da República. O Chega viabilizará a proposta da AD para a Presidência do Parlamento”, disse confirmando um acordo entre o partido vencedor das eleições e o Chega. Cinco anos depois de ter sido formado, o Chega irá chegar à mesa da Assembleia da República (AR). Face ao resultado das eleições legislativas que elegeram 50 deputados ao partido de André Ventura, há agora a oportunidade de entrar em órgãos que até aqui apenas tinham tido elementos de partidos do espetro democrático.

A entrada do Chega para um governo e de elementos seus para lugares-chave do aparelho de Estado tem muito de satisfação narcísica (o que acontece em qualuer quadrante político), mas muito mais de acesso a informação e ao conhecimento de alguns meandros do funcionamento concreto do tal “sistema”, que não querem desmontar, mas apenas usar como outros têm usado. São apenas mais do mesmo? Sim e não. É verdade que chegaram muito depressa a lugares de que outros “radicais” estiveram excluídos muito tempo e que, quando chegaram, já foi em modo de razoável domesticação. Est@s aparecem com o ímpeto da “juventude” destravada e arrogante. E isso pode ser um problema para muita gente,a começar por aqueles que eles gostariam de excluir. Mas, por outro lado, não deverá levar muito tempo a perceber-se que o essencial é quererem uma fatia grande do “bolo” dos favores orçamentais. Uma fatia bem maior do que aquela que dizem querer dar a polícias e outros alvos das suas promessas.