Sobre O Texto Do DN…

… um colega enviou-me um reparo, bastante lógico, que vou aqui reproduzir (penso que ele não terá reservas em relação a isso, até porque não vou colocar o nome, sem ele me dar o ok), bem como o diálogo que se seguiu, porque me parece que – havendo razão no que ele me refere – talvez não exista bem a noção de que aquilo de que falo já existe por aí, era a inspiração de “outros”, mas que “estes” não desprezam.

Olá, Paulo. Li o teu texto acerca da junção dos 2 ciclos iniciais do ensino básico e, tanto quanto percebo, há ali um problema aritmético.

Refiro-me à seguinte passagem: «Se os leitores ainda não perceberam, no nosso actual contexto, o que está em causa num ciclo de escolaridade de 6 anos com um@ professor@ “polivalente” não é o interesse dos alunos, mas o 1 (um@) docente para seis anos de escolaridade. Porque, mesmo no cenário de 6 professores a leccionar uma turma, isso significa uma poupança de mais de 80% em recursos humanos.»

Ora, se tivermos um sistema de monodocência, 6 turmas têm 6 docentes. Se, diferentemente, tivermos docentes disciplinares, cada docente assegura várias turmas (o número de turmas depende da carga horária da disciplina no currículo de cada turma). Podemos então ter o caso de 6 docentes assegurarem o serviço de 6 turmas. Ou seja, numa tal situação teríamos saldo zero. Assim, a ideia de que esta proposta vem trazer 80% de poupança com professores seria falsa.

Não discuto a questão em termos substanciais, pois não me sinto habilitado. Mas, como tu, entendo que ela deve ser discutida nesses termos. Tendo em conta o que sei, concordo contigo que não é ali que está o problema do ensino. Mas… discuta-se (substancialmente) o problema e, para isso, chegue-se à frente quem (por experiência ou por investigação académica) sabe do assunto.

Ao que respondi:

Olá… Compreendo o que dizes, mas a verdade é que tudo depende da carga horária de cada disciplina… Até porque a carga horária lectiva do primeiro ciclo é inferior à do segundo.. O que significa que ao unir a 1º ao 2º, isso levaria à redução adicional da necessidade de horários…mas eu vou voltar ao assunto no blogue.

Aplicando à minha escola… 11 turmas do 2º ciclo necessitariam de 11 professores… Ora… Somos mais de 30…

Ao que ele respondeu:

11 turmas igual a 11 professores: isso apenas se cada turma só tiver um professor, o que seria um absurdo. Um prof que lecionasse EF, EV, Ing, Mat, Ciências, Port, História e Geog, etc.? Parece demasiado…mas, claro, depende da regulamentação.

Ao que eu repliquei… até com a experiência do filme que estive ontem a ver:

Espreita as propostas que andam por aí… Sim, eu sei que é ridiculo… Mas estive este domingo a ver o filme A Sala de Professores, alemão, onde a lógica eu mesmo essa… A prof de Matemática é a mesma de EF…

Posso acrescentar que a professora do filme também abordava conteúdos de Ciências com a “sua” turma e alguns que agora até acho que andam pelo Geografia de 3º ciclo, como os eclipses. E a “sala de professores” de uma escola que era bem grandinha, mostrava-se algo minguada de pessoal docente, embora, claro, se trate de um filme. Serviços administrativos com duas pessoas e direcção unipessoal, mesmo.

O “problema” (que para alguns não é, caso do pessoal da IL, de certos “especialistas” da AD e da facção maiata e “domingueira” do PS) é que isto tudo permite poupar na Educação muito dinheiro. E desde que sobre dinheiro para outros negócios, a lógica é a do “corte-se”. Ou “privatize-se, como o Arroja filho assume sem grandes problemas, desenterrando o casal Friedman do descanso, mais ou menos merecido.

A frente que defende, abertamente ou às escondidas, este tipo de medidas é muito alargada e acreditem que só estão mesmo à espera que a malta que nasceu pelos anos 60 e começou a dar aulas pelos anos 80 se vá embora, para caçar o resto que nem tordos em campo desmatado.

Sim, poderei ter dramatizado na ordem de grandeza das “poupanças”, mas olhem que me parece que terei ficado na margem de erro de qualquer sondagem bem paga.

Já agora, apenas como complemento, fica aqui o quadro sobre o insucesso escolar que serviu de base à parte final do artigo.

2ª Feira

Entre nós, o debate de questões importantes em matéria de Educação, raramente se faz de forma informada ou transparente. A questão da reformulação dos ciclos de escolaridade, relançada pelo Conselho Nacional de Educação, é uma questão importante e deveria ser tratada como tal, preparando-se uma eventual mudança do que existe sem ser no modo “na Europa é assim e devemos fazer igual”.